Na tradição do Pensamento Ocidental pós Platão o corpo se torna o lugar da despotência. Ele defenderá que o corpo é o inimigo do Pensamento, lugar de falseamento da realidade, corrupção da verdade, da vida ética, chegando a dizer no Fédon que filosofar é um “querer morrer”, pois é dar conta da vida do Espírito, diante de um corpo que só atrapalha o pensamento.
A Dra. Marimba Ani defenderá que esse é o primeiro ataque sistemático a África. Platão tinha vindo dos Estudos em Kemet (Egito) e para a tradição do Pensamento africano o corpo é o lugar da manifestação do Poder.No entanto, ao rebaixar o corpo, Platão rebaixa a forma africana de apreender a realidade.
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O cristianismo continua e intensifica a tese de Platão. Paulo vai dizer que a carne (o corpo) é fraca, ou seja, tende ao pecado, enquanto o espírito (a razão) vivifica. Ao pecado se destina a morte.O corpo porque tende ao pecado é o que nos leva a danação eterna, portanto é preciso negá-lo, numa linguagem Freudiana é preciso reprimi-lo.
A partir daí é uma tradição de tecnologia e dispositivos de poder pra domesticar, censurar, despotencializar o corpo, as sensações, o desejo, etc. É preciso inventar um modelo rígido para o corpo.O corpo não pode ser múltiplo, diverso, pois ele tende a corrupção. É preciso construir uma corpo disciplinado (Foucault). Então existirá um modelo para o corpo. Corpo-padrão.
As redes sociais coloca um problema novo, pois é o espaço ideal para expor um corpo idealizado, um corpo modelo, um corpo padrão, o corpo que o Poder atual definirá como corpo aceitável, isso na violência do único corpo que existe que é o nosso. Marcado pelo tempo, marcado com nossas quedas, com nossa particularidade, diferença. Por isso amo seguir o perfil da minha irmã @dandara.afrodeusa e @atletadepeso, pois Elas são uma artilharia pesada contra essa tradição padronizadora e repressora do corpo. O corpo preto e gordo pode gozar e pode se exercitar sem culpa. Precisamos construir outro entendimento sobre o corpo.
Em África os deuses se manifestam no corpo, aliás, nosso corpo é a divindade, nele se reúnem todos os elementos da natureza. Por isso os deuses africanos dançam! Como diria Eduardo Galeano:”A Igreja diz: o corpo é uma culpa. A Ciência diz: o corpo é uma máquina. A publicidade diz: o corpo é um negócio. E o corpo diz: eu sou uma festa.”
Por isso o Ocidente pós Platao e Cristianismo ataca o corpo não-heteronormativo, pois é um corpo que inventa, se move, cria, ama fora dos limites do poder, do padrão, um corpo potente, uma carne que vibra e vivifica. Este é o seu corpo, ame-o. Ele é a manifestação de sua presença, ame-o.
Indicações Livro: Marimba Ani – Yurugu: Uma critica africano-centrada do Pensamento e Comportamento Cultural europeus.Pensar Nagô do Muniz Sodré
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