Brancos que se ofendem com discussões raciais são os maiores inimigos da busca pela igualdade

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Brancos que se ofendem com discussões raciais são os maiores inimigos da busca pela igualdade
Ivy do BBB diz que negro é lindo, todo mundo é igual, mas sempre indica gente preta para o paredão - Imagem/Reprodução Rede Globo

 

Esse assunto vai parecer bastante indigesto, mas se você é um homem ou mulher branca que evita entrar no assunto de discriminação e que nega a todo custo discutir como o passado de sua família (por mais difícil que seja) foi melhor que o passado da maior parte dos negros, provavelmente você é racista, mesmo que não queira. Você não tem escolha, a sociedade brasileira é assim e você faz parte dela. 

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A socialista Robin DiAngelo passou 20 anos estudando o que ela chama de “fragilidade branca” nos EUA, essa mulher ajudou o Starbuck após o incidente racista com dois homens na cidade de Filadélfia, nos Estados Unidos e vem ajudando outras empresas a entender suas dificuldades

 

Para DiAngelo brancos são extremamente previsíveis, seus padrões incluem que “foram ensinados a tratar todos da mesma forma”, que não enxergam cores”, que “não se importam se você é rosa ou etc…” e em alguns casos vão evocar um familiar negro para justificar que não é racista. 

 

A sociedade segregada se preparou para isolar o branco da discussão racial. Um branco não precisa definir sua raça e sua cor, ele se interpreta como o cidadão padrão, como um “ser humano”. Se olharmos para a história da abolição brasileira podemos entender como isso impactou nossa sociedade, o país criou vários termos para definir as variações de ser negro (mulato, cabra…), mas não temos eufemismos para as variações dos brancos – imaginem: ah esse não é tão branco, é só um mustardinha ou um bezerro. 

 

Quando a Lei Áurea foi assinada a maior parte dos negros já havia se libertado através de revoltas e lutas abolicionistas, isso em 1888, agora quem dera se o racismo tivesse sido apagado através de uma caneta e do papel. Ele continuou por um bom tempo. 

 

Entre 1910 e 1930, as elites brasileiras estavam empenhadas na criação de uma raça nacional. A eugenia falava de pureza racial, entidades governamentais e universidades queriam clarear a nacionalidade brasileira para curar a “fealdade” trazida pelos “povos selvagens”.

 

Durante a ditadura o governo promoveu o discurso da Democracia Racial, uma teoria baseada na obra de Gilberto Freyre, com o argumento que a mestiçagem resolveu os problemas raciais do Brasil. Foi contestada depois por nomes como Florestan Fernandes e Virgínia Bicudo

 

Todos esses eventos nos trouxeram aqui. Onde muitos brancos descendem de homens que defenderam ideais eugenistas, racistas e promoveram uma crueldade brutal contra pretos e índios. É infantil acreditar que, ao menos seu bisavô, não cresceu acreditando em todas as diferenças que a ciência da época defendia. 

 

Esses ideais não foram diluídos no imaginário coletivo do nosso país e ainda estão presentes, inclusive, na mente de pessoas negras, mas quem se beneficia desses estereótipos são as pessoas da “raça branca” sonhada pelos eugenistas tupiniquins. A pesquisadora brasileira Lia Vainer Schucman, doutora pelo Instituto de Psicologia, afirma que brancos, muitas vezes, são racistas sem saber que o são. 

 

Brancos reproduzem o racismo de forma inconsciente, quando projetam na sua mente uma imagem pejorativa do negro e de suas características. Se pensar na figura de um médico, por exemplo, a primeira imagem que vem a cabeça é um homem branco. Nunca de um negro. Para o Prof°. Dr. Kabengele Munanga “nós temos uma grande dificuldade, na sociedade brasileira, para entender e decodificar as manifestações do nosso racismo, porque tem peculiaridades que diferenciam das outras manifestações do racismos (nos países estrangeiros)

 

A fragilidade branca aqui criou uma ideologia, a democracia racial funciona como uma crença, uma ordem, uma verdadeira realidade. Assim fica difícil arrancar do brasileiro comum a confissão de que ele também é racista.  

 

Estudos da ONU mostram que a cor da pele é componente central na estruturação das desigualdades no Brasil, afetando o acesso ao emprego e a maiores níveis de desenvolvimento. No país, negros vivem, estudam e ganham menos do que brancos.

 

Isso porque na hora de contratar alguém, sua mente prefere outro branco. É da natureza do nosso cérebro buscar padrões conhecidos para resolver problemas, então quando entra em uma empresa de um negro sua mente diz que não é confiável. Todo o sistema racista dos séculos passados deixou estereótipos cravados na população. Colocando negros em uma situação em que, mesmo diante do esforço de elevar seu status educacional e profissional, pretos encontram restrições no meio dos brancos. Que  ainda insistem em não aceitar seu racismo. 

 

Os brancos de hoje não criaram o racismo, mas além de propagar ele, de forma impensável ou inconsciente são responsáveis pela manutenção do status racial. Se você nunca pensou sobre isso, então ainda propaga o racismo. Quem já pensou tem sempre duas escolha: ser responsável e ajudar a sociedade a exterminar esse problema ou fechar os olhos e se tornar parte do racismo brasileiro, se apropriando dos privilégios que ele concede à pessoas brancas.

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