As eleições americanas de 2024 trouxeram à tona a importância estratégica do voto da comunidade negra, especialmente com a possibilidade histórica de Kamala Harris se tornar a primeira mulher negra na presidência dos Estados Unidos.
Embora rumores e previsões sugerissem um afastamento de homens negros jovens em relação ao Partido Democrata, as urnas contaram uma história diferente. O apoio da comunidade negra a Harris se manteve forte, desafiando a narrativa de uma possível migração para o apoio a Trump.
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De acordo com pesquisas de saída publicadas pelo The Washington Post, 78% dos homens negros votaram em Kamala Harris, uma cifra levemente inferior à registrada por Joe Biden em 2020. No entanto, em estados como a Carolina do Norte, 1 em cada 5 homens negros optou por Trump, dobrando seu apoio em relação às eleições de 2020, segundo dados da CBS.
Esse movimento ilustra uma leve fragmentação, mas que não comprometeu o suporte robusto de homens e mulheres negras em grande parte do país. As mulheres negras, em particular, se destacaram por seu apoio a Harris, com 92% dos votos destinados à candidata democrata – uma porcentagem ainda maior do que a observada em 2020 para Biden.
Em entrevista realizada antes das eleições pelo Mundo Negro, Kasiyah Tatem, uma jovem liderança de Washington, D.C., observou como a desinformação teve um papel importante no processo. “Há essa desinformação de que Trump proporcionou alguma vantagem econômica para eles durante sua presidência. Eles acreditam que os ‘cheques de estímulo’ vieram dele, quando na verdade foram iniciativas promovidas pelos democratas no Congresso,” explicou Tatem, destacando como mal-entendidos sobre a economia criaram uma percepção equivocada entre alguns eleitores.
Outro entrevistado, o cientista político John Kincaid, diretor do Meyner Center for the Study of State and Local Government, sugeriu que o apelo de Trump para jovens homens negros pode estar relacionado a uma visão de crescimento econômico pessoal. “Alguns veem Trump como mais favorável aos interesses empresariais, especialmente aqueles que aspiram a empreender. Eles o veem como um facilitador do crescimento para pequenos negócios, uma vez que ele próprio tem uma trajetória como empresário,” afirmou Kincaid, ressaltando uma mudança geracional em que muitos eleitores negros valorizam o empreendedorismo como meio de alcançar igualdade.
Além do impacto do voto negro na eleição presidencial, este ano também marcou um avanço histórico no Senado dos Estados Unidos. Pela primeira vez, duas mulheres negras foram eleitas para servir simultaneamente: Angela Alsobrooks, de Maryland, e Lisa Blunt Rochester, de Delaware, ambas do Partido Democrata. Com suas vitórias, o número de mulheres negras no Senado dobrou, passando de duas para quatro, e reforçando a presença política negra em um dos principais espaços de poder dos EUA.
Apesar da lealdade demonstrada pela maioria dos eleitores negros, outros grupos demográficos tiveram impactos decisivos no resultado final das eleições.
Segundo o The Washington Post, 55% dos eleitores brancos escolheram Trump, incluindo 59% dos homens brancos e 52% das mulheres brancas. Latinos também apresentaram uma preferência por Trump, especialmente entre os homens, dos quais 54% votaram no candidato republicano.
Cliff Albright, cofundador da organização Black Voters Matter, destacou essa dinâmica em uma declaração pós-eleitoral. “Alguns passaram muito tempo questionando o voto dos homens negros e esqueceram de observar mais atentamente o voto das mulheres brancas e dos eleitores latinos,” comentou ele, chamando a atenção para a diversidade de influências nas decisões eleitorais deste ano.
O Mundo Negro está nos Estados Unidos a convite do governo americano, por meio do consulado dos EUA em São Paulo, participando do “Reporting Tour” para acompanhar de perto as eleições americanas e suas implicações para a comunidade negra. A cobertura está sendo feita na pagina de Instagram do Mundo Negro e no perfil pessoal da @silvia_nascimentoo, fundadora do portal.
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