Metade das mulheres brasileiras já sofreram algum tipo de violência doméstica ao longo de suas vidas, mas parte delas ainda não se reconhece exatamente como vítima. O dado faz parte da primeira atualização do Mapa Nacional da Violência de Gênero, projeto de parceria entre o Observatório da Mulher Contra a Violência (OMV) e o DataSenado, ambos do Senado Federal, o Instituto Avon e a Gênero e Número.
Durante o lançamento internacional, promovido pela Pacto Global da ONU, nesta quinta-feira (14), a Beatriz Accioly, Coordenadora de Parcerias, Políticas Públicas e Relações Institucionais, Instituto Avon, abordou a importância de combater a violência doméstica, mas pontuou uma preocupação em relação às políticas de transferência de renda para as vítimas, com base em outros dados levantados.
Notícias Relacionadas
Netflix anuncia documentário sobre trajetória de Mike Tyson
ONU lança Segunda Década Internacional de Afrodescendentes com foco em justiça e igualdade
“Muitas situações de transferência de renda, como o caso do Bolsa Família no início, aumentam a violência doméstica. Você dá um dinheiro na mão da mulher e ela vive uma situação violenta porque ele retira o dinheiro dela a partir da violência. Aconteceu a mesma coisa com o Auxílio Emergencial durante a pandemia”, explicou, durante a 68ª Sessão da Comissão da ONU sobre a Situação das Mulheres (CSW), em Nova York.
“A gente precisa reconhecer que a violência contra a mulher acontece por uma série de questões relacionadas à desigualdade. E aí a gente fala para as mulheres: ‘está sofrendo violência? Vai trabalhar’. Aí ela vai trabalhar e ela vai para uma situação onde ela reconhece que sofreu algum tipo de assédio moral ou sexual. Então ela sai de uma violência para outra. A gente já escutou de várias mulheres com quem a gente trabalha: ‘eu prefiro sofrer violência em casa de uma pessoa que eu gosto, do que uma violência na rua de uma pessoa que eu não conheço’”, lamentou a coordenadora.
De acordo com o levantamento inédito, 48% das brasileiras ouvidas já passaram por alguma situação de violência doméstica e familiar. Do total das mais de 20 mil mulheres brasileiras entrevistadas, 30% reconheceram a violência vivida e a nomearam como tal. No entanto, 18% ainda não se identificam espontaneamente como vítimas, porém, quando foram apresentadas a situações específicas de violência doméstica, admitiram ter passado por elas – dado que indica que o número de brasileiras que sofrem violações é muito maior do que os registros oficiais.
Apesar da incidência de violência doméstica ocorrer de maneira relativamente uniforme em todo o território nacional, a pesquisa também identificou que estados da região Norte do Brasil, como Amazonas (57%), Amapá (56%), Rondônia (55%) e Acre (54%), atingem patamares ainda maiores do que os índices nacionais. A região Sudeste também chama atenção com Rio de Janeiro e Minas Gerais, ambos com 53%,
Na ocasião, Beatriz Accioly ainda aproveitou para defender a importância de levantamento de dados como esse. “O mapa hoje é um exemplo do que a gente consegue fazer enquanto empresa e enquanto setor público para contribuir com a Agenda de Acesso aos Direitos do Brasil, que inclusive é a missão do Pacto Global. A gente acredita que o mapa é uma ferramenta nessa direção, é um meio para a gente alcançar a cidadania, uma gestão pública de qualidade, transparência, de uma alocação de recursos eficiente. E ele é um meio para democracia”.
Lançado em novembro de 2023, o Mapa Nacional da Violência de Gênero é uma plataforma interativa que reúne os principais dados nacionais públicos e indicadores de violência contra as mulheres do Brasil, incluindo a Pesquisa Nacional de Violência contra as Mulheres – a mais longa série de estudos sobre o tema no país. Dos dias 21 de agosto a 25 de setembro de 2023, 21.787 mulheres de 16 anos ou mais foram entrevistadas por telefone, em amostra representativa da opinião da população feminina brasileira.
Esta é a primeira vez, desde 2005, que a Pesquisa Nacional de Violência contra a Mulher apresenta recortes estaduais, possibilitando uma análise mais aprofundada do cenário de diferentes territórios do país.
Notícias Recentes
FOTO 3X4: HUD BURK - Cantora
‘O Auto da Compadecida 2’: Um presente de Natal para os fãs, com a essência do clássico nos cinemas