Infelizmente, -porém, para o nosso bem- neste ano não haverá desfiles de escolas de sambas e nem festas do carnaval. Mas o brasileiro não precisa passar o feriado preferido sem curtir um bom samba e apreciar desfiles maravilhosos!
Para você curtir um bom carnaval -de casa- reunimos 7 indicações do Diáspora Black de desfiles de 2019 que reapresentaram muito bem a cultura preta!
Notícias Relacionadas
Pequena África recebe R$ 7,3 mi do BNDES; anuncio de investimento foi feito durante o G20 social
Lançamento de “Aspino e o boi” leva memórias quilombolas à literatura infantil
Viradouro – 2020
No desfile de 2020 a Viradouro se consagrou campeã com o samba-enredo “Viradouro de Alma Lavada” O tema homenageou as ganhadeiras de Itapoã, mulheres negras que trabalhavam lavando roupas e com seus ganhos elas compravam suas alforrias e a de seus parentes.
Confira o samba-enredo:
Ora yê yê o oxum! Seu dourado tem axé
Fiz o meu quilombo no Abaeté
Quem lava a alma desta gente veste ouro
É Viradouro! É Viradouro!
Levanta preta que o Sol tá na janela
Leva a gamela pro xaréu do pescador
A alforria se conquista com o ganho
E o balaio é do tamanho do suor do seu amor
Mainha, esses velhos areais
Onde nossos ancestrais
Sempre acordam a manhã
Pra luta
Sentem cheiro de angelim
E a doçura de quindim
Na bica de Itapuã
Camará ganhou a cidade
O erê herdou liberdade
Canto das Marias, baixa do dendê
Chama a freguesia pro batuquejê
São elas dos anjos e das marés
Caboclas do balangandã, ô iaiá
Ciranda de roda na beira do mar
Aguadeira que benze e vai pro terreiro sambar
Ganhadeira de fé!
É a voz da mulher
Xangô ilumina a caminhada
A falange está formada
Um coral cheio de amor
Kaô! O axé vem da Bahia
Esta negra cantoria
Que Maria ensinou
Oh mãe ensaboa
Mãe ensaboa pra depois quarar
Mangueira – 2019
A Estação Primeira de Mangueira levou para a Sapucaí em 2019 o samba-enredo intitulado “História para ninar gente grande”. Que foi uma grande homenagem a importantes heróis populares – negros, índios e pobres – da história do país, apagados da nossa memória coletiva e dos livros escolares.
Assim, nossos verdadeiros heróis finalmente foram nomeados, já que a história oficial sempre recontou uma versão elitista, narrada pelos detentores de prestígio econômico, político e social. Uma das heroínas mencionadas no samba-enredo é a vereadora Marielle Franco, morta a tiros no dia 14 de março de 2018 no Rio de Janeiro.
No site oficial da agremiação, o manifesto diz: “Ao dizer que o Brasil foi descoberto e não dominado e saqueado; ao dar contorno heroico aos feitos que, na realidade, roubaram o protagonismo do povo brasileiro; ao selecionar heróis ‘dignos’ de serem eternizados em forma de estátuas; ao propagar o mito do povo pacífico, ensinando que as conquistas são fruto da concessão de uma ‘princesa’ e não do resultado de muitas lutas, conta-se uma história na qual as páginas escolhidas o ninam na infância para que, quando gente grande, você continue em sono profundo.”
Relembre o samba-enredo que deu para a Mangueira seu 19º título:
Brasil, meu nego, deixa eu te contar
A história que a história não conta
O avesso do mesmo lugar
Na luta é que a gente se encontra.
Brasil, meu dengo, a Mangueira chegou
Com versos que o livro apagou
Desde 1500, tem mais invasão do que descobrimento.
Tem sangue retinto, pisado
Atrás do herói emoldurado.
Mulheres, tamoios, mulatos
Eu quero o país que não tá no retrato.
Brasil, o teu nome é Dandara
Tua cara é de Cariri
Não veio do céu nem das mãos de Isabel
A liberdade é um Dragão no mar de Aracati
Salve os caboclos de Julho
Quem foi de aço nos anos de chumbo
Brasil, chegou a vez de ouvir as Marias, Mahins, Marielles e Malês.
Mangueira, tira a poeira dos porões
Ô, abre alas
Pros seus heróis de barracões
Dos Brasis que se faz um país de Lecis, Jamelões.
São verde e rosa as multidões.
Vai-Vai
Todo o desfile da Vai-Vai foi voltado para a contar histórias do povo preto. Personagens bíblicos, navio negreiro, revolução no Haiti, Apartheid,o partidos dos Panteras Negras e o ex-presidente Barack Obama foram lembrados e muito bem representados com a aparição de artistas pretos.
Confira o samba-enredo:
É que eu sou da pele preta
quilombo do povo… Sou Vai-Vai
um privilégio que não é pra qualquer um
protegido e abençoado por Ogum
Axé… Eu sou a negra alma do Bixiga
herança que marcou a minha vida
tem que respeitar minha raiz
o Orum vai desvendar toda verdade
pra resgatar a nossa identidade
das linhas que a historia apagou
África a negra mãe da humanidade
nas marcas de um passado tão presente
a luta que Mandela ensinou
é a força de lutar por nossa gente
clamando a justiça de xangô
ô Inaê, rainha do mar
Alodê, Iabá, Odoyá
cuida de mim mamãe, leva meu pranto
em seus braços o meu acalanto
Ecoa o grito forte na senzala
nos olhos brilha um novo amanhecer
Aruanda ê, Aruanda
trago a força de palmares
pra vencer demanda
a liberdade é minha por direito
não vamos tolerar o preconceito
somos todos irmãos
e a luz da razão vai nos guiar
sorrir… “sim, nós podemos” sonhar
pois temos um futuro pela frente
punhos cerrados, a Saracura está presente.
Mancha Verde – 2019
O tema da Mancha Verde para o carnaval 2019 foi “Oxalá, salve a princesa! A saga de uma guerreira negra”. O samba-enredo narra a história da princesa africana Aqualtune, avó de Zumbi dos Palmares, que foi brutalmente retirada do Congo e trazida para o Brasil escravizada. Chegando aqui, ela viu seu povo subjugado e injustiçado, e lutou não apenas pela sua liberdade, mas pela igualdade e liberdade dos seus, pelos direitos dos negros e das mulheres, e contra a intolerância religiosa.
Confira o samba-enredo:
Ô oraieieô… oraieieô mamãe Oxum
Um ventre de luz, o fruto do amor
Kaô Kabecilê Xangô
África, suntuosa riqueza
África, reluz o encanto e a nobreza
A fé conduz o Congo a lutar
Tristeza marejou meu olhar
Oh Senhor, tem piedade
Dos corações sem liberdade
A alma que chora, a pele que sangra
Qual será o meu valor?
Entrego minha vida
Rainha do mar, Iemanjá
Aportou, na terra do sol e do maracatu
Vidas no suspiro derradeiro
Na fria solidão do cativeiro
Mãos calejadas a lavourar
Não perdi a fé nos orixás
Senhora do Rosário, oh Nossa Senhora
Aos pés do seu altar, clamo a igualdade
Palmares, vi um céu de luz e liberdade
A força de Zumbi a nos guiar
Nas bênçãos de Oxalá
Tambores vão ecoar, a festa vai começar
O meu batuque traz a força do terreiro
A Mancha Verde é Kizomba amor
Salve a princesa! Viva o povo negro!
Notícias Recentes
Zumbi, infanticídio e memória da rebeldia negra
Humanity Summit 2024 discute justiça racial e reparações no Rio de Janeiro