Por Felipe Basílio
“A Princesa e o Sapo” é um filme que não fez o sucesso estrondoso de outras produções da Disney, mas que tem um papel importante na história das animações.
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O longa foi baseado no tradicional conto “O príncipe Sapo” – aquela história onde o príncipe vira um sapo e o feitiço só é quebrado pelo beijo da princesa e foi desenhado utilizando a tecnologia tradicional de animação, isso em 2009! Foi uma volta às raízes dos tradicionais contos de princesa da Disney, com nomes como Aurora, Branca de Neve, Bela, Ariel, Rapunzel, Cinderela….
Eis aí a grande sacada do filme! Tiana foi a primeira princesa negra da Disney. Aqui um ponto importante. Ela não foi a primeira princesa que enaltecesse a diversidade – já tínhamos conhecido a Pocahontas (indígena), Esmeralda (cigana), a Jasmin (indiana), Mulan (oriental), mas Tiana foi a primeira que mostrou uma afrodescendente no papel principal. Mas muitos outros traços mostram que Tiana é uma princesa diferente de todas as demais.
OBSERVAÇÃO IMPORTANTE: Por mais que este filme possa ser visto como “de princesa”, é um filme que deve ser visto por todos, pois foge à história tradicional. Vamos a ela!
E vou direto ao ponto: Hoje vamos falar de REPRESENTATIVIDADE! Representatividade negra, representatividade feminina. Esse filme é uma lição de vida pra entendermos melhor a sociedade em que vivemos hoje, retratada em uma película infantil.
Tiana é filha de uma costureira e um cozinheiro e vive em Nova Orleans, cidade do Estado norte americano de Louisiana, conhecida pelo seu grande mix cultural, visto na música, na culinária e mesmo no Mardi Gras, (o carnaval deles). Mas está localizado no Sul dos EUA, região com uma longa história escravocrata.
(Um detalhe importante sobre o local escolhido para a história: Nova Orleans foi um dos locais mais atingidos pelo Furacão Katrina, em 2005. O filme presta uma bela homenagem à cidade, levantando a moral e auto estima que fora abalada pelo cataclisma.)
A história passa-se na década de 20 (mais especificamente em 1926 – eu li no jornal!), uma época onde, tanto as mulheres em geral quanto os negros de forma específica, ainda estavam lutando pelos seus direitos civis.
Desde cedo, Tiana mostra-se obstinada, com um pensamento bem progressista para a época (é só ver seu comportamento vs comportamento de sua amiga Charlotte). Enquanto sua amiga sonha com um príncipe encantado, Tiana sonha em abrir o próprio negócio.
Uma mulher negra sonhando em empreender? Esse cenário é muito presente na realidade brasileira, mas infelizmente, mesmo na prestação de serviços, ainda estamos sujeitos a situações onde a cor da pele fala mais alto.
Claro que o filme, por ser direcionado às crianças, não abordará o tema de maneira tão explícita assim, mas vemos que Tiana passa por alguns percalços em sua caminhada. Os locatários chamam Tiana de inexperiente, mas veja o movimento que ele faz com as mãos? Na MINHA percepção, uma crítica sutil dos produtores ao racismo, visto que eles desconfiavam de uma mulher, jovem e negra como empresária.
Mas Tiana não apenas sonhava, ela SE PREPARAVA! Além de se esforçar para que seu sonho fosse possível ela tinha visão a longo prazo, imaginando como seria o seu negócio.
Tiana sabia que seu sonho seria realizado a base de muito trabalho! Mesmo que isso sacrificasse alguns momentos de lazer.. Quantas mulheres não passam por isso também? Tiana não queria depender de ninguém para alcançar seus sonhos, mesmo que eles fossem motivo de chacota .
Interessante ver como a história das princesas mudou ao longo dos anos. Se antigamente elas sonhavam com um príncipe encantado e viveriam felizes para sempre, aqui o Príncipe Naveen é exatamente O OPOSTO de Tiana! Um bom vivant, de família rica e que vive para curtir a vida!
Seus caminhos se cruzam de maneira totalmente inesperada (SEM SPOILERS, GALERA!), mas a convivência entre ambos resultará no equilíbrio que todos buscamos em nossas vidas entre trabalho e diversão! Tiana não depende de ninguém para fazer o que precisa ser feito .
Voltando a questão da representatividade, importante notar que o filme foi lançado em pleno governo Obama, um marco na história estadunidense, país que saiu de uma guerra racial para um presidente eleito em apenas 40 anos. Além disso, personagens como o crocodilo Louis e o vaga lume Ray homenageiam figuras negras da música norte-americana. E a Euroda, mãe de Tiana, é dublada por ninguém menos que OPRAH WINFREY, uma das pessoas (mulher, homem, branco, negro, não importa!) mais influentes do mundo! Além da trilha sonora ser basicamente composta por jazz e blues, de clara influência negra!
Um ponto importantíssimo que nós, pais, devemos prestar atenção no filme é com a auto estima da personagem principal! Tiana não se deixa abalar pelas situações, pois além de saber o que queria, mantinha valores que aprendeu com seus pais desde. Mesmo que possam surgir atalhos no caminho há um motivo para este atalho não ser o caminho original a ser trilhado.
O filme, além da representatividade e poder feminino, traz valiosas lições sobre empreendedorismo e o poder do $$$, mas hoje eu quis abordar sobre este ponto de vista pois vivemos ainda hoje, ou seja, 90 anos após a época do filme, em uma sociedade machista e racista. Eu fui criado com 6 tias, pela minha avó, vi minha mãe sair para trabalhar todos os dias, acompanho a luta da minha esposa em cuidar de seus negócios e aprendi a ser pai cuidando da minha filha.
E o imprescindível: Agora as crianças negras podem se ver representadas como uma princesa da Disney! Mas também como empreendedoras, como líderes, como professoras. Elas têm referência! Isso é muito importante no desenvolvimento das crianças.
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