Nestas eleições, a participação de líderes religiosos tentando determinar de maneira contundente a escolha para o pleito presidencial tem ganhado espaço nas notícias. O chamado assédio eleitoral, uma prática criminosa que atenta contra a liberdade de voto, se mistura com o papel de líder e a confiança que um fiel tem em seu pastor, padre ou outra denominação sacerdotal.

Um caso que chamou muita atenção nos últimos dias, foi o da senadora Eliziane Gama (Cidadania/MA), que foi alvo de uma nota de repúdio da Assembleia de Deus após declarar voto em Lula. 

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A nota dizia que “a grande maioria dos posicionamentos da senadora caminha na direção contrária ao que a organização defende e acredita, como a preservação dos bons costumes, da família tradicional e o apoio ao governo que defende os princípios e pautas conservadoras”.

Para João Bigon, que é professor, escritor e mestre em relações étnico-raciais, apesar de estar ganhando destaque nestas eleições, o fenômeno é antigo – com casos desde antes de 2016, quando pessoas foram expulsas de igrejas ao denunciar o golpe contra Dilma Rousseff –  e atinge de maneira ainda pior as pessoas negras. 

“Para população negra é mais danoso porque vem acompanhado de violências muito específicas. Diferente de pessoas que estão sendo expulsas por uma posição política, pessoas negras estão sendo expulsas por reivindicar sua identidade. Não só do ponto de vista dessas motivações, mas em como isso é colocado. Expulsão, pessoas que são expostas à vergonha pública no meio de um culto, no meio de uma atividade pública da igreja, pessoas que são retaliadas em grupo de WhatsApp. Esse modelo de linchamento que é muito racista desde sempre”, explica Bigon. 

Para João Bigon, casos de assédio eleitoral com pessoas negras trazem fortes marcas de linchamento. Foto: Reprodução

Foi exatamente este tipo de exposição que teve Eliziane Gama como alvo. Para João, que também é evangélico, é muito importante que quem convive em uma comunidade de fé que tem este tipo de prática se retire destes ambientes. 

“Para quem continua em comunidade de fé em que o pensamento hegemônico é esse tipo de pensamento, que retalia, que expulsa, que violenta, saia dessa porque essa comunidade não é comunidade de fé, uma comunidade de ódio, ela é unificada pelo ódio, pelo preconceito, pela exclusão. Ela é uma comunidade que se une para excluir, se une a partir da exclusão dos outros. Então, saia porque isso não vai edificar a sua fé em nenhum sentido”, conclui.

Apesar das tentativas de convencimento e coerção, é fundamental ter consciência de que o voto é secreto, uma escolha pessoal e intransferível. Qualquer tentativa de retenção de documentos, de prender pessoas em igrejas e outros templos com a justificativa de vigílias no dia da eleição para tentar coagir pessoas a votar em um candidato específico é ilegal. 

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