“Cabelo sujo, perigoso!”. Entre os tipos de violência que ocorrem contra as mulheres negras nas maternidades é o racismo obstétrico diante dos cabelos sintéticos, usados para tranças, dreads e extensões capilares, que além da importância estética, também carregam aspectos de identidade, ancestralidade e afirmação racial. Entretanto, é comum que as gestantes negras sejam impedidas pelos profissionais de saúde de usarem esses tipos de cabelo em caso de parto cesárea, causando muita preocupação.
A ginecologista e obstetra Larissa Cassiano explica como surgiu esse mito para a proibição do uso de cabelos sintéticos. “Muitos acreditam que cabelos sintéticos podem ser inflamáveis. Quando combinados com o bisturi elétrico, que conduz eletricidade, há uma suposição teórica de um potencial risco de incêndio”, escreveu a médica, na sua coluna no portal VivaBem UOL.
Notícias Relacionadas
Carga mental: 55% das mães assumem sozinhas as decisões do lar mesmo com parceiros
Desenvolvimento de doenças autoimunes estão relacionadas ao auto-silenciamento de mulheres negras
Porém, Dra. Larissa reflete em como essa preocupação não pode ser levada em consideração, diante de todos outros riscos, como “o próprio cabelo humano natural”. “Este argumento muitas vezes ignora o fato de que materiais como cabelos naturais, lençóis, gazes, compressas e até antissépticos à base de álcool, que estão presentes na sala cirúrgica, também são inflamáveis”, explica.
No entanto, os pacientes precisam ter cuidado para não comparecerem ao procedimento com cabelos molhados, “visto que a água pura não conduz eletricidade, mas a água de torneira ou chuveiro, que contém íons, pode ser condutora e causar problemas quando usada em conjunto com aparelhos elétricos”.
A obstetra também ressalta que remover objetos metálicos e de baixa resistência, como jóias, brincos, piercings e botões, são fundamentais para o uso do bisturi elétrico, pois “podem ocorrer queimaduras em pacientes”.
E completa: “após conversas com diversos profissionais da área ao longo dos anos, bem como com pacientes, não ouvi e nem vi queimaduras associadas a cabelos sintéticos”.
“No entanto, considerando a ausência de estudos robustos e estritamente bastante difundidos, associada à falta de treinamento adequado em relação ao uso técnico do bisturi, algumas ideias envolvendo preconceitos raciais e o uso de cabelos sintéticos, o mito sobre o risco de incêndio de cabelos sintéticos se propagar”, finaliza.
Fonte: ViverBem UOL
Notícias Recentes
Economia Inclusiva: O papel das mulheres negras no fortalecimento do mercado brasileiro
'Vim De Lá: Comidas Pretas': Mariana Bispo apresenta especial sobre gastronomia brasileira com origem africana