A Suprema Corte dos EUA vai julgar, neste mês, duas ações que pedem o fim do critério de raça na admissão de estudantes em universidades. Segundo informações publicadas pelo jornal Folha de S. Paulo, analistas afirmam que a medida pode mudar substancialmente o panorama nas universidades norte-americanas.
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O pedido na justiça americana foi feito pela SFFA (Estudantes Pela Admissão Justa, em tradução livre) contra as universidades de Harvard e da Carolina do Norte. A entidade que entrou com o pedido de proibição das ações afirmativas, diz representar 20 mil pais e estudantes e foi fundada por Edward Blum, um estrategista conservador conhecido por sua oposição declarada a esse tipo de medida desde os anos 90.
As universidades estão sendo acusadas de discriminar alunos que têm ascendência asiáticos e os alunos brancos, favorecendo negros, hispânicos e indígenas. As instituições negam.
Ainda de acordo com a Folha, analistas acreditam que a Suprema Côrte deve decidir pela proibição das ações afirmativas dada a formação conservadora de seus integrantes atuais.
Apesar de cotas raciais serem proibidas nos EUA, as universidades podem desenvolver métodos para o ingresso de estudantes negros e hispânicos.
Donald P. Harris, professor da Universidade Temple, na Pensilvânia, e reitor associado para assuntos de equidade, diversidade e inclusão na faculdade de direito da instituição afirmou que ” A Suprema Corte deve considerar as ações afirmativas inconstitucionais”. Ele também explicou que as universidades terão que escolher outros critérios de seleção para aumentar a diversidade dos alunos. “Vão considerar fatores como contexto geográfico, status socioeconômico e outros indicadores para substituir critérios de raça, mas não vai ser fácil.”, pontuou.
A reportagem da Folha mostrou que ações afirmativas são ilegais em 9 Estados dos EUA, incluindo Michigan, Califórnia, Idaho, Oklahoma, Arizona, Flórida, Nebrasca, Washington e New Hampshare.
No Michigan, onde 58% da população votou a favor da proibição de ações afirmativas por meio de um referendo que proibiu vagas com recorte de raça, gênero e religião até mesmo em oportunidades de emprego, em 2006, o impacto nas universidades foi imediato. Na Universidade de Michigan, o número de alunos negros caiu de 8% para 2,5% atualmente. Já o número de alunos hispânicos se manteve similar. A universidade então adotou classe social como critério para trabalhar políticas de diversidade.
“Realizamos campanhas de recrutamento em locais com populações historicamente sub-representadas, focando alunos de baixa renda e cujos pais não têm graduação, mesmo sabendo que isso não necessariamente se sobrepõe a critérios de raça. Organizamos visitas ao campus para apresentá-los à comunidade universitária e mostrar os serviços que oferecemos”, contou Erica Sanders, vice-reitora assistente e diretora-executiva de admissão de graduandos.
À exemplo do Michigan, a Universidade da Califórnia também passou por um processo de embranquecimento após o fim das ações afirmativas. Para Sara Kaplan, diretora do Centro de Pesquisa e Política Antirracista da American University, “substituir a questão da raça pela classe econômica não resolve o problema chave dos sistemas de racismo estrutural históricos e ainda existentes nos EUA”, destacou.
Ela acredita que proibir ações afirmativas pode impactar outros aspectos como na disparidade de renda e na produção acadêmica, que teria pesquisas científicas menos diversas.
As pessoas contrárias às ações afirmativas nos EUA argumentam que, além da suporta discriminação contra alunos abraços, também falta uma perspectiva para o fim dessas ações, que acontecem no país desde 1960.
A oposição na justiça contra as ações afirmativas lembra o período em que a Suprema Corte proibiu as cotas para minorias raciais no curso de medicina da Universidade da Califórnia, onde 16 de 100 vagas eram voltadas para minorias, em 1978.
Em 2003, outro caso na Universidade de Michigan também pedia a proibição das ações afirmativas, mas os membros da Suprema Corte da época mantiveram a decisão de continuar com as “cotas”.
Agora, com apenas três progressistas dentre os nove magistrados, a mais alta instância da justiça americana pode decidir pelo fim das ações afirmativas, mesmo com 63% da população sendo a favor delas, segundo pesquisa da Associated Press e da Universo de Chicago. Mesmo assim,uitos americanos acreditam que outros critérios são mais relevantes que raça, entre eles histórico escolar, desempenho no vestibular, capacidade de pagar o curso e habilidades esportivas.
Diferente do Brasil, que considera a nota do vestibular como critério para admissão na universidade, nos EUA, além do vestibular, o histórico escolar e cartas de apresentação também são determinantes para o ingresso no ensino superior.
Apesar de toda movimentação de conservados, apenas 24,6% das instituições afirmam que raça influencia considerável ou moderadamente os processos de admissão, segundo pesquisa da Associação Nacional de Aconselhamento para Admissão em Faculdades, realizada em 2019.
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