Texto: Kelly Baptista
Soft skills, e-learning, revolução 4.0: como isso afeta diretamente a educação de alunos negros, vulneráveis e periféricos da rede pública de ensino?
O ano mal começou e já fomos bombardeados com mil e uma informações sobre as tendências que dominarão a educação em 2023. Ensino híbrido, educação socioemocional, e-learning e microlearning, personalização do ensino, entre outras, mas será que isso se aplica a toda população estudantil brasileira? As escolas de zonas periféricas e rurais estão prontas para este novo contexto?
Notícias Relacionadas
A falha da Mascavo: Um espelho das lacunas no compromisso empresarial com a diversidade
Tema do ENEM: a chave poderia ser a Constituição Federal
Batizada também de 4ª Revolução Industrial, esse fenômeno está mudando, em grande escala, a automação e troca de dados, bem como as etapas de produção e os modelos de negócios, por meio do uso de máquinas e computadores. Inovação, eficiência e customização são as palavras-chave para definir o conceito de Indústria 4.0, essa revolução também afeta as maneiras de aprender e ensinar.
Com as novas tecnologias, 50% dos empregos e formas de trabalho podem ser afetados, somado a pandemia do covid-19 e seu isolamento social, isso foi intensificado, sendo assim, as salas de aula precisaram se adaptar à habilidades de autoaprendizagem, e competências socioemocionais.
Observando o cenário de fechamento das escolas na pandemia, os anos finais do ensino fundamental e ensino médio foram os mais impactados, com destaque para os estudantes do sexo masculino, pardos, negros e indígenas, com mães que não finalizaram o ensino fundamental. Esses foram os mais afetados pela pandemia, conforme apontou um levantamento encomendado pela Fundação Lemann ao Centro de Aprendizagem em Avaliação e Resultados para o Brasil e a África Lusófona (Clear), vinculado à Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas (FGV EESP).
O Brasil, em especial, é considerado o país mais ansioso do mundo segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), com 11,5 milhões de pessoas diagnosticadas com depressão. Uma pesquisa da Unicef revelou ainda que 35% dos jovens se consideram ansiosos e dentre os entrevistados, a metade sentiu necessidade de pedir ajuda em relação à saúde mental, mas 40% deles não recorreram a ninguém.
Para o mundo do trabalho, habilidades como pensamento crítico, resolução de problemas, gestão de pessoas e criatividade têm sido muito mais valorizadas, companhias querem colaboradores com “senso de dono” que entendam como tomar decisões difíceis e mostrar suas habilidades de liderança, sendo assim é possível mapear três de algumas das principais tendências para este ano:
1. Ensino híbrido
De forma emergencial foi adotado nos primeiros meses da pandemia, porém muitas instituições de ensino, não conseguiram se adaptar, por falta de equipamentos e tecnologia de professores e alunos, pós-pandemia o modelo segue avançando, principalmente em estados que ampliaram a carga horária de ensino. Trata-se de uma metodologia que mescla aulas e exercícios online e presenciais, com auxílio de ferramentas digitais. O AprendiZAP, desenvolvido e criado pela Fundação 1Bi, é uma ferramenta 100% gratuita de complemento escolar para alunos de escolas públicas e de apoio para professores na construção de suas aulas. Mais de 1 milhão de pessoas já foram beneficiadas através da nossa plataforma e chatbot no WhatsApp, o objetivo é que em 2023 esse número aumente em 30%.
2. Educação socioemocional
Exigida pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC), deve estar presente em toda a Educação Básica, estimulando estudantes a desenvolverem suas soft skills, esta tendência deve ser uma das que continuará no futuro.
3. Microlearning
Parecido com o E-learning(uma forma de educação a distância que emprega recursos computacionais e audiovisuais para promover o aprendizado a uma pessoa, um grupo ou uma comunidade), consiste na “quebra” de conteúdos em pequenas unidades, mais focadas e objetivas. As aulas (ou atividades) do Microlearning acontecem em um tempo curto, com uma linguagem simples, de fácil compreensão e podem contar com o apoio de recursos multimídia, como vídeos, por exemplo.
Mas essas inovações atingem as escolas de periferias urbanas e rurais e a população negra?
Ter computador em casa hoje ainda é um privilégio que não chega a muitos alunos da escola pública e ter uma estrutura de tecnologia também não atinge a maioria das Escolas Públicas, sem essa realidade é impossivel, que negros, pobres e periféricos, acessem tais revoluçoes tecnológicas.
Segundo uma pesquisa da Agencia Brasil, estudantes negros mais pobres sofreram mais com impactos negativos durante a pandemia de covid-19 no país, em maio de 2020, 79% dos estudantes brancos já tinham esse tipo de acesso, contra 70% dos alunos negros. Dados de setembro de 2021 mostram que um estudante negro de renda familiar abaixo de dois salários-mínimos tem quatro vezes menos chance de ter em sua casa um computador com internet na comparação com um branco de renda familiar maior que dois salários-mínimos, são 21% contra 86%, respectivamente.
Pessoas negras, consideradas de um grupo menos escolarizado, não foram beneficiadas pelo home office e boa parte não acessou o ensino remoto.
Sendo assim, não podemos afirmar que as novas tendências da educação chegará a todos os estudantes, é preciso ter condições básicas de vida para um equilíbrio emocional, desenvolvimento de softs skills e acesso ao mercado de trabalho.
*Kelly Baptista Gestora Pública, diretora executiva da Fundação 1Bi, mentora, membro da Rede de Líderes Fundação Lemann e Conselheira Fiscal do Instituto Djeanne Firmino.
Fonte de apoio:
Notícias Recentes
Em dia de eleições nos EUA, Beyoncé lança clipe “Beywatch”, homenageia Pamela Anderson e incentiva voto
'Os Quatro da Candelária' e as Paternidades Negras: Um olhar humanizado para os cuidados dos homens negros