Em meio à avalanche de informações sobre o dia da consciência negra, confesso que tive não foi tarefa fácil acompanhar tudo o que estava acontecendo. Na verde impossível, por que eu não consegui. A minha sorte é que tenho amigos muito informados que freqüentemente me enviam algum material interessante para ler e assistir. Neste artigo, eu gostaria de dividir com vocês uma preocupação. Minha reflexão é fundamentada em um vídeo reportagem, enviada pelo meu amigo Rodrigo Faustino sobre aos avanços e desafios profissionais da comunidade negra, exibido pelo Jornal Hoje (Rede Globo) no dia 22 de novembro, em comemoração à semana da Consciência Negra. Eu comecei assistir a reportagem muito empolgada com a bela biografia de Luislinda Valois, juíza do Tribunal de Justiça da Bahia há quase 30 anos. Vibrei quando a belíssima senhora de pele negra e tranças longas falou sobre uma nova geração de gente negra competente que está em busca de oportunidades. Que legal! Em seguida, a repórter entrevistou mais algumas pessoas para exemplar nossos “avanços profissionais”, um diretor de loja e estudantes que buscam uma especialização na área da construção de civil, para como eles mesmo dizem, não trabalharem como ajudante de pedreiro a vida inteira.
Antes de continuar minha reflexão, gostaria muito de deixar claro que estas duas últimas profissões representam sim, um grande avanço para a comunidade negra. O economista Hélio Santos costuma dizer que no Brasil, nas grandes empresas o negros muitas vezes não trabalham nem como segurança ou servindo cafezinho. É realmente admirável que os afrodescendentes não usam o fato de terem uma baixa renda, para não buscarem especialização. Os filhos e netos destas pessoas terão ainda melhores oportunidades. E esta é uma excelente notícia.
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A minha preocupação em relação às reportagens que vimos nesta data, em especial essa reportagem do Jornal Hoje, é que elas agem como aquela professora racista do seriado “Todo mundo odeia o Chris”, baseada na experiência de vida do ator afro-americano Chris Rock. “Nossa estou impressionada que você tenha feito este trabalho tão bem, levando em conta que você tem que estudar com os sete irmãos de pais diferentes do seu, além de viver com sua mãe tomando drogas o dia inteiro” diz a “ingênua” professora Ms. Vivian Morello, ao seu único aluno negro, filho de pai esforçado com mais de um emprego e uma mãe obcecada em criar filhos com bons valores em meio aos recentes avanços da comunidade afro-americana, no final dos anos 70.
Alguns veículos de comunicação passam a mão em nossas cabeças com um sorriso, enquanto se alimentam de referencias embutidas de preconceito e superestimam o potencial da comunidade negra. Não saem do lugar comum futebol-samba-capoeira e principalmente ignoram os avanços sociais dos últimos anos. Andam mal informados em relação ao nosso progresso.
Eu, particularmente, tenho muitos amigos em grandes empresas, com uma boa formação e alguns ganhando experiências profissionais fora do Brasil. Navegando pelas redes sociais e fazendo networking, eu vejo que não são só os meus amigos. Tem muita, mas muita gente com uma ótima formação e qualificação além do diploma universitário. Poucos ainda em cargos de liderança, é fato, mas chegando lá. Gente formadora de opinião que consome muito. É a nova geração (que nem sei se é tão nova) a que a juíza baiana se refere.
Sabemos que ainda são assombrantes os índices que provam que o racismo e o preconceito promovem uma grande inércia para o avanço profissional do negro brasileiro. Mas eu, enquanto jornalista, na verdade até como expectadora e leitora, acredito que já passou da hora de sair dessa zona de conforto, que faz com que se criem pautas para datas, como o Dia de Zumbi, baseadas em clichês com sutis toques de preconceito. Mais uma vez, não se trata de ignorar os nossos problemas. Trata-se de mostrar as “exceções“ de maneira mais freqüente. Os profissionais negros precisam ser entrevistados em matérias que falem sobre outras coisas além do preconceito e racismo
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