Por Silvia Nascimento – Diretora de Conteúdo do site Mundo Negro
Não se pode educar crianças negras sem ignorar o racismo. Não há motivos para paranoias, mas seria ingênuo achar que que elas são bem vistas em todos os espaços. Com a ascensão da classe média negra, as crianças afro-brasileira têm tido acesso não só a escolas particulares, mas restaurantes e outros espaços tradicionalmente brancos. Impedir que elas circulem esses espaços para não deparar com o racismo é limitador. O Mundo Negro conversou com alguns profissionais da área para saber como lidar com o racismo na perspectiva das crianças.
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“As experiências (boas e ruins) que vivemos na infância nos acompanham por toda vida nesse sentido, o racismo pode deixar marcar irreparáveis. Infelizmente nós não podemos evitar que as crianças passem por situações de racismo, contudo é preciso que elas encontrem e tenham um lugar de apoio, de conforto, que possam falar sobre isso e, principalmente sentir-se fortalecidas. Trabalhar a autoestima das crianças e jovens é um poderoso mecanismo de “blindagem” para elas”, explica a pedagoga Clelia Rosa, formada pela Unicamp.
Será que há uma idade certa para se falar sobre racismo? Para a pedagoga e doula, Edite Neves, não. “Não existe idade certa, comecei a conversar com meu filho desde que ele estava no meu ventre. Acredito que ele traz consigo uma memória emocional desde quando estava sendo aguardado por nós”. Já Rosa, fala de pesquisas que mostram que, por volta dos dois anos de idade a criança já percebe as diferenças entre ela e as demais pessoas, incluindo aqui, outras crianças. “ Ao apontarmos para elas as diferenças entre as pessoas, creio que já estamos falando de uma parte da questão racial e isso pode ir acontecendo na medida em que ele vai se descobrindo e descobrindo as pessoas a sua volta. Falar sobre o racismo vai depender do nível de desenvolvimento global da criança, ou seja, não basta ela ter 5 anos, idade cronológica, e preciso verificar também outros fatores como linguagem, capacidade de representação e compreensão”.
Referências
Bonecas brancas, falta de personagens negros nos desenhos e demais referências, fazem com que a criança possa ter problemas em aceitar sua pela escura ou cabelo crespo. Há aquele desejo inconsciente de querer parecer como a maioria para ser aceito no grupo. Para não frustrar os pequenos alguns pais cedem e recorrem a penteados “esticados” ou até mesmo a química.
“Há certas coisas que não negociamos em casa. Eu digo ao meu filho que enquanto eu cuidar do cabelo dele, ele será crespo, até que ele tenha idade suficiente para decidir e cuidar sozinho”, explica Neves.
E como usar os brinquedos com temática africana? Para Clelia esses brinquedos deveriam ser comprados para crianças de todas as etnias. “Para a criança negra ele é mais um elemento da sua representatividade, e pode sim ser um excelente aliado para elevar a autoestima delas. Para que isso aconteça esse brinquedo precisa além de afro, ser bonito pois, a beleza do objeto também conta para a criança. Para a criança não negra ele pode ser mais um elemento representativo da diversidade”.
Crianças racistas
Como lidar com os pequenos que praticam bullying contra crianças negras? “Diante desse fato, penso que o importante é afirmar ao ‘pequeno’ racista que, a criança que ele está discriminando, tem os mesmos direitos que ele, que são crianças diferentes sim, mas isso não é um impedimento para que a negra deixe por exemplo, de utilizar algum brinquedo.”
Clelia finaliza afirmando que deve-se dirigir a criança que agiu de forma racista esteja ela na presença dos pais ou não, mas sempre lembrando de agir de forma cuidadosa e respeitosa “penso que a criança ao cometer uma ação discriminatória deve ser orientada cautelosamente, usando uma linguagem que ela seja capaz de compreender. É importante lembrar também essa criança esta em processo de formação, esta aprendendo e não deve se sentir ameaçada e constrangida. É preciso sempre lembrar que criança está em formação está aprendendo.”
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