Pessoas não são parte da paisagem, como uma árvore, ou construção antiga, elas são seres humanos e isso deveria ser levado mais em consideração pelos turistas, sobretudo os que viajam em missões voluntárias.
A maior parte das pessoas que viajam para o continente africano, como voluntária, são brancas e muito jovens, e felizmente não foi só eu quem notou a irritante tendência de selfies desses turistas com pessoas em situações de pobreza e vulnerabilidade.
Notícias Relacionadas
Continuamos sendo os únicos representantes dos nossos sonhos: 25 profissionais negros que você precisa conhecer
Brega funk, futebol de várzea e turismo de favela pelos olhos de diretores negros
Não me incomoda pessoas brancas atravessando o mundo para ajudar continentes destruído historicamente por pessoas brancas, inclusive há negros voluntários também. A questão é sobre as fotografias feitas durante essa temporada internacional.
Uma campanha lançada em novembro, formada por um guia e um vídeo bem direto ao ponto, orienta jovens e voluntários a controlar seu impulso em captar cada momento da sua viagem ou missão para compartilhar suas fotos no Facebook ou Instagram. O guia foi criado SAIH (Norwegian Students’ and Academics’ International Assistance Fund ) por meio do projeto Radi-Aid que combate os estereótipos em ações humanitárias e de desenvolvimento global.
Um reforço do projeto é “conta-paródia” no Instagram chamada Barbie Savior (Barbie Salvadora).
O material da campanha serve para mostrar a tendência de jovens usarem imagens na redes sociais, como se os mesmos fossem salvadores de pessoas necessitadas em países pobres. Os jovens que fazem as selfies, não percebem que ao compartilharem essas fotos usando hashtags, eles perpetuam esterótipos e tiram a dignidade e privacidade das pessoas.
“Uma simples selfie com uma criança Africana, por exemplo, pode perpetuar a ideia de que só o Ocidente salva, cura ou interveem a favor dessas pessoas, como salvadores do planeta”, explica Beathe Ogard, presidente do SAIH. Para ela, essas crianças têm sido retratadas como abandonadas, dignas de dó, enquanto o voluntário vira o super herói que as resgatam da miséria.
A conta do Instagram, Barbie Savior usa a boneca da Mattel e muitos recursos de Photoshop para mostrar as situações, ridículas que esses voluntários se colocam em nome de um clique para bombar suas redes sociais.
Tipos de fotos que Radi Aid recomenta não fazer
Fotos de voluntários dando doces ou fazendo um “toca aqui” com crianças
Motivo: Apesar de ser um gesto pequeno, são nesses momentos que voluntários fazem promessas para crianças que nunca cumprem, sem contar a irrelevância para quem é pobre.
Fotos de crianças brincando
Motivo: Desrespeito à privacidade: Se não tiramos fotos de crianças que não conhecemos quando viajamos para a Europa e América do Norte, porque tirar das Africanas?
Fotos de crianças doentes em hospital
Motivo: Total desrespeito com o paciente. Há anos comunicadores especializados em questões de desenvolvimento global, já têm lutado contra o reforço de estereótipos usados em campanhas de caridades, que ferem códigos de ética. (Sim, aquelas com crianças chorando, a beira da morte, sendo atendidas por médicos brancos).
Querer registrar a pobreza de um lugar por meio da fotografia não é problema. Mas é preciso fazer algo diferente, que mostre que a comunidade local não é passiva ou submissa, que há razões e responsáveis por aquela situação.
O guia ainda recomenda sempre pedir permissão das pessoas fotografadas e detalhar todo o contexto, que inclui nomes das pessoas, suas histórias, localização e incluir tudo isso na legenda das fotos. No caso de crianças, elas não podem decidir sobre fotos tiradas delas mesmas, sempre pergunte para um responsável.
“Pense nessas crianças com uns 25 anos de idade, como você acha que elas irão se sentir vendo a foto? “, finaliza Ogard.
Notícias Recentes
Grace Jabbari retira processo federal por agressão e difamação contra o ex-namorado, Jonathan Majors
Agência Pública aponta 33 políticos com antepassados relacionados com a escravidão no Brasil