Ana Hickmann: contraste entre reações à violência doméstica mostra como a sociedade é rápida em promover justiça para pessoas brancas

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Ana Hickmann: contraste entre reações à violência doméstica mostra como a sociedade é rápida em promover justiça para pessoas brancas
Foto: Reprodção

Após o caso de violência doméstica sofrido por Ana Hickmann ser divulgado na imprensa, a apresentadora tem recebido um número maior de propostas comerciais de marcas para publicidade nas redes sociais. De acordo com uma matéria publicada pela Folha de São Paulo, essas marcas têm visto Hickmann como um exemplo de resiliência e querem usar sua imagem como uma estratégia para se aproximar do público feminino.

Em um vídeo publicado nas redes sociais, o mestre em antropologia social, Mauro Baracho, fez uma análise sobre como a branquitude usa mecanismos de proteção em favor dos seus, mostrando quais corpos devem ser acolhidos e protegidos. Diferente do que acontece com as mulheres negras: “as marcas querem atrelar a imagem de Ana Hickmann a elas porque elas veem Ana Hickmann como exemplo de resiliência. Eu queria lembrar essas marcas que, segundo a Agência Brasil, em dezembro de 2022, mais de 18 milhões de mulheres foram vítimas de violência doméstica e que a maioria dessas vítimas foram mulheres negras”, lembrou.

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O especialista ainda pontua que “Quando eu vejo essa ação das marcas, da sociedade como um todo, me parece uma ação pedagógica para ensinar para as pessoas qual corpo violentado deve ter sua dignidade restituída. Uma das características da branquitude é um tipo de atividade corretiva que tem por objetivo promover justiça para aquelas pessoas identificadas como brancas que foram injustiçadas”, disse ao relembrar casos como o do “mendigo gato”, um homem branco e de olhos claros que vivia nas ruas e que comoveu a sociedade por sua condição social. O rapaz em questão teve um apoio massivo para se reestruturar. Também vimos as marcas fazerem publicidade com a atriz Larissa Manuela, quando o caso sobre seu rompimento com os pais veio à tona.

Em contraponto, vimos recentemente a influenciadora Patrícia Ramos contar que sofria violência doméstica do ex-marido, Diogo Vitório, sendo vítima do crime de estelionato emocional. Ela denunciou o ex e seus advogados divulgaram uma nota sobre o caso, afirmando que Patrícia havia denunciado o ex à polícia pelos crimes de: “de estelionato sentimental, violência doméstica nas formas física, moral, psicológica e patrimonial, estelionato com falsidade ideológica, furto mediante fraude e perseguição (stalking)”.

A coragem de Patrícia Ramos ao denunciar a violência que sofria em seu casamento não se transformou em publicidade. Não ouvimos falar sobre Patrícia se tornar um exemplo para outras mulheres e uma referência que seria positiva para as marcas, ainda que ela tenha tido a coragem de falar sobre o caso, denunciando o que vinha sofrendo.

Ao comparar as situações, vistas de maneira diferente, pela sociedade e pelas marcas, Mauro Baracho conclui em seu vídeo: “Quando eu falo da Ana Hickmann, não estou querendo diminuir homens brancos em situação de rua ou mulheres brancas que são vítimas de violência doméstica, só estou fazendo uma reflexão sobre o por quê não acontece o mesmo trabalho, o mesmo esforço conjunto quando são pessoas negras nessa situação”, disse. “Cá pra nós, essas marcas querem fazer essa publicidade com esse caso, mas tem muitas funcionárias que sofrem assédio dentro dessas empresas e que quando denunciam são perseguidas ou demitidas”.

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