Boicote à marcas que trabalham a diversidade mostra intolerância de parte da sociedade brasileira com o tema

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Boicote à marcas que trabalham a diversidade mostra intolerância de parte da sociedade brasileira com o tema
(Reprodução YouTube)

Para começo de conversa: boicote é a prática de se recusar ou se abster de algo: uma compra, um evento, uma organização ou qualquer coisa que por algum motivo está errado na nossa concepção.

Em 2018, alguns internautas pediram boicote ao “O Boticário” que usou uma família negra em uma campanha de dia dos pais. O ano é 2020 e a cena [obviamente] se repete. Desta vez, a marca escolhida foi a Natura – a quarta maior empresa de cosméticos e uma das 25 companhias mais bem avaliadas em inclusão e diversidade no planeta, segundo o ranking Top 25 Most Diverse & Inclusive Companies Organizations Globally de 2019 – e o incômodo foi pela participação do ator Thammy Miranda, que é um homem trans, com sua família. Além dele, nomes como Babu Santana e Rafael Zulu compartilham em vídeos, experiências de paternidade durante o isolamento social que estamos vivendo.

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O Boticário trabalhou e traduziu de uma maneira muito natural o convívio familiar de uma família dita “tradicional” composta por pai, mãe e filhos negros, que moravam em uma casa legal, se divertiam, conversavam e aparentemente possuíam um alto poder aquisitivo. Não demorou muito para que isso se tornasse motivo de discórdia: a campanha foi bombardeada nas redes sociais. (Até porque, onde já se viu preto comemorar o dia dos pais em família e dentro da casa própria, não é mesmo?). Os racistas online não aceitaram consumir o conteúdo protagonizado exclusivamente por atrizes e atores negras e negros. E esse é o retrato mais fiel da sociedade brasileira, no último país a “abolir” a escravidão na América. Isso diz muito sobre nós.

A campanha pode ser vista novamente abaixo. O vídeo tem quase 11 milhões de visualizações, 128 mil likes (pessoas que gostaram) e 18 mil dislikes (pessoas que não gostaram). Fazendo uma análise bem superficial, podemos perceber que o número de pessoas que se sentiram representadas é bem maior do que o de pessoas que não aprovaram o conteúdo. E com isso, a campanha atingiu o seu objetivo principal.

No caso da Natura, apesar do boicote proposto, o resultado veio na forma de números na Bolsa de Valores: A empresa acumulou ganho de 10% em suas ações durante dois dias seguidos – maior valor desde o final de fevereiro – e isso diz muito sobre a representatividade. O valor das ações na Bolsa, é determinado pela oferta e procura. Ou seja, quando existe a oferta de um produto e pouca procura, o valor das ações cai. Quando existe muita procura, o valor aumenta, como aconteceu.

O filme principal pode ser visto abaixo:

No fim das contas, trabalhar a diversidade e a representatividade é sobre ganhar dinheiro e a regra é cada vez mais clara: se o consumidor não se sente como parte de algo, não se vê em uma campanha publicitária, ele não compra o produto. E aqui tem um ponto importante: tanto as pessoas intolerantes quanto as que buscam por respeito e representatividade, estão nesse jogo. Cabe exclusivamente ao anunciante decidir quem ele vai contemplar em suas ações, quem mais vai trazer lucro para o seu negócio e de que lado ele está. Com os casos de O Boticário e Natura, a resposta sobre o que vale mais a pena, nós já temos.

E você? De que lado você está?

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