Por meio de perfis, a campanha #NegrasRepresentam tem o objetivo de apresentar os pensamentos de mulheres negras em diversas esferas sociais e como suas ações vem propondo mudanças na realidade racial do país.
Artista versátil e ativista, Camila Toledo passeia entre estilos. Cantora de timbre marcante, sua presença no palco bem como seu compromisso racial são inconfundíveis. Essa artista vem atravessando fronteiras musicais com ritmos que passeiam pelo Blues, Jazz e Soul sempre buscando promover a arte e a provocação social através das pautas de empoderamento da mulher e dos artistas negros. Atualmente é voz que encanta na banda MotherFunky, que tem como repertório releituras de sucessos do Funk e Soul norte americanos e brasileiros com referência nos anos 70.
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Camila brilhou no Especial Billie Holiday, espetáculo standarts de jazz que produziu em Porto Alegre – RS. E foi atração do Mississipi Delta Blues Festival (Caxias do Sul – RS) onde homenageou um dos maiores ícones do Blues, a cantora Etta James. Essa atuação que reverencia divas negras é um dos grandes motes da sua carreira artística. Entretanto, ela não atua somente em frente dos palcos. Como produtora, idealizou o Festival Nos Outras realizado inteiramente por um coletivo feminino de produção e que buscou apresentar a cena de bandas de Porto Alegre formadas estritamente por mulheres
Mundo Negro – Qual seu olhar sobre o mercado musical quando se fala de cantoras negras?
Infelizmente, existe um lugar delimitado para as cantoras negras. Isso me remete ao livro “Solistas Dissonates” do Ricardo Santhiago que fala justamente do que se espera artisticamente de uma cantora negra e como isso é limitante. Acredito ainda ser difícil pra uma cantora negra conseguir se destacar se não for através de estilos como samba ou black music como funk, hip hop, funk ou rap. Mesmo assim, a representatividade que artistas como Ludmilla, Iza, Karol Conka nessa nova geração e artistas consagradas como Sandra de Sá, Alcione é fundamental. Penso que precisamos persistir porque o julgamento do trabalho de uma artista negra é maior: Sofremos com o racismo estruturante e todo seu pacote de predefinições. Acredito, por fim que vivemos um novo momento social. As redes sociais estão reinventando as relações como um todo, e assim, a forma de como o público vê as artistas. Isso tende a contribuir pra uma desconstrução deste cenário dando mais espaço para as artistas que originalmente seriam marginalizadas. Isso me dá esperança.
Mundo Negro – Como é militar através da música? Você sente que consegue da seu recado desta forma?
Sinto que consigo. Ser artista já é uma provocação. Mulher, um ato revolucionário. Negra e com um microfone? Um manifesto. Penso que tenho uma responsabilidade em ter o espaço que tenho. Na MotherFunky, destaco sempre em minhas falas e escolhas artísticas a necessidade de entendermos nosso contexto social. No Especial Billie Holiday, ao apresentar a história da cantora a provocação social é inevitável. Sinto que militar na música tem suas especificidades. É um lugar de pensamento mais etéreo, a provocação é política e social, mas pode ser mais poética. Penso que assim, pode ser mais pedagógica e gerar mais aproximação. Passeio muito me plateias brancas e isso me dá ainda mais responsabilidade. Preciso dizer as pessoas o que penso da forma certa para que a mensagem ressoe.
Mundo Negro – Cantar Jazz, blues ou Soul é contar a história de resistência negra. O que você supera ao cantar essas mulheres com histórias tão forte?
Eu exorcizo muitas das minha dores no palco ao cantar esses estilos. Afinal, muitos dos artistas que eu homenageio falam de dores que até hoje sentimos. Eu me fortaleço nas canções deles, aprendo sobre mim enquanto mulher negra e sei que como instrumento da arte deles, trago ora paz ora reflexão pros corações dos que me ouvem. Eu escolho cantar esses estilos porque cresci ouvindo isso em casa. Meu avô era jazzista e minha mãe fã das divas. Entendo que essa era uma das referências de representatividade para as gerações deles e tornaram-se referência pra mim. Referência de resistência e colocação no meio, apesar das limitações. Espero poder seguir meu processo de cura através da música negra, seguir como instrumento de comunicação da nossa luta.
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