Esse é um assunto recorrente em várias rodas de discussões, e de suma importância, pois ele implica em reflexões sobre vida afetiva, renúncias e conciliações, formação e convívio familiar e, eventualmente, gerenciamento de bens e de patrimônio.
O amor interracial é um manifesto legítimo? O senso crítico generalizado deve interferir nas preferências afetivas de quem quer que seja?
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Já está cientificamente provado que as pequenas diferenciações de pele, traços fenótipos e variações estéticas das pessoas são meras adequações biológicas promovidas nos seres humanos em razão de fatores ambientais e climáticos complexos e diversos. A composição biológica elementar entre negróides, caucasóides, asiáticos, nórdicos, ameríndios, esquimós, pigmeus, aborígenes e afins é imaculadamente A MESMA, e qualquer combinação desses grupos de humanos vai gerar frutos não híbridos que trarão em si a carga genética do pai e da mãe, sejam lá a que grupo de origem os pais e mães pertencerem.
Uma das qualidades para a sobrevivência da espécie humana na Terra é justamente a sua diversidade e esta habilidade genética crucial em adaptar-se aos mais diferentes ambientes do planeta.
Portanto, o amor interracial está previsto nos códigos da mãe natureza, dentro das regras de reprodução e continuidade da espécie.
Mas…Nas sociedades modernas o amor interracial não virá sem dor. Especificamente no mundo ocidental, território este que foi construído nos ventres e ombros de pessoas Africanas (e de suas descendências), por mais de 400 anos. A miscigenação com Europeus e nativos da terra, no novo continente, quase nunca foi consensual. Sempre ocorreu de forma furtiva e quase sempre violenta, notadamente contra as mulheres pretas e ameríndias.
No início do período colonial, muitos párias e marginalizados da matriz Portugal desembarcavam no Brasil. Não houve a entrada planejada de famílias constituídas no Brasil, pelo menos entre 1526 e 1759. Não existiu, portanto, o desembarque sistemático de mulheres Portuguesas no Brasil por quase dois séculos!!! Ou seja, por cerca de 200 anos as mulheres nativas e as africanas serviram de vazão para a satisfação de desejos inconfessáveis de toda a sorte da escória do reino português aqui despejada, gerando e realimentando estereótipos pejorativos sobre a sexualidade das mulheres locais e das mulheres sequestradas do outro lado do Atlântico.
E é em boa parte sobre esse imaginário que as relações interraciais se convergem e se constroem até os dias de hoje em nosso país, em que pese, sim, a sinceridade dos sentimentos entre homens brancos e mulheres pretas e nativas brasileiras.
Logo, um casal interracial contemporâneo haverá de ter a resiliência e a maturidade recomendáveis para enfrentar as vicissitudes que a maioria das relações afetivas com esse perfil acarretam: adequações comportamentais de ambos os lados, enfrentamento familiar e social, e fundamentalmente, a educação e a blindagem dos filhos e filhas, se esses surgirem.
Reflexão: Quantos casais interraciais com mais de 60 anos você conhece e que fazem parte do seu círculo de relacionamentos?
As particularidades da História do Brasil permitem o enquadramento de alguns padrões bem razoáveis sobre os caminhos que trilham os casais interraciais, dentro de determinados contextos e este texto propõe um direcionamento da análise desses pares sob o ponto de vista do poder econômico e do status social de um membro da relação, em equiparação ao parceiro ou parceira:
a) Mulher branca rica com homem preto de status inferior: É um caso raro de relacionamento afetivo. Pares com este perfil se formam quando a referida mulher adota um comportamento excêntrico e de rebeldia contra o ambiente que frequenta. Geralmente trata-se de mulher vinda de vários relacionamentos frustrados e que está em busca de alguma emoção afetiva mais intensa e chamativa. A mulher, neste caso, é o polo da relação e quer “causar”.
b) Mulher branca de status inferior com homem preto rico: É um caso clássico. Ele, em busca de uma aceitação menos traumática nos meios plutocráticos que o seu poder aquisitivo o permite frequentar. Há indicativos de que é um tipo de relacionamento que tem duração proporcional à manutenção do padrão de vida que o homem negro puder sustentar. Invariavelmente, na consumação do divórcio, boa parte do patrimônio do casal migra para a mulher/família branca, que por sua vez, em quase 100% das ocasiões, se casa de novo e com um homem branco.
c) Homem branco rico e mulher preta de status inferior: Um casal social improvável. Aqui a relação só se consuma nos subterrâneos da afetividade clandestina, onde o contato só ocorre de forma subversiva, eventual e oportuna (reproduzindo o modelo do período colonial, entre senhores de engenho e as mulheres pretas escravizadas). É impensável imaginar um jovem/homem branco de posses e status social estacionar o seu carro nos subúrbios e periferias de qualquer cidade para pegar “a sua pretinha” e ir pra uma balada de endinheirados dos bairros chiques do Brasil afora.
d) Mulher preta com status e homem preto: Invariavelmente, um casal com este perfil se consolida satisfatoriamente se o homem preto estiver em um mesmo patamar social e financeiro da mulher preta de status, uma vez que essa mulher seguramente frequenta ambientes em que a maioria das abordagens recebidas virão de homens brancos talvez com menos visibilidade, mas com poder aquisitivo igual ou superior.
Essas não são realidades estanques. Variáveis bem sucedidas dos mesmos casais descritos acima ocorrem com uma incidência que a prudência recomenda não ser ignorada.
Portanto, não é um absurdo defender a ideia de que o amor entre pessoas pretas é um encontro afetivo igualmente legítimo e autêntico, além de se mostrar como um verdadeiro ato político e de resistência. O Brasil já teve projetos explícitos de eugenia escancarada e um casal preto de mãos dadas e mostrando publicamente ao mundo a sua cumplicidade amorosa é uma cena MUITO LINDA de se testemunhar.
Que os casais interraciais celebrem a sua forma de amar. Sem famílias pretas, não existe “movimento negro”. Casal preto é também resistência, legado e herança. Amor preto cura e é dengo ancestral que se perpetua.
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