Tété-Michel Kpomassie: conheça a história do primeiro africano a chegar à Groenlândia

0
Tété-Michel Kpomassie: conheça a história do primeiro africano a chegar à Groenlândia
Foto: Reprodução

Em 1958, um jovem togolês de 16 anos, Tété-Michel Kpomassie, teve um encontro que mudaria sua vida para sempre. Enquanto comia um coco no topo de uma palmeira, ele se deparou com uma cobra. Ao tentar escapar, caiu de uma altura de quase 10 metros. O acidente deixou marcas profundas: nos dias seguintes, pesadelos com serpentes o assombravam. Seu pai, um curandeiro e eletricista com oito esposas e 26 filhos, decidiu que a solução seria levá-lo a uma sacerdotisa do culto às pítons. Para Tété-Michel, no entanto, a ideia de dedicar sua vida à adoração de cobras parecia mais uma sentença de morte do que uma honra.

Foi em uma biblioteca missionária francesa, onde se refugiou para “recuperar as forças”, que ele encontrou um livro que o levaria a uma jornada extraordinária: Os esquimós da Groenlândia e do Alasca. Nas páginas da obra, descobriu um lugar onde não havia cobras nem lagartos — a Groenlândia. Naquele momento, decidiu que deixaria o Togo para viver no Ártico.

Notícias Relacionadas


Aos 16 anos, sem recursos ou experiência, Tété-Michel começou uma viagem que duraria oito anos, passando por Gana, Costa do Marfim, Senegal e Europa, até finalmente chegar à Dinamarca, de onde partiu para a Groenlândia em 1967, de acordo com reportagem publicada pela BBC. Ele se tornaria o primeiro africano de que se tem registro a pisar na ilha gelada. Sua jornada foi transformada no livro Um africano na Groenlândia, publicado em 1981.

Ao desembarcar em Qaqortoq, no sul da Groenlândia, Tété-Michel foi recebido por uma multidão curiosa. Para os habitantes locais, ele era a primeira pessoa negra que viam. “Olhei pela janela do navio e vi toda a população reunida na costa”, lembra. As crianças, inicialmente assustadas, logo se encantaram com o “gigante africano”, como o apelidaram devido à sua altura de 1,80 m — imponente para os groenlandeses, que raramente ultrapassam 1,60 m.

Aos poucos, Tété-Michel foi conquistando a confiança dos moradores. Aprendeu a andar de trenó puxado por cães, caçar focas e enfrentar temperaturas de -40°C. “Mesmo a -30°C, eu estava sofrendo, mas feliz. Senti que havia conquistado minha liberdade”, relata.

Apesar das diferenças climáticas e geográficas, Tété-Michel encontrou semelhanças entre a cultura inuíte e a de seu país natal. “O que eu realmente amei na Groenlândia foi seu animismo, que me lembrou da África. Eles acreditam que cada coisa tem uma alma: focas, baleias, renas selvagens — todos os animais têm um espírito, assim como os humanos”, diz.

Após meses no sul da Groenlândia, ele seguiu para o norte, onde viveu em uma pequena vila com apenas 29 casas e 170 habitantes. Foi lá que dominou a arte de caçar no gelo e aprendeu a apreciar o inverno ártico. “No inverno, todo o Ártico se torna sua casa, seu reino”, descreve.

O retorno ao Togo e o legado
Após anos na Groenlândia, Tété-Michel sentiu que era hora de voltar para casa. Retornou ao Togo como um homem de 28 anos, carregando histórias que encantaram sua família e comunidade. “A Groenlândia me tornou um homem. Tornei-me uma espécie de homem sábio, alguém a quem todos prestavam atenção”, afirma.

Em 1981, ele publicou Um africano na Groenlândia, livro que narra sua incrível jornada e se tornou um sucesso internacional. Hoje, Tété-Michel é convidado a palestrar em universidades e é referência para antropólogos e etnólogos. “Construí uma ponte entre a África e a Groenlândia”, diz.

Notícias Recentes

Participe de nosso grupo no Telegram

Receba notícias quentinhas do site pelo nosso Telegram, clique no
botão abaixo para acessar as novidades.

Comments

No posts to display