Mais do que um simples penteado, o uso de tranças por pessoas negras carrega conexão ancestral e todo um simbolismo histórico-cultural, passando inclusive por processos pessoais de autoconhecimento, aceitação, afirmação da identidade e empoderamento sobretudo para mulheres negras. Todavia, alguns cuidados precisam ser observados para que o hábito de trançar o cabelo não acarrete em consequências indesejáveis.
Segundo divulgação do Jornal Internacional de Dermatologia, 11% das mulheres negras são afetadas por queda de cabelo. De acordo com a pesquisa, o uso de variados produtos químicos, bem como alguns penteados ou métodos de trança são os principais fatores que acarretam na perda dos cabelos.
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A biomédica esteta com mais de dez anos de atuação, especialista em pele preta, Dra. Jéssica Magalhães, aponta os cuidados para que a colocação das tranças seja realizada de modo a minimizar possíveis prejuízos ao couro cabeludo.
“Primeiro garantir que a raiz do cabelo esteja saudável e limpa no momento de colocação. Nada de trançar onde já existe atividade de dermatite, psoríase ou alguma outra condição semelhante. Durante a colocação também precisamos de alguns cuidados por parte da profissional para minimizar a tração e a quebra dos fios, já que os cabelos crespos são muito mais frágeis. O uso de tônicos no couro cabeludo também ajuda a conter a inflamação da área, explica Jéssica.”
Uma condição muito comum quando se fala em queda de cabelo é a alopecia de tração, que é a perda generalizada de cabelos decorrente de traumas ou de processos inflamatórios crônicos na raiz do cabelo, geralmente resultante do manuseio incisivo dos fios, como o ato de puxar com força.
“A alopecia de tração é um tipo de perda de cabelos causada pelo puxar excessivo. Então penteados que puxam muito o cabelo podem causar uma inflamação na raiz que, caso não tratada, pode matar a origem dos fios. Uma vez que isso ocorra, não haverá mais crescimento de cabelo na região. É muito mais comum no público negro, uma vez que é parte importante da nossa cultura o uso de tranças e dreads, além do uso de alongamentos e técnicas de alisamentos que tracionam os fios”, ressalta a especialista.
Protagonistas em manter vivo, enquanto aspecto da identidade cultural e histórica, o hábito de trançar os cabelos, as profissionais da área, conhecidas como trancistas, também têm papel importante para a preservação capilar de sua clientela. Sobre isso, Dra Jéssica reforça a importância das profissionais tanto nos cuidados de manuseio, quanto na identificação e orientação das clientes.
“As profissionais da área precisam de mais orientações sobre a força colocada durante o processo. Isso porque é algo ancestral, elas não querem causar a perda de cabelo, apenas não foram instruídas que seria possível e como fazer.”
Além da força colocada durante o procedimento, há a necessidade de respeitar intervalo entre as colocações, não utilizar a remarcação anterior para recolocação (puxando sempre os mesmos lugares com maior intensidade) e identificar sinais de alteração na raiz dos fios para poder indicar a um profissional especializado os cuidados apropriados.
É válido ressaltar que os homens também estão sujeitos a alopecia de tração e decorrente queda de cabelo, sobretudo dada a popularidade das tranças e dreads nesse público. “Não é uma questão de gênero. Vemos mais mulheres acometidas porque são as que mais frequentemente utilizam desses penteados apertados, mas nada impede que homens também desenvolvam essa alopecia”, conclui a especialista.
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