Por Anderson Shon, Professor, Escritor e Poeta.
Se algum jornalista no futuro estudar as obras audiovisuais do novo século ele irá resumir tudo com um termo: nostalgia. Seja pelos remasters ou remakes, seja pelo que é original, mas bebe da fonte nostálgica para encantar os corações de quem não consegue cortar o cordão umbilical das emoções. E esse mesmo jornalista, ainda no futuro, irá terminar de escrever sua matéria, correr para o cinema para assistir a versão de Peter Pan de 2042 e ver alguém reclamando pelo fato da sininho usar calça jeans ao invés de vestido. A incapacidade do público nerd de aceitar mudanças não muda. Felizmente, a visão de um audiovisual mais inclusivo vem, em passos lentos, mudando, e dois lançamentos muito aguardados para esse ano serão importantes nessa luta: ‘A Pequena Sereia’ e ‘Barbie’.
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A primeira cena do trailer da Barbie tem uma mensagem singular “todas podem ser Barbies”… Calma, não tô dizendo que todas podem ser altas, magras e loiras, ninguém quer isso – quer dizer, alguém quer, mas não é a questão – a mensagem é sobre todo mundo pode ser influente na vida de alguém. A jovem preta que brincava com a Barbie tradicional pode ter a boneca dela vinda da Jaciane Melquiades, vinda da venda do bairro, das mãos habilidosas da avó, afinal, todas são “Barbies”. A nova Ariel também nos dá uma esperança bacana em percebermos que um personagem é muito maior do que a sua etnia e que a liberdade para mudar as cores, gêneros, origens não interferem em uma boa história. Os próximos meses nos reservam personagens e sereias negras e isso é maravilhoso. Esse texto poderia terminar por aqui… mas infelizmente não vai.
Como dito inicialmente, as obras audiovisuais do novo século se apegam muito à nostalgia e fãs mais nostálgicos odeiam que toquem nas obras “deles”. Esse conservadorismo fez com que a escalação de Halle Bailey, 23, incomodasse muita gente que aguardava uma mulher branca e ruiva para o papel. Um vídeo, que viralizou nas redes ao longo dos últimos meses, mostra como crianças negras se emocionaram ao perceberem que elas estavam ali na tela, que elas eram a Ariel, mas isso não foi o suficiente para que o argumento “por que vocês não fazem a Pequena Sereia de vocês?” não viesse à tona. Nem vou entrar no mérito de que sereias não existem, logo poderiam ser de qualquer cor. Sou nerd e respeito a nostalgia de todos, no entanto, respeito ainda mais o direito de ser visto. Façamos um teste… lembre de 3 obras que te dão uma sensação ótima de nostalgia da infância… a maioria tem protagonismo branco ou antropomorfizado. Isso não é uma pergunta, é uma afirmação. Se elas forem adaptadas idênticas ao material original, jamais teremos representatividade.
Há um medo em mim de pessoas que são contra representatividade ou que não conseguem terminar um debate sobre o assunto sem um adjunto adverbial de adversidade; “por mim tudo bem, MAAAAS…”. Qual é o problema de todos se verem? Se a questão é que estão sendo “roubados” seus personagens, eu posso até sugerir que vocês façam o mesmo… na verdade, não posso, pois para cada Super Choque existem dez Homem-Aranha, para cada Pantera Negra existe cem Super Man, para cada Lupin existem mil Sherlock Holmes, para cada Um Maluco no Pedaço existem milhões de Friends (Living Single o quê?). É uma batalha tão desleal que a sensação é de estarmos brincando de gangorra com alguém com o quíntuplo do nosso peso e, agora que estamos engordando um pouquinho vão dizer que a brincadeira não tem mais graça. Você realmente quer ver a Ariel ruiva, vai lá, assiste o desenho. E se antes do live action, eu quisesse ver a Ariel negra, eu tinha que fazer o quê?
Os próximos meses nos reservam representatividade, debate, nerds vociferando seus preconceitos e racismos fantasiados de crítica. E sabe de uma? Eu não só quero que tenha Barbies negras ou Ariel negra, quero Mulher Maravilha, Chiquinha, Nazaré Tedesco, Helenas, Buma, Capitã Marvel… Por mim, a coisa toda fica preta.
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