Anti-racismo: “Muitos brancos estão surfando na onda, mas têm muitos interessados”

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Anti-racismo: “Muitos brancos estão surfando na onda, mas têm muitos interessados”
Bruno Gagliasso e Luana Genot ( foto Anderson Borde /AgNews )

Com a Alice há 6 meses em seu ventre e muita vontade de ter um mundo com oportunidades iguais para brancos e negros, Luana Génot é uma das novas potências brasileiras na luta contra o racismo.

À frente do ID-BR (Instituto Identidades do Brasil), ela viaja pelo país ( e exterior) levando reflexões sobre questões raciais para dentro de grandes empresas como Though Work, Coca-Cola , Bayer e se destaca por fazer eventos repletos de celebridades e líderes empresariais. E nada é por acaso. Genót admite que as pessoas brancas são importantes na luta pela igualdade racial.

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Ela foi a acompanhante de Bruno Gagliasso, na ida do ator à delegacia,  no dia 27 de novembro, para registrar queixa contra Day Mcarthy, brasileira residente no Canadá, que usou seu Instagram para para fazer ataques racistas contra a pequena Titi, de 4 anos, filha de Gagliasso com a empresária Giovana Ewbank.

Ela conversou um pouco sobre esse episódio e de como a ID-R chama as pessoas brancas em espaço de poder, para discutir racismo, preconceito e discriminação racial no meio corporativo.

Mundo Negro – Você é próxima do Bruno Gagliasso e o acompanhou na delegacia quando ele foi dar queixa contra aquela mulher. Luana foi como ID-BR ou como amiga?

Luana Genót – Foi um pouco dos dois, é difícil separar as coisas. Eu o conheci através do Instituto quando o convidei para ser embaixador da campanha Sim a Igualdade Racial, então obviamente eu fui lá por isso, e porque ele também, dentro do possível que agenda dele permite, tem reverberado essa questão racial ,por que agora ele tem uma filha negra. Ele tem tido mais contato com essa questão desde que ele adotou a Titi. Mas eu estava lá também como cidadã, mãe e acho importante a gente se posicionar sobre o que a gente acredita.

O Bruno me escreveu no domingo quando eu estava voltando de Recife e me contou que havia acontecido um caso e que ele iria na delegacia no dia seguinte. Aí eu mesma me prontifiquei a acompanhá-lo.

Foto Anderson Borde /AgNews Luana: “Estava lá também como cidadã e mãe”

De que forma você acha que os brancos estão interessados na luta anti-racista? Esse ano tivemos muitos debates e eventos sobre questão racial. Você acha esse momento é um divisor de águas? 

Essa luta anti-racista tem que ser de todos. Há o interesse mais aguçado de muitos, muitos estão surfando na onda e muitos não estão interessados. A minha filosofia é, seja pelo amor ou pela dor, todos tem que abraçar essa causa de alguma forma, é uma causa de todos e que esteja cada vez mais em pauta e recebendo mais ações em prol das ações afirmativas.

A questão é que não sei se a gente é capaz de modificar a mentalidade das pessoas, mas o que eu sei é que gente precisa galgar mais oportunidade para comunidade negra e periférica. Quanto a isso, a luta anti-racista branca é importante, por que são eles que têm a caneta. Na maioria das empresas, que são um dos pilares  do Instituto, dentro de uma vertente que a gente trabalha sobre igualdade racial no mundo corporativo, a gente sabe que essa população é branca. Com eles se engajando nessa luta a gente consegue mais frutos, para colocar negros no mercado de trabalho e ter líderes negros. Esse ano tivemos muitas discussões e possibilidades. Fizemos nosso Fórum de Igualdade Racial e vimos outros eventos e vários comitês surgindo para discutir essa pauta. E que venham mais, que  a gente possa discutir isso ao longo do ano, não só em novembro.

Dentro dessa rotina de atividades do ID-BR,  quais são as maiores dificuldades em termos de mitos a serem quebrados, quando se fala com brancos em espaço de poder?

A maior barreira que nós temos enquanto Instituto é convencer que o racismo existe. Questão sobre a falta de qualificação dos negros é um estágio 2, o estágio 1 é realmente educar as pessoas de como racismo existe, de como a gente é racista e como reverberamos os racismo através das nossas ações, trocando de calçada quando vemos um homem negro, fazendo piadas, não defendendo uma vítima de racismo, enfim, o racismo está nas pequenas coisas e maioria tem dificuldade de enxergar.

O estágio 2 é convencer que existe o talento, mas eles não estão conectados com essas pessoas. Nosso desafio é conectar empresas e pessoas e sobretudo, no nosso caso, mudar a cultura das empresas para que elas estejam capazes e aptas pare receber de desenvolver essas pessoas.

A imagem pode conter: 8 pessoas, pessoas sorrindo, pessoas em pé e texto
II Fórum Sim à Igualdade Racial em São Paulo

No caso da Titi um homem branco (Gagliasso) convocou toda a sociedade para pensar e falar sobre racismo e anti-racismo e houve uma comoção nas redes sociais. Há quem diga que a voz dele fala mais alto do que uma pessoa negra, mas se a fala é sobre combate ao racismo, não é algo positivo para todos?

Quando eu fui com o Bruno na delegacia eu falei que ele deveria usar esse lugar de fala que ele tem enquanto homem branco, que é capaz de gerar comoção nas pessoas, que é muito diferente de quando é uma pessoa negra. É só notar o que sai na mídia, tem uma comoção seletiva.

Ouso dizer que se fosse a Titi crescida falando sobre racismo, as pessoas provavelmente minimizariam mesmo ela sendo filha do Bruno. Apesar dessa comoção seletiva, eu acredito que quando tivermos pessoas como ele, usando o lugar de fala dele para ser aliados na luta anti-racista, eu acho super positivo. Não tem como negativar algo que está dando voz e espaço para uma luta que deve ser de todos. O discurso do Bruno é esse, de que deve ser uma causa de todos. Quando pessoas falam para mim que admiram minha causa, eu acho uma fala errônea, a causa é nossa. Eu acredito que com mais vozes teremos mais potencia e aliados. Bruno tendo noção dessa comoção seletiva, isso é positivo, ele pode problematizar isso e dizer “Olha quando aconteceu aquilo com a Taís não teve tanta voz”. Ele  entende que não é protagonista e sim aliado e que ele precisa reverberar para que a  gente tenha igualdade racial de verdade, não só no papel.

 

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