Zumbi, infanticídio e memória da rebeldia negra

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Zumbi, infanticídio e memória da rebeldia negra
Foto: Divulgação

No filme “Bem-Amada”, protagonizado por Oprah Winfrey, Danny Glover e Thandiwe Newton, baseado no clássico da sublime escritora afro-americana Toni Morrison sobre a escravização, a negra Sethe é atormentada pela lembrança da filha que ela preferiu sacrificar a ver escravizada. 

A decisão angustiante de Sethe marca a trajetória de milhares de pessoas escravizadas que vislumbraram no infanticídio, no aborto ou no suicídio um destino menos assombroso do que o cativeiro.

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A reação possível, o inconformismo, a rebeldia negra manifesta-se sob variadas formas: inquéritos policiais registram que escravizados assassinavam seus senhores por vingança e porque julgavam que o cárcere seria menos indigno do que o cativeiro.

Ações armadas como a Revolta dos Malês, a Balaiada ou batalhas judiciais como as ações de liberdade (vide livro “Liberata”) e a litigância civilizatória de Luiz Gama ilustram a incessante insurreição negra contra os horrores de três séculos e meio de escravização; o holocausto africano, nas palavras de Abdias do Nascimento.

Os quilombos, sabe-se hoje que existem cerca de 8.500 deles espalhados pelo país, representaram a forma mais sofisticada e ousada da insurgência negra à medida em que instituíram territórios livres no interior da própria colônia.

No longínquo 20 de novembro de 1971 o Supremo Tribunal Federal ainda não havia cunhado a expressão direito à memória quando um grupo de jovens negros e negras gaúchas decidiu lançar uma campanha pelo reconhecimento do dia 20 de novembro como Dia Nacional da Consciência Negra.

Meio século depois o Brasil celebra a vida e morte de Zumbi dos Palmares reconhecendo-a como símbolo do legado de dignidade, insubordinação, tenacidade e protagonismo dos cerca de cinco milhões de seres humanos sequestrados pelo tráfico transatlântico e trazidos para estas plagas.

O elo da corrente que liga a força descomunal da escravizada “Sethe” à Dandara dos Palmares, a Zumbi e ao poeta Oliveira Silveira, idealizador do Dia da Consciência Negra, mantém viva a esperança de que a memória da reação negra prossiga superando o apagamento e naturalização da barbárie que insiste em lucrar com o racismo enquanto desdenha das dores lancinantes do povo preto. 

Valeu Zumbi!

Texto: Hédio Silva Jr., Advogado, Doutor em Direito, fundador do Jusracial e Coordenador do curso “Prática Jurídica em casos de Discriminação Racial e Religiosa”

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