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É mais comum do que a gente imagina, o caso de Ndeye Fatou Ndiaye, que foi vítima de agressões racistas, feitas pelos alunos do Colégio Franco-Brasileiro, onde estuda, não foi o primeiro que tive notícia e, infelizmente, acredito que não será o último. Em todos eles há a semelhanças nas práticas: alunos de uma determinada escola criam grupos de conversa dentro de aplicativos de mensagens e iniciam, à partir dali, diversas agressões racistas contra alunos negros que não fazem parte do grupo.
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Essa prática tem um componente muito particular que é a sensação de privacidade que as crianças adquirem dentro desses espaços. Ali dentro, eles se expressam da forma mais perversa possível porque acreditam que nunca serão descobertos.
As práticas, muitas vezes extrapolam o que acontece dentro do grupo e vão para o cotidiano. Como também, atividades do cotidiano alimentam as conversas dentro do grupo, fazendo crescer as ações e conversas via mensagens. Eu acredito que o mais triste dentro dessa dinâmica é a cumplicidade entre os jovens, é comum que todos participem e contribuam com os comentários, e quando não o fazem, colaboram rindo, para que aquele processo de agressão racista continue.
Desastres desses processos
A criança negra, em alguns casos desconfia que está sendo alvo de racismo pelos colegas e comunica aos professores, coordenadores e diretores; mas como não tem provas, a crianças é desacreditada. Aqui começa o meu alerta para as escolas: não minimizem uma denúncia de racismo vinda de uma criança negra. Se ela está verbalizando um incômodo, ela precisou passar por várias camadas de constrangimento para expor a situação.
O caso, muitas vezes vem à tona quando uma das crianças do grupo, começa a ficar incomodada com a proporção que a “brincadeira” tem tomado e resolve parar de participar daquilo. Os principais agressores vão coagi-lo para continuar, mas ao tomar consciência de que aquilo está errado, e em uma tentativa desesperada de não levar a culpa, essa criança pode ter algumas atitudes:
Relatar aos pais o ocorrido;
Relatar à escola o que está acontecendo;
Mas, na maioria das vezes, a criança envia por meio do mesmo aplicativo de mensagem TODAS as agressões para a vítima, prevendo uma possibilidade de se desculpar e se livrar daquilo.
Agora, imaginem como fica a vítima, a criança – que esse tempo todo estava desconfiada das agressões – ao receber TODOS os comentários, fotos, vídeos, áudios, desenhos. É devastador.
Desdobramentos
Como o racismo se trata de crime, todo mundo passa a querer se livrar das acusações. Os alunos dizem que só riram no grupo e não agrediram. Os que produziram o conteúdo, dizem que não sabiam que era grave. Os pais das crianças dizem que foi só brincadeira de crianças. Os professores dizem que não ocorreu na aula deles e a escola, por sua vez, diz que não foi algo de responsabilidade da escola, já que aconteceu no aplicativo de mensagens, que ela não tem controle, ou seja, não foi dentro das dependências da escola, a escola não tem controle sobre isso…
Em todas essas omissões, NINGUÉM PENSA NA VÍTIMA, todos agem para se livrarem da culpa.
Isso tudo o que eu estou relatando, eu não imaginei, aconteceu, eu vivenciei com uma de minhas crianças pretas, e não foi só uma vez.
Para os pais pretos
A maior parte da comunicação que eu faço para pais pretos é para que quando cheguem nesse momento eles tenham forças para agir, porque, tudo isso é muito desgastante e você vai ter vontade de chorar muito, com medo de tudo que está por vir, e essa dor é por saber que nada será feito de efetivo para curar aquela ferida imensa que abriram no coração da sua criança preta. Esse conteúdo, (clique aqui) pode ajudar nas ações para evitar que esse tipo de situação aconteça.
Vamos lá, respira fundo. Primeiro, se isso acontecer com as crianças, saiba que estou de braços abertos para você. Conte comigo. Segundo, você vai ter que se indispor com muita gente. Acredite, todo mundo que quer se omitir tem culpa.
As crianças que cometeram as agressões são AGRESSORES, são criminosos, cometeram um crime.
Os pais são cumplices, pois não ensinaram educação antirracista para as crianças. Por isso, o meu esforço para incentivar os pais brancos a terem consciência e promoverem ações.
A escola tem total culpa, pois permitiu que isso acontecesse, não promoveu ações de conscientização sobre o racismo, já que esse é um problema social e que pode vir a acontecer dentro da escola. Além de não ter um protocola para tratativa desses casos.
Os pais da vítima precisarão, fazer boletim de ocorrência culpabilizando as crianças e os pais. Denunciar o ocorrido ao conselho tutelar e a diretoria de ensino do município ou região. Caso o emocional da criança permita, escancarar isso na mídia e cobrar punições para os criminosos.
Quando isso acontece, fica insustentável que a vítima continue convivendo com os agressores. Qualquer risada em sala de aula, ela vai achar que é com ela. É preciso cobrar da escola ações eficazes de educação, conscientização que envolve toda a escola, não só o grupo envolvido, ou a sala. Todos professores, coordenadores, diretores, funcionários e pais precisam agir para erradicar o problema.
A criança preta precisa entender que ela é a vítima e que todas os desdobramentos do caso, não são culpa dela. Ela precisa enxergar que foi feito justiça, que houve consequência, para que ela não naturalize essas agressões.
Para os demais
Pais brancos, se unam à essa família para poder dar encaminhamento à questão, cobrar ações e punir os envolvidos.
Escola, se responsabilize, crie ações de conscientização, de preferência, antes do problema acontecer. Puna os responsáveis. No caso do Colégio Franco-Brasileiro, os alunos foram afastados.
Autoridades responsáveis, cobrem ações das escolas.
As sequelas que ficam desse tipo de trauma são inimagináveis para quem os viveu. Trabalhem para que isso não aconteça.
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