Conheça o Reino do Bailundo, um dos mais poderosos reinos Ovimbundu de onde veio “um dos povos da África Central que ajudaram a construir os quilombos no Brasil”

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Conheça o Reino do Bailundo, um dos mais poderosos reinos Ovimbundu de onde veio “um dos povos da África Central que ajudaram a construir os quilombos no Brasil”

O Brasil está recebendo a visita do Rei Tchongolola Tchongonga Ekuikui VI, que veio de Angola com a missão de estreitar os laços culturais entre os dois países. O soberano pertence ao maior grupo étnico do país africano, os Ovimbundos, formado por quase 13 milhões de pessoas, também conhecido como Reino do Bailundo.

Para o Mundo Negro, o historiador Carlos Machado (Gyasi Kweisi Mpfume), falou sobre a origem do reino angolano, de onde foram trazidos muitos dos nossos ancestrais: “O Reino do Bailundo também conhecido como Bailundu, Mbailundu ou Mbalundu é um reino ovimbundu angolano baseado na atual província do Huambo, no planalto central de Angola, um país da África Central. Foi um dos maiores e mais poderosos reinos Ovimbundu (uma das etnias que compõem Angola). Historiadores afirmam que o reino foi fundado no século 15, no entanto, histórias orais e evidências de arquivo sugerem que ele surgiu como uma entidade política por volta de 1700. O reino foi inicialmente chamado de Halavala. Sua origem está ligada ao Reino do Congo, assim como outros reinos que surgiram, a partir desse, no século 14”, contou ele.

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Na Angola existem cinco reinos independentes, porém, os reis não têm poder de Chefe de Estado, mas mantêm influência em assuntos específicos de seus povos: “O reino passou por várias fases na sua história, tanto como reino independente como estado vassalo do império português. Hoje, é uma monarquia não soberana dentro da República de Angola, e os seus governantes são considerados líderes comunitários e detêm influência significativa sobre assuntos locais”, disse Machado ao explicar como os reinados funcionam atualmente.

“O atual território do reino contém o município de Bailundo, bem como algumas áreas de municípios vizinhos como Mungo, Lounduimbale e Tchicalala. O papel oficialmente reconhecido da monarquia nestas áreas extensas é ambíguo e complexo; por exemplo, o Rei Ekuikui IV, para certas questões, lidou com quatro administrações municipais diferentes e quatro administradores municipais diferentes. No município do Bailundo, o rei é parte integrante da câmara municipal local. Os reis têm a tarefa de emitir sentenças num sistema judicial tradicional, muitas vezes relacionadas com questões como disputas de terras, abuso sexual, roubo e bruxaria”.

Quem são os Ovimbundu

A língua oficial falada pelos Ovimbundu é o Umbundu. Segundo Carlos Machado: “Os Ovimbundu, também conhecidos como Mbundu do Sul, são um grupo étnico Bantu que vive no Planalto do Bié, no centro de Angola e na faixa costeira a oeste destas terras altas. Sendo o maior grupo étnico de Angola, representam 38% da população do país. A esmagadora maioria dos Ovimbundu seguem o cristianismo, principalmente a Igreja Evangélica Congregacional de Angola (IECA), fundada por missionários estadunidenses e a Igreja Católica. No entanto, alguns ainda mantêm crenças e práticas das religiões tradicionais africanas.

Os Ovimbundu são um dos povos da África Central que ajudaram a construir os quilombos no Brasil, locais de liberdade na colônia portuguesa e posteriormente no Brasil independente escravista”. 

Quase três anos de reinado

Rei Tchongolola Tchongonga Ekuikui VI assumiu o papel de rei em 2021, em um sistema de sucessão que, de acordo com Carlos Machado, passou por alterações ao longo do tempo. “A legitimidade deriva de ter “sangue azul” ou descendência de reis anteriores. Em alguns casos, a sucessão era hereditária, com a coroa passando para o filho do rei. Chingui II, por exemplo, era filho de Chingui I. Em outros casos, a sucessão foi passada para os netos de um rei anterior, sendo Ekuikui V neto de Ekuikui IV, por exemplo. Em 2021, Tchongolola Tchongonga foi eleito rei por um conselho de anciãos e governantes dentro do reino. Tchongolola Tchongonga também é neto de Ekuikui IV.”, explicou.

“Ao longo da década de 1900, a sucessão no reino esteve sujeita à interferência de estranhos, como autoridades portuguesas e depois funcionários do governo angolano. Em 1982, por exemplo, Benjamin Pesela Tchongolola foi nomeado rei pelo comissário local, apesar de não ter linhagem real. Durante o período da Guerra Civil Angolana (1975-2002), o grupo rebelde UNITA também interferiu na escolha do governante do reino”, lembrou o historiador.

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