A frase do artista A Coisa Ficou Preta (@acoisaficoupreta) publicada nos últimos dias no Instagram, se tornou viral em vários perfis de redes sociais e chamou atenção para a desigualdade racial durante a maior festa popular do Brasil
No mês da folia, a quantidade de latinhas de bebida descartada aumenta 40%. O Brasil é referência em reciclagem de alumínio, chega a reciclar mais de 280 mil toneladas ao ano, o que representa uma injeção de R$ 947 milhões na economia nacional. Um mercado que depende da força de trabalho de milhares. Dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) apontam que os catadores são responsáveis por quase 90% da reciclagem no Brasil, e 66,1% deles se declaram pretos ou pardos, ou seja, dois em cada três catadores são negros ou negras em um universo de 1 milhão de pessoas nesta função.
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Os dados referentes ao setor da reciclagem refletem a realidade do país, grande parte da população negra tira seu sustento da informalidade. Pretos e pardos representam 47,4% dos informais contra 34,5% da população branca nesta situação. Enquanto muitos estarão vestindo fantasias e dançando atrás do bloco, muitos negros estarão catando latinhas, vendendo bebidas em isopor, sendo cordeiro ou vigiando carros estacionados.
Por consequência da história de escravidão do povo preto, parece dele o lugar de servir, limpar e cuidar de um espaço que é coletivo. A servidão é ensinada e passada de geração em geração, como uma das poucas alternativas de trabalho. Vejam o que acontece com o participante do BBB, Davi, jovem negro que tomou a frente no trabalho de cozinhar e preparar a mesa do café da manhã para os demais do reality. Davi foi ensinado a servir e poucos reconhecem o esforço, para a maioria da casa, ele é o vilão.
Davi foi chamado de manipulador, violento, e houve ainda participantes que alegaram sentir medo dele. Muitos também tentaram o diminuir, reproduzindo falas preconceituosas que remetem à xenofobia, quando o chamaram de “baiano comum”. Davi é uber e sonha em fazer uma faculdade. Um personagem típico desse Brasil da informalidade negra, com baixa escolaridade, sem chances dentro do mercado formal.
A redução da informalidade e a promoção do emprego e empreendedorismo formal são desafios fundamentais para o desenvolvimento econômico sustentável e redução das desigualdades. Neste caminho, é importante implementar políticas públicas, incentivos fiscais, ações sociais e educacionais, que podem ter como articuladores as organizações sem fins lucrativos, negócios de impacto, mas principalmente, as empresas.
Programas de microcrédito e linhas de financiamento específicas para empreendedores de pequeno porte podem facilitar o acesso a recursos financeiros, incentivando a formalização, por exemplo. Incubadoras e aceleradoras de negócios também desempenham um papel fundamental na orientação de novos empreendedores, oferecendo formação, suporte técnico e estratégico.
A Organização das Nações Unidas elaborou uma agenda global, conhecida pelos ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável). A ODS 8, “Trabalho Decente e Crescimento Econômico”, destaca a importância crucial de promover oportunidades de emprego digno e sustentável para todos, reconhecendo que o trabalho é um elemento central para o bem-estar individual e o desenvolvimento econômico.
As empresas têm um papel vital na consecução do ODS 8, adotando práticas sustentáveis, respeitando os direitos humanos e promovendo ambientes de trabalho éticos. Parcerias entre governos, setor privado e sociedade civil são também essenciais para criar políticas integradas e soluções inovadoras que considerem os desafios complexos relacionados ao trabalho digno.
A Avaliação de Impacto B (BIA) é uma ferramenta que ajuda empresas a medir seu impacto social e orienta o diagnóstico da gestão em cinco áreas, entre elas, o pilar trabalhadores. A tecnologia foi criada pelo Sistema B, organização global sem fins lucrativos, que orienta negócios na construção de um sistema econômico mais inclusivo, equitativo e regenerativo para as pessoas e para o planeta.
Ao alcançar o ODS 8, não apenas se promove a prosperidade econômica, mas também se contribui com uma sociedade mais justa. A valorização do trabalho como um direito fundamental e a promoção de ambientes de trabalho inclusivos são passos cruciais na construção de um futuro sustentável para todos.
*Priscilla Arantes é gerente de comunicação do Sistema B Brasil, e articuladora do Coletivo Pretas B, um projeto que apoia mulheres negras na rede do Sistema B Brasil por meio de mapeamento, mentoria, consultoria e capacitação, e fundadora do Instituto Afroella.
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