Uma nova e emocionante adição à literatura afro-brasileira está prestes a ser lançada. Intitulada “A Voz da Esperança”, a obra é criada por Juliane Ferreira Vasconcelos, João P. Luiz e Bernardo Aurélio, e será oficialmente apresentada ao público durante o 21º Salão do Livro do Piauí – SALIPI, que acontecerá entre os dias 11 e 20 de agosto. O projeto, selecionado pelo Rumos Itaú Cultural, traz à tona a importância histórica da carta escrita por Esperança Garcia, uma das primeiras denúncias de maus-tratos contra escravizados no Brasil.
A HQ “A Voz da Esperança” é um tributo à vida e à luta da escravizada piauiense Esperança Garcia. Seu legado é ampliado por meio desta obra, que também celebra a relevância da carta escrita por ela no século XVIII. Este documento histórico, considerado um dos primeiros textos afro-brasileiros conhecidos, revela as adversidades enfrentadas por Esperança e sua coragem ao denunciar os maus-tratos sofridos por escravizados.
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“Embora no Brasil não se tenha registrado uma prática comum de publicação de obras escritas por autores escravizados ou ex-escravizados, nos Estados Unidos houve um número significativo de publicações dessa natureza, denominadas slave narratives, sobretudo a partir da segunda metade do século XVIII, tais como os relatos de testemunhos e epístolas de escravizados fugitivos”, conta Juliane. “Produzir esse livro sobre a carta de Esperança Garcia é valorizar nossa raiz histórica e cultural.”
A divulgação da história de Esperança Garcia não se limitará apenas à HQ. A fim de tornar essa narrativa acessível a um público mais amplo, a obra estará disponível gratuitamente em formato de e-book, tanto em português quanto em inglês, por meio do link: http://avozdeesperancagarcia.quintacapa.com.br/. Além disso, cópias físicas da HQ serão destinadas a escolas públicas e comunidades quilombolas, buscando compartilhar a rica história dessa mulher inspiradora.
Além do lançamento da HQ, no dia 12 de agosto os autores abrem a exposição A Voz de Esperança Garcia, no Espaço Cultural do Teresina Shopping, com os desenhos que ilustram a publicação.
“Neste ano, o Piauí está voltado para Esperança Garcia. Além da nossa HQ, o SALIPI será inteiramente dedicado a ela. Também, o criador da feira, Douglas Machado, vai lançar o primeiro documentário sobre Esperança”, adianta João P. Luiz.
Douglas Machado, criador do Salão do Livro do Piauí também prepara um documentário sobre Esperança Garcia, que deve mostrar mais detalhes sobre a ex-escravizada que é considerada a primeira mulher advogada do Brasil.
Conheça a história de Esperança Garcia
Alfabetizada por jesuítas, Esperança entregou a carta ao governador da Província do Piauí, Gonçalo Lourenço Botelho de Castro, no dia 6 de setembro de 1770 – data em que hoje se comemora o Dia Estadual da Consciência Negra. Nela, relatava a violência sofrida por parte do feitor da fazenda para onde foi levada a trabalhar como cozinheira. Pedia, ainda, que fosse devolvida à sua fazenda de origem, chamada Algodões, e que sua filha fosse batizada.
A carta de Esperança é considerada a primeira petição escrita por uma mulher na história do estado, daí o reconhecimento da OAB que a converteu em primeira advogada mulher do país e precursora da advocacia no Piauí. Também é um documento importante para as origens da literatura afro-brasileira. “O manuscrito representa para esta literatura o mesmo que a Carta de Pero Vaz de Caminha, de 1500, corresponde para o cânone ocidental da literatura brasileira, como textos precursores”, afirma Juliane. “É certamente um dos registros escritos mais antigos da escravidão no Brasil, empunhado por uma escravizada negra e cativa, o que confere para a criação dessa narrativa gráfica o status de uma escritura da gênese literária afro-brasileira.”
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