Nesta tarde de quinta-feira (8), o mundo recebeu a notícia do falecimento de Elizabeth II, a rainha do Reino Unido. Em entrevista ao Mundo Negro, o autor, roteirista e ativista Ale Santos comentou sobre a perpetuação do racismo e das violências contra pessoas negras e de países africanos, promovidos pelo reinado a monarca.
“A rainha Elizabeth II nunca se posicionou contra. É como se toda a coroa do passado não tivesse ligada à colonização e a a escravidão, ela finge que a coroa não não tem nada a ver com isso”, conta Ale. “Eu acho que ela queria realmente silenciar as pessoas que lembram da história, que lembram das consequências de toda a escravidão, as consequências que impactam a população negra. Talvez a forma de ignorar isso seja uma forma de não ter que lidar, não ter que compensar todo esse trauma que ela causou na sociedade”.
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Ale Santos também destaca a forma como a coroa britânica se manteve e se mantém insensível aos tópicos ligados ao racismo sistêmico na sociedade contemporânea. “Enquanto o mundo todo está discutindo, por exemplo, a questão de George Floyd, que foi uma ação que mobilizou todos os países do Ocidente, praticamente todos os países tiveram uma grande mobilização, tiveram manifestações no Brasil, vários líderes mundiais fizeram declarações sobre isso mas a Elizabeth fingiu que não, ela fingiu que dividia o outro mundo, vivendo ali num universo de fantasia branco onde está tudo bem, está tudo resolvido”, destacou o autor. “E esse é o é um problema que é extremamente sombrio porque isso mostra que enquanto eles silenciam as discussões que são importantes para o povo negro eles também estão ainda afastando o próprio povo negro e ter a sua cidadania e se reconhecer dentro da sua própria sociedade”.
Ale conta ainda sobre como o racismo é uma característica diretamente ligada às monarquias europeias. O autor relembra que foram os monarcas europeus que incentivaram e ajudaram a propagar os ideais de supremacia branca. “Afirmo também que foram os monarcas que incentivaram e patrocinaram a escravidão. E sendo a monarquia uma linha de sucessão, só pode acontecer dentro da própria família, ou seja, é uma sucessão, é uma herança que vai sendo carregada por gerações e gerações e essas gerações futuras elas ainda estão ligadas com todos os privilégios criados da escravidão no passado”, destaca ele. “Não tem como eles não estarem conectados diretamente com aquele antepassado que era dono de não sei quantos escravos e que construiu todo o reino com base no sangue e no suor de pessoas negras africanas”.
O autor do livro ‘O Último Ancestral’ também critica a forma como a imprensa brasileira lida com a morte da monarca britânica. “O tamanho da repercussão que a imprensa brasileira dá para a monarquia britânica mostra que uma parte do país ainda deseja ser mais europeu do que brasileiro“, enfatiza ele. “Rainha Elizabeth não é relevante pro povo que tá nas periferias de São Paulo ou Rio de Janeiro, não é símbolo da nossa Amazônia, dos nossos intelectuais cearenses. Mas a imprensa insiste em massificar as notícias da Coroa enquanto nosso povo ainda precisa aprender o básico da nossa própria história”.
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