70 anos de telenovelas no Brasil: um histórico lento de inclusão para negros

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70 anos de telenovelas no Brasil: um histórico lento de inclusão para negros
Reprodução / Rede Globo

Em 2021, a TV Globo celebra 70 anos de telenovelas no Brasil, mas o caminho para inclusão de pessoas negras neste espaço ainda ocorre de forma lenta. O histórico, na verdade, demonstra as poucas oportunidades dentro da teledramaturgia brasileira.

Sim, as novelas seguem em constante transformação, gerando debates importantes, influenciando gerações de pessoas, que se veem representadas nas telas. Paixão nacional, o amor pelas novelas fez do Brasil um grande exportador do segmento. Num país onde a maioria da população é negra, foram poucos os reflexos dessa imagem na televisão.

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Sérgio Cardoso e Ruth de Souza em ‘A Cabana do Pai Tomás’ (1969) / Rede Globo

Sem personagens negros, ‘Sua Vida me Pertence’, primeira telenovela brasileira, estreou no dia 21 de dezembro de 1951 na TV Tupi, desde então, ao longo de 70 anos, o caminho em busca de inclusão foi lento e em muitos momentos, quase que inexistente. Em 1965, Yolanda Braga, se tornou a primeira atriz negra a protagonizar uma telenovela no Brasil, através de ‘Sua Pele’, da TV Tupi.  Cerca de 4 anos depois, em 1969, Ruth de Souza, se tornou a primeira atriz negra a protagonizar uma telenovela na Rede Globo, em ‘A Cabana do Pai Tomás’. Na verdade, o protagonismo de Ruth foi questionável, já que a obra foi cercada de polêmicas. A agência de publicidade Colgate-Palmolive, responsável pelo patrocínio da novela na época, influenciou diretamente na escolha do ator para o papel principal de Tomás, um negro abolicionista. A agência acabou escolhendo o ator branco Sérgio Cardoso para interpretar Tomás. Caracterização do ator incluía a pintura do corpo, peruca e rolhas no nariz, um caso absurdo de ‘blackface’. Em 2013, Ruth chegou a revelar que sofreu racismo de outras atrizes brancas da telenovela, que não aceitaram o nome dela aparecer primeiro nos créditos ou o fato de seu papel ser tratado como de maior destaque.

Taís Araújo em ‘Da Cor do Pecado’ (2004) / Rede Globo

Décadas depois, em 1996, Taís Araújo se tornou a terceira atriz negra a protagonizar uma telenovela brasileira em ‘Xica da Silva’ (1996), na Rede Manchete. Oito anos depois, em 2004, Taís se tornou também, a primeira protagonista negra de uma telenovela da Rede Globo, em ‘Da Cor do Pecado’.

Ao longo do caminho, dentro da Rede Globo, outros grandes nomes também ganharam destaque, como Zezé Motta, Camila Pitanga, Lázaro Ramos, Ailton Graça, Rafael Zulu, Lucy Ramos, Erika Januza, Cris Vianna, Sérgio Malheiros, Ícaro Silva, dentre outros. Contudo, numa proporção muito menor, quando analisamos o leque de oportunidades para pessoas brancas. Até mesmo nos recentes vídeos comemorativos de 70 anos de teledramaturgia da Globo, é possível perceber o fosso entre protagonismos nas produções. Dentro da TV, historicamente, nos foram reservados papéis secundários como domésticos e indivíduos marginalizados. A verdade, é que até hoje,  poucas vezes observamos negros em papéis de riqueza e luxo. 

Camila Pitanga e Lázaro Ramos em ‘Lado a Lado’ (2012) / Rede Globo

Aqui, vale citar e recomendar o documentário ‘ A Negação do Brasil’, dirigido por Joel Zito Araújo e lançado em 2000. Obra traz uma retrospectiva das telenovelas no Brasil, à época, analisando os papéis destinados aos atores negros. Registro concluiu que os negros sempre representavam papéis coadjuvantes, estereotipados e submissos. Tendo por ponto de partida sua memória e uma subsequente pesquisa, o filme serve de manifesto para que entendamos que se a identidade etno-cultural do negro foi negativamente moldada pelas telenovelas.

Em 2018, o Ministério Público do Trabalho chegou a recomendar à TV Globo algumas medidas para promover a participação de pessoas negras em produções audiovisuais. A ação foi motivada pela ausência de personagens pretos e pardos na novela ‘Segundo Sol’, ambientada em Salvador, na Bahia. 

Parte do elenco principal de ‘Segundo Sol’ (2018) / Rede Globo

As mudanças precisam ser efetivas, que para os próximos anos, mais atores negros possam adentrar nos espaços de poder da teledramaturgia, seja da Rede Globo ou de outras emissoras. Que mais pessoas pretas sejam contratadas para cargos de direção, escrita, roteiro e análise, que os estereótipos associados à nossa cor encontrem seu fim e que não sejam amplificados através da televisão. O caminho da diversidade é o agora, a mudança precisa ser efetiva e não superficial. 

Referências e links úteis:

A representação dos negros na Rede Globo e na TV Brasil na semana do “dia nacional da consciência negra”. Sales Augusto dos Santos e Ivonete da Silva Lopes: https://juslaboris.tst.jus.br/handle/20.500.12178/19637

A Representação da Mulher Negra na Teledramaturgia Brasileira: Um Olhar Sobre A Helena Negra de Manoel Carlos. https://monografias.brasilescola.uol.com.br/arte-cultura/a-representacao-mulher-negra-na-teledramaturgia-brasileira.htm

70 Anos Esta Noite’: História das novelas no Brasil é celebrada em especial nesta terça. https://g1.globo.com/pop-arte/tv-e-series/noticia/2021/12/21/70-anos-esta-noite-historia-das-novelas-no-brasil-e-celebrada-em-especial-nesta-terca.ghtml

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