“Super Choque” fez muito sucesso no Brasil, com uma narrativa focada no herói adolescente negro que combate vilões, mas também precisa lidar com racismo, violência policial e as mudanças típicas desse estágio da vida. O personagem, junto ao Lanterna Verde John Stewart de “Liga da Justiça” foi importante para que as crianças e adolescentes negros se enxergassem nos desenhos da TV brasileira.
Um dos episódios mais emblemáticos é a ida de Virgil Hawkins (a identidade do herói) e família para o continente africano, mais especificamente em Acra, capital de Gana. Lá chegando encontram o super herói local, Anansi, inspirado no mito da aranha que teceu uma rede até o céu para pegar as histórias de Nyame, o Deus do céu e trazer à Terra.
Notícias Relacionadas
‘O Auto da Compadecida 2’: Um presente de Natal para os fãs, com a essência do clássico nos cinemas
'Mufasa: O Rei Leão’ reacende memórias e apresenta novas lições
O episódio é cheio de referências à cultura africana, com o pai de Virgil sendo intermediador entre os filhos e a história da África. A irmã mais velha, Sharon, faz menções ao Império Ashanti (estendia-se da Gana central para o Togo dos dias atuais e Costa do Marfim).
A parte mais marcante é quando o herói liga para seu amigo, Rick, nos Estados Unidos e explica como se sente diferente e pertencendo ao lugar. “Na América eu sou um garoto negro, aqui eu sou só um garoto”, diz. Como todos nós, Virgil é fruto da diáspora africana (imigração forçada dos povos africanos para suprir os colonizadores com mão de obra escrava). Como consequência, ainda que nascido em solo norte americano, é tratado como estrangeiro em razão da cor de sua pele.
Ele diz que nunca se sentiu assim e que deve ser a maneira que seu amigo branco se sente o tempo todo, deixando claro a sensação de não pertencimento em seu país de origem. O criador do personagem, Dwayne Mcduffie sempre quis que sua criação não tivesse apenas a cor como símbolo de representatividade, mas também sua interação com o ambiente que o cerca. Sendo um garoto negro no subúrbio, Virgil passa por situações que vão sempre lembrá-lo que as pessoas o enxergam como um recorte intruso naquele lugar. Em Gana ele é apenas um homem, sem necessidade de racialização nos moldes das pessoas brancas.
Esse episódio evoca um sentimento ancestral: a necessidade de pertencer a um grupo, a uma tribo. Estamos nessa busca quando escolhemos nossos amigos, nossa faculdade, os lugares que passeamos, sempre na esperança de nos encaixarmos.
Filhos de pessoas arrancadas de sua terra, não somos bem recebidos ou bem tratados por mais esforço que façamos, muito embora ajudemos a construir nações e moldar a cultura. Super Choque volta com a visão ampliada de si mesmo, entendendo a origem das cicatrizes da diáspora.
São vinte minutos que valem à pena ver.
Notícias Recentes
‘O Auto da Compadecida 2’: Um presente de Natal para os fãs, com a essência do clássico nos cinemas
Leci Brandão celebra 80 anos e cinco décadas de samba em programa especial da TV Brasil