Sim. Chris Rock em seu monólogo de abertura da 88ª edição do Oscar, que aconteceu ontem em Los Angeles (EUA), falou sobre questões importantes como o racismo na indústria do cinema, a falta de oportunidades para negros e a violência policial. Assim como Lady Gaga foi aplaudida de pé ao levar a questão sobre assédio sexual ao palco da premiação, DiCarpio falou da questão ambiental durante o discurso do tão esperado do merecido Oscar de melhor ator e Sam Smith, sereno, mas engajado dedicou seu Oscar de canção original à comunidade LGBT.
A visibilidade do evento americano estimula muitos artistas a usarem o palco como plataforma para aumentar o alcance de questões sócio-políticas importantes. Faz parte da democracia, é honrável, mas não é novidade.
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No entanto, ontem à noite, a questão racial se fez presente majoritariamente em forma de piada. E ao contrário da maioria dos artigos escritos no Brasil não foram só os brancos que ficaram desconcertados. Foram três horas de piadas e indiretas sobre racismo, sem descanso.
Há quem dirá que não sou inteligente para não entender as ironias e genialidade de Rock, o que até pode ser verdade, mas mesmo assim eu indico assistir uns dos documentários mais certeiros sobre a questão da comédia e o politicamente correto: O Riso dos Outros. Salvando seu tempo, o documentário de Pedro Arantes que inclui depoimentos de Laerte e Jean Wyllys diz: o oprimido nunca deve ser o objeto de piada.
Não tem como discordar disso. Lady Gaga jamais faria uma piada sobre uma menina estuprada, Cate Blanchett jamais faria chacota sobre o salário das atrizes, mas Chris Rock fez sobre negros pendurados em árvores e sobre o desemprego dos seus pares. Também disse que falar sobre racismo é coisa de quem está desocupado, visto que em tempos mais difíceis, no auge dos conflitos pelos direitos civis dos negros, ninguém reclamava da ausência de afro-americanos no Oscar.
Rock, criador do precioso documentário Good Hair, nomeou e ridicularizou quem boicotou o prêmio. Fez a plateia rir fazendo piadas de quem, como Martin Luther King, usou o boicote para alertar sobre o racismo. Ele gerou desconforto entre os negros também, em vários momentos. “É o Chris Rock sendo Chris Rock”, alguns dirão, dedução errônea já que umas das suas mais fortes características como comediante é a originalidade. E ele foi previsível. A queda da audiência do evento vem para confirmar.
Já o discurso de Cheryl Boone Isaacs, presidente da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, que obviamente não usou do tom jocoso e ironia, para criticar a ausência da diversidade, recebeu mornos aplausos.
Nas redes sociais há muitos afro-americanos o apontando como o novo Pai Tomás, o que é pouco exagerado, levando-se em conta o próprio conteúdo da sua carreira, mas numa noite de tão delicada para os atores negros dos EUA, Chris Rock foi o cara que quis agradar os dois lados, para como ele mesmo disse, não perder o job para um cara branco. É tipo o amigo da firma que ridiculariza as vítimas do chefe assediador, para ser lembrado na hora do aumento do salário.Qual a genialidade disso?
Piada mesmo foi ver que em pleno Mês da História Negra, quase em todas categorias, tinham negros entregando prêmios para brancos, como se colocar afro-americano lendo teleprompter fosse realmente botar panos quentes na polêmica. É claro, que o #oscarsowhite não tinha como objetivo salvar vidas, mas a representatividade negra traz esperança aos negros que acreditam no sonho americano e faz a vida dos sobreviventes mais significativa por meio da arte.
Fotos: Google Images e Instagram.
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