Nos Estados Unidos, políticas de Diversidade, Equidade e Inclusão (DEI) estão sob forte ataque. Em declarações recentes, o ex-presidente Donald Trump afirmou que pretende desmantelar essas iniciativas e compensar financeiramente estudantes brancos que, segundo ele, foram prejudicados pelas políticas de equidade. Essa postura é reforçada pelo Project 2025, um plano conservador elaborado pela Heritage Foundation que visa erradicar o DEI em instituições federais e educacionais, criando o que críticos consideram um retrocesso nos direitos civis. Para Linn Washington Jr., professor de jornalismo na Temple University e experiente analista de questões de raça e justiça nos Estados Unidos, o movimento lembra a era das Leis Jim Crow, que institucionalizaram a segregação racial no país e promoveram divisões sociais e econômicas com impactos duradouros na população negra.
Washington Jr. destaca que as políticas de DEI foram desenvolvidas para enfrentar desigualdades estruturais e incluir grupos historicamente marginalizados. Ele acredita que o desmantelamento dessas iniciativas representa uma ameaça aos avanços conquistados na igualdade racial e social. “Eles querem acabar com todo o DEI. DEI agora se tornou a pior coisa do mundo, como se estivessem ‘vindo atrás dos seus filhos’, querendo mudar suas ideias,” afirmou o professor. Para ele, o ataque ao DEI reflete um padrão histórico de exclusão, e ele traça paralelos entre o momento atual e a implementação das Leis Jim Crow no final do século XIX.
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Segundo Washington Jr., as Leis Jim Crow foram criadas em uma época de crise econômica, quando fazendeiros brancos e negros pobres começaram a se unir contra a opressão econômica. “Na década de 1890, com a depressão no país, fazendeiros pobres do sul — negros e brancos — começaram a perceber que tinham algo em comum: a pobreza. Eles entendiam que o problema não era entre eles, mas o capitalismo do norte, que os explorava,” explicou o professor. Para evitar essa união, foram instituídas as Leis Jim Crow, estabelecendo divisões raciais. Washington Jr. vê um padrão semelhante na retórica conservadora contra o DEI, onde a questão racial é usada para fomentar divisões e impedir a união das comunidades.
A fala recente de Trump, em um vídeo de 2023, reafirma sua postura anti-DEI ao prometer medidas punitivas contra instituições que promovam iniciativas de equidade. “As escolas que persistirem na discriminação explícita e ilegal, sob o pretexto de equidade, não apenas terão suas dotações tributadas, mas… serão multadas em até o valor total de suas dotações,” afirmou Trump. Ele ainda acrescentou: “Vamos tirar essa insanidade antiamericana de nossas instituições de uma vez por todas.”
O Project 2025, elaborado pela Heritage Foundation, formaliza esse movimento ao propor a eliminação de termos como “diversidade”, “equidade” e “inclusão” de regulamentações federais, e até o fechamento do Departamento de Educação, apontado como disseminador dessas políticas. A Teen Vogue criticou o plano, destacando que ele representa um “retrocesso perigoso” e um “apagamento das conquistas na luta contra a desigualdade racial e social nos EUA.”
Na visão do professor, a oposição ao DEI não é apenas uma questão de ideologia, mas uma ameaça estrutural que pode comprometer décadas de progresso em direitos civis e inclusão.
(Nota: A entrevista com o professor Linn Washington Jr. foi realizada por nossa equipe durante o Reporting Tour nos EUA, um programa que reúne jornalistas internacionais para cobrir questões de relevância global.)
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