A importância e o orgulho de trabalhar em uma mídia preta

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A importância e o orgulho de trabalhar em uma mídia preta
(Foto: Marina M Mendonça)

Eu, Thais Prado atualmente sou a redatora aqui do site Mundo Negro e vou contar um pouco da minha experiência em trabalhar só com negros. A ideia desse artigo surgiu não afim de fazer uma auto propaganda do Mundo Negro mas sim de mostrar o mundo branco em que eu “me meti”.

No começo do mês de julho uma amiga de faculdade iniciou um projeto em seu Instagram com uma série de lives com o tema ‘Pretos em Pauta’ e me convidou para gravar um vídeo falando um pouco sobre como é trabalhar no Mundo Negro e qual a importância da representatividade na mídia.

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Ao assistir o meu vídeo entendi mais ainda qual é o meu papel na “mídia preta”. Vamos voltar algumas casinhas e me acompanhem para entender a importância de se ter representatividade dentro de todos os campos mas principalmente nas grandes mídias.

Voltemos às origens rapidamente:

Não posso falar de quem eu sou sem antes falar dos meus antecessores, então “voltemos às origens rapidamente”: Sou neta de quilombolas do quilombo da Caçandoca onde nos denominamos como ‘Gabrieis’, pois somos descendentes de um homem escravizado chamado Gabriel, afirmo todos os dias o meu local de fala lembrando sempre dos meus antecessores. Sabendo quem veio antes, eu sei quem sou hoje e pra onde devo ir amanhã. E sim, quilombos ainda existem!

Como estudamos na escola, o mais emblemático dos quilombos formados no período colonial foi o Quilombo dos Palmares. Palmares existiu por mais de um século, e se transformou em símbolo da resistência do africano à escravatura. Como vocês verão abaixo, ainda hoje ser quilombola é ser resistência.

No século XIX, onde existe ainda hoje o Quilombo da Caçandoca, havia uma fazenda cafeicultora e escravagista, que em 1858 foi adquirida por José Antunes de Sá. Ela abrangia as localidades de Praia do Pulso, Caçandoca e Caçandoquinha, Bairro Alto, Saco da Raposa, São Lourenço, Saco do Morcego, Saco da Banana e Praia do Simão. E o  fazendeiro por anos aproveitou a localização afastada e rodeada pelo mar para trazer negros da África e explorá-los.

José de Sá teve três filhos e concedeu a cada um uma parte da fazenda e um grupo de escravos. Na época, tanto o fazendeiro como seus herdeiros tiveram filhos com mulheres escravizadas. O mais comum era logo após o nascimento vendê-los.

Em 1888, com a abolição da escravatura, alguns ex-escravizados foram embora, enquanto outros permaneceram como posseiros, donos do seu próprio trabalho. Ficaram também os poucos filhos e netos de José Antunes de Sá reconhecidos como legítimos. A comunidade foi sendo formada a partir de três núcleos familiares: filhos e netos de José de Sá e descendentes de dois escravizados, Gabriel de Oliveira dos Santos e Rosária Vitória. Nascendo, ali, os chamados “Gabrieis”.

Voltemos para o presente:

Além de jornalista sou arte educadora, colunista em dois outros sites e trabalhei cerca de um ano e meio em outro grande portal de notícias. 

Ao ser contratada como redatora do MN fiquei, literalmente, chocada ao ver que todos os funcionários são pretxs. Pela linha do site e nome talvez fosse obvio que todos os funcionários fossem pretos. Mas eu já estava tão acostumada a ser a única negra de tantos lugares que aquilo pra mim parecia ser um Oásis. 

Vamos ao check-list rápido:

Única negra da sala na universidade (Bolsista, amém); 

A primeira da família a ter um curso superior (Infelizmente a única até agora);

Já trabalhei em N lugares onde eu era a única negra;

Uma das minhas últimas experiências antes de começar no Mundo Negro, foi em um portal de notícias prestigiado onde as únicas negras era eu e a senhora que cuidava da limpeza. Todo o resto em sua maioria eram homens brancos cheios de comentários e atos racistas, tantos que daria até mais um checklist, mas seguimos. 

Estou aqui, falando tudo isso, pra deixar de forma mais escura, o quanto é importante ter representatividade na mídia negra. Além de ser espelho para os que estão ao nosso redor, é de extrema importância para nós, negros, ocuparmos nossos espaços e locais de fala. Para que não seja um espanto uma empresa ter em sua maioria ou totalidade, funcionários negros. 

Sem falar da narrativa branca ao abordar assuntos envolvendo a comunidade negra. Onde por exemplo a mídia representa um garoto branco traficante como jovem apreendido e o negro já é logo taxado de ladrão isso é, quando sobrevive e chega a entrar no noticiário como traficante e não como óbito de mais um jovem negro. 

De forma sucinta, essa é a diferença entre trabalhar em uma empresa branca e uma empresa preta. Eu falo para os meus na linguagem dos meus e cresço com os meus. Dando visibilidade, suporte, relatando casos que muitas vezes a grande mídia branca não se interessa.

Esse artigo é sobre ocupar espaços e fazer com que seja comum ter negros ocupando todos os espaços dentro de uma empresa, principalmente na mídia. Nossas crianças precisam se ver e ter a quem se espelhar. 

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