As imagens dos deputados federais que se autodeclararam negros ou pardos e que foram eleitos no domingo (2), repercutiram na internet. Fotos desses candidatos vieram à tona na reportagem da Folha de São Paulo, que publicou dados que concluíram que a Direita foi a que mais elegeu candidatos negros.
Em entrevista ao MUNDO NEGRO, Najara Costa, eleita co-deputada do mandato Movimento Pretas em São Paulo, fala sobre a conveniência de candidatos que trocaram a cor após mudança do Tribunal Superior Eleitoral estabelecer novas regras na distribuição do fundo eleitoral, em dezembro de 2021. “Agora, como existem ações afirmativas na política, tanto com relação à questão de gênero, quanto com relação a maior verba para candidaturas negras, há também essas fraudes que estão acontecendo de forma escancarada na política brasileira”.
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A socióloga e autora do livro “Quem é Negra/o no Brasil?“, que levanta a importância das cotas raciais e das comissões de heteroidentificação, na qual ela faz parte desde 2016 e identifica a falta que faz as avaliações para aprovar as candidaturas, além do viés estrategista da direita.
“A direita tem se apropriado desse debate. A questão racial tem norteado todo o debate político, até mesmo de candidatura de direita, o que a gente não via acontecer antes. Essa fraude da autodeclaração racial, ela se orienta nesse sentido. Ela já acontecia nas universidades, nos serviços públicos e obviamente precisaremos de comissões de heteroidentificação”, afirma Najara. “A bancada que se autodeclara negra e que traz isso como identidade política, tem políticas e pautas de retirada de direitos da população negra”, completa.
Essas eleições fizeram história por terem mais candidatos negros (49,6%) do que brancos (48,8%). Apesar de um aumento no número de eleitos não-brancos, dos 513 parlamentares que tomam posse em 2023, somente 135 são autodeclarados negros (26%).
Pretas na Alesp
O mandato coletivo Movimento das Pretas (PSOL), encabeçado pela Mônica Seixas, também é formado pelas codeputadas Ana Laura Oliveira, Rose Soares, Karina Correia, Letícia Chagas e Poliana Nascimento. Elas foram eleitas com mais de 100 mil votos.
Najara Costa relata que apesar do aumento de pessoas negras na Assembleia Legislativa de São Paulo ainda houve um aumento pouco representativo. “Em 200 anos de história, a Alesp até essa eleição, só elegeu quatro mulheres negras, três na última legislatura. É uma falta de representação e eu considero que muitos mandatos que não são coletivos, acabam sendo coletivos também. Se temos aí uma maioria de pessoas negras, é necessário que tenhamos uma maioria de pessoas negras também no parlamento”, ressalta.
“É um pouco difícil falar de avanços no momento onde a gente tem tantas pessoas da extrema-direita sendo eleitos. A gente teve um pequeno acréscimo aí de mulheres sendo representadas no Congresso Nacional, tem um pouco mais de representatividade feminina, mas muitas dessas mulheres não representam as pautas e lutas coletivas de mulheres. Nós temos sim que lutar para que haja essa representação das mulheres negras e das mulheres periféricas, que vão trazer uma representação a partir da nossa base, a partir daquilo que a gente vive”.
Como ativista e agora codeputada, Najara afirma o compromisso da política antirracista e a luta pelos direitos das mulheres.
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