Por Patricia Brentzel*

Em uma sociedade onde o capitalismo insiste em transformar datas comemorativas em produtos de consumo, chegamos ao Dia das Mulheres – como se fosse o único. Recebemos flores, somos chamadas de guerreiras e ouvimos a mesma pataquada que já não suportamos mais. Mas aí eu me pergunto: esse “suposto”, ou melhor, “imposto” Dia das Mulheres realmente nos representa? Claro que não.

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Como publicitária e sommelière, atuando há 22 anos no mercado de bebidas, raríssimas vezes vi meu rosto ou meu trabalho destacados em matérias comemorativas como as do 8 de março. E, para dizer a verdade, nem no Dia Nacional ou Internacional dos Sommeliers mulheres negras, indígenas e orientais são celebradas e têm suas atuações divulgadas – e muito menos a comunidade LGBTQIAPN+. Deve ser porque não costumamos ocupar esses espaços? Será mesmo? Claro que não.

Como li hoje na matéria da minha amiga e jornalista Isabelle Moreira Lima, no Guia da Folha de S.Paulo, as mulheres são protagonistas no mundo do vinho há algum tempo. E eu não só concordo, como vivencio isso diariamente. Sommelieres educadoras, consultoras e empreendedoras como eu estão por toda parte: comandando importadoras, atuando como consultoras comerciais, enólogas, agrônomas, jornalistas, blogueiras, influenciadoras e entusiastas. Estamos realizando um grande trabalho.

Agradeço a Isabelle por, através dessa matéria, me dar ânimo (porque sim, estou e estamos exaustas) para, do meu lugar de fala – como uma mulher afro-indígena e sommelière –, estender a mão e mandar um abraço afetuoso a todas as mulheres negras, indígenas, orientais e à comunidade LGBTQIAPN+ que atuam não só no mundo do vinho, mas também no mercado cervejeiro e na coquetelaria, onde também transito profissionalmente com muito orgulho.

Pode parecer pouco diante da realidade machista e racista que enfrentamos todos os dias. E é. Mas ainda assim, continuo acreditando que, talvez, neste dia, possamos lembrar da importância de darmos as mãos e nos fortalecermos diariamente. Porque todos os dias são nossos – e devem ser de todas nós.

E para quem ainda duvida da presença e da força das mulheres negras e indígenas no mundo do vinho, aqui estão algumas das muitas profissionais que fazem a diferença e que deveriam ser amplamente reconhecidas pelo seu trabalho: Eliane B Silva (@videwine), Raissa Cachoeira (@ellasvinhos), Lígia Aleixo (@lesvignoblesdedemain), Raquel Queiroz (@ra.queiroz), Erika Firmo (@sommelierikaf), Patrícia Penha (@patriciapenha_vinhos), Carol Souzah (@carousou_sommeliere), Márcia Alpaes (@marciapaes_sommelier), Antonia Cruz (@afrommeliere_), Manuelle de Oliveira (@entre_vinhas_vinhos), Rosangela Oliveira (@ro_oliveira75), Larissia Bezerra (@enotrajetoria), Aline Guedes (@chefalineguedes), Andrea Ferreira (@andrea.confraconstantia), Geíza Abreu (@uvizaa), Paula Theotonio (@paulatheotonio), Suely Cavalcanti (@suely.m.cavalcanti), Nivia Rodrigues (@confrariavinhonegro) e Luiza Dias (@cantindovinho).

Que este seja um lembrete de que estamos aqui, ocupamos esses espaços e seguimos construindo um mercado mais diverso e representativo.

  • Patricia Brentzel é sommelière, empresária e educadora afro-indígena com 21 anos de atuação no mercado de bebidas. Fundadora do Beba Bem e referência no vinho natural no Brasil, é apresentadora do podcast “Que Vinho Foi Esse?”.

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