“Eu amo meu país” é a primeira frase da HQ Capitão América: Sam Wilson de Nick Spencer e Daniel Acuña que em 2015 colocou um homem negro como Capitão América e em 2021 vemos isso acontecer no universo Cinematográfico Marvel, o quão importante é isso?
Desde Vingadores: Ultimato já estava estabelecido que Sam Wilson seria o novo Capitão América. Bom pra alguns, ruim para outros, a recepção a esse tipo de noticia é sempre a mesma nas redes, tem aqueles que amam e aqueles que simplesmente odeiam por não ser mais um homem branco, forte e heterossexual assumindo o manto.
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O Capitão América é negro…Consigo lembrar da sensação que tive quando ouvi essa frase pela primeira vez em 2015 e fiquei tão feliz com a novidade que me esqueci que estamos em um mundo em que o anuncio de Sam Wilson como Capitão traria tanta reclamação e racismo.
Tudo isso de novo? Em 2015 já passamos por isso, por que temos que passar por isso de novo? Capitão América: Sam Wilson foi incrível, um arco de histórias sensacional e mesmo assim as mesmas reclamações de novo? Ok, nós dois sabemos que a grande maioria das pessoas que reclamam sequer leram os quadrinhos, mas eu ainda tinha certa esperança de que alguma coisa mudaria.
Mas e então veio o anuncio de Falcão e o Soldado Invernal e Sam Wilson não era o Capitão América…Bom, no final das contas sabíamos que Sam se tornaria o Capitão, mas todo o processo até isso acontecer foi importante.
Falcão e o Soldado Invernal fala, desde seu inicio, sobre temas complexos e com pontos de vista diversos. O que mais me atraiu na série foi a possibilidade de se discutir abertamente sobre esses temas com argumentos diversos fornecidos pela narrativa, a minha conclusão sobre tudo pode ser completamente diferente da sua e ainda sim fazer sentido.
Karli Montergau e os Apátridas, apesar de colocados enquanto antagonistas, não são apenas vilões e até mesmo o Mercador do Poder descobrimos ter motivações para fazer o que fez.
Falcão e o Soldado Invernal fala muito sobre legado, mas não apenas sobre o legado do escudo do Capitão América. Fala também sobre o legado construído através das ações por trás dele. A série desconstrói o que representa a peça de metal com a bandeira americana para o público e para os heróis e a cada episódio vemos o foco mudar de quem Steve Rogers era para que passemos a pensar no que Sam Wilson representa.
A aparição de Isaiah Bradley e todo seu Background nos quadrinhos veio justamente em um dos episódios que mais falou sobre racismo e trouxe um pensamento extremamente válido e importante ao debate. A série, como eu já disse, faz isso em diversas situações, apresenta diálogos e contextos importantes para a construção das motivações dos personagens e discursos em contraponto muito potentes.
Durante o quinto episódio, por exemplo, a série esfrega em nossa cara a forma complacente com a qual o governo americano lida com um erro de John Walker, um homem branco, e a forma como Isaiah, um homem negro, precisou fingir estar morto para conseguir escapar da prisão e viver em paz. A narrativa faz esses paralelos em diversos momentos, até mesmo com Bucky e Sam.
Falcão e o Soldado Invernal discute fronteiras, discute racismo e xenofobia e traz um mundo muito parecido com o nosso. O que nos faz refletir sobre não precisarmos de um blip para que a nossa sociedade faça o que faz com imigrantes nas fronteiras e nem de um soro de super soldado para que o governo trate pessoas negras como cobaia, tal qual Isaiah Bradley.
O meu ceticismo com relação a uma série da Disney discutir abertamente questões delicadas nas telas, como Spencer faz nos quadrinhos, foi quebrado por uma grata surpresa. Por aqui não há medo em trazer essas discussões de forma que se contrapõem até mesmo ao final da narrativa, a história vai até onde precisa ir e apresenta os discursos sem medo.
Falcão e o Soldado Invernal é uma série sobre perspectivas e o que torna estes personagens heróis ou vilões são suas escolhas e estas escolhas representam não somente os indivíduos, mas também o que estes viveram. Do alto de nossos privilégios julgar as decisões de personagens que passaram por tanta coisa parece ser fácil, mas a narrativa vai muito bem em nos mostrar o fardo que todos carregam. De Karli e Walker à Sam e Bucky, todos possuem motivações que giram em torno de suas existências e influenciam suas decisões e perspectivas e isso é muito bem apresentado.
Dentro de todo esse discurso social e politico que nos é apresentado ainda temos tempo de nos deleitar com boas cenas de ação e até mesmo sonhar com uma série exclusiva para as Dora Milaje e ter certo vislumbre do universo Marvel pós acontecimentos de Ultimato. Algo que não tivemos com WandaVision que foi bastante contida nesse sentido.
Falcão não é mais apenas o Falcão e Bucky deixou de ser o Soldado Invernal, mas apesar de tudo parecer bem colocado, há muito ainda para ser explorado. E apesar de iniciar esse texto com uma pergunta e a tendência ser que eu responda ela por aqui, sinto decepciona-los, mas não tenho essas respostas…Somente o tempo tem e me limito a deixar a reflexão.
O que significa para o mundo – tanto na série quanto no nosso – alguém que se parece com Sam assumir o manto de Capitão América? Ele algum dia será aceito como tal? A América aceitará um Capitão América Negro?
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