Por Michele Carlos
Você já riu ou quis corrigir alguém que falou “framengo”, “crima”, “craro”, “proprema”? Ou quem fala “naisci” ao invés de “nasci” e por aí vai?
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Talvez o que você não sabia até agora é que, na prática, nós brasileiros não falamos Português, e sim PRETUGUÊS. Tudo que consideramos “errado”, nada mais é que a marca de algumas línguas de África na construção do português brasileiro, em especial de origem bantu, tronco linguístico com mais de 600 línguas, trazidas a força durante a escravização.
Esse termo foi criado pela intelectual negra Lélia Gonzalez para se referir a essa sobre a africanização do idioma falado no nosso país. Ela não só falava pretuguês, como o adotou também na escrita dos seus textos acadêmicos. Esbarrou em muita gente higienista que defende a pureza da língua (como isso é possível?), mas ela não tava nem aí porque o que queria mesmo era ser compreendida pelo povo.
Historicamente falando, a língua foi uma ferramenta forte de colonização. Negros escravizados foram obrigados a mudarem seus nomes assim que desembarcaram no Brasil, assim como foi imposto a eles a falarem a língua do colonizador. Tudo isso porque a língua é um traço que nos conecta com a nossa origem, com que nós somos e de onde viemos, é um traço de resistência e conexão com os nossos. Sendo assim, a repressão linguística até hoje serve pra colocar as pessoas nesse lugar de “erradas”, “forasteiras”.
Quem fala mais fortemente o Pretuguês não deve ser taxada como uma pessoa que não sabe falar, que deve ser corrigida. Quem aponta a marca das línguas e dialetos afro como erros gramaticais pode estar praticando preconceito linguístico. Entender tudo isso, faz parte da também da fala sobre diversidade nos espaços. Não adianta pedir por pessoas diversas se vamos corrigí-las e tentar fazer com que a forma que ela se expressa através da fala seja alterada.
O Pretuguês não é apenas substituição do R pelo L. que é inexistente em alguns idiomas africanos. Vem de África também o fato de falarmos cantando na maior parte do país (herança da dupla vogal de idiomas do continente), a dupla negação (“não vai querer não”) ou a redundância (subir pra cima), sem falar a quantidade de palavras africanas que usamos diariamente, como bunda, cafuné, cachaça, quitanda fubá, muvuca, xingar, moleque… se eu for listar tudo esse texto vai virar uma quizumba só.
Por fim, viva Lélia Gonzalez, que nomeou nosso real idioma.
Fonte:
Texto Racismo e Sexismo na Cultura Brasileira, de Lélia Gonzalez.
Episódio Pretuguês com Jonas Andrade do Podcast Assuntando a Arte. Episódio Pretuguês, da série Enigma
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