Cris Vianna estreou nos folhetins com a exibição da novela “América”, de Glória Perez, em 2005. De lá para cá se tornou uma das atrizes negras mais reconhecidas do país. “Sinhá Moça”, “O Profeta”, “Duas Caras”, “Paraíso” (2009), “Tempos Modernos” e “Fina Estampa“. Com a reprise de “Império”, originalmente exibida em 2014, o público acompanha o que talvez seja a personagem mais conhecida da atriz: ex-rainha de bateria Juliane Matos, ou Juju Popular.
“Todo personagem que eu interpretei marcou a minha trajetória, mas, talvez, o grande público tenha eleito a Juju a minha personagem mais icônica, sim. Até hoje, essa personagem vive no imaginário popular. Agradeço muito ao Aguinaldo Silva, ao Papinha e a toda equipe dessa novela maravilhosa por me darem essa oportunidade”, diz.
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O reconhecimento atual veio após enfrentar barreiras físicas e simbólicas comuns a mulheres negras que tentam carreira artística no país. Questionada se imaginaria estar onde está hoje, Cris é categórica: “Acho que sim, afinal, o que nos move é o desejo, o sonho, a vontade de conquistar, mas o caminho foi longo e continua sendo. No início, vindo de onde eu vim, tudo era apenas um sonho, um sonho muito solitário. Eu não conhecia ninguém do meio televisivo, não sabia nem por onde começar. Aos poucos, fui procurando cursos de formação, lendo sobre o ofício, e os primeiros testes foram aparecendo. Ter sido modelo me ajudou muito porque, às vezes, você esbarra com um colega que está na mesma caminhada e ele acaba te dando uma dica”, relembra.
Difícil não imaginar que com o talento dramático e beleza, em um cenário que favorecesse a ascensão de talentos negros, a atriz já não estaria entre os principais protagonistas da TV, mas a personalidade concentrada e a paixão pelo que faz podem levá-la a vôos ainda maiores. “Eu sou muito focada, determinada, e essas características pessoais me fizeram perseverar, insistir, até conquistar os meus primeiros trabalhos. Depois disso, um trabalho foi puxando o outro. Sou feliz com o que conquistei, mas sinto que ainda tenho muito o que realizar. Amo a minha profissão”, diz, Cris Vianna, que curiosamente interpretou papéis tão determinados e perseverantes quanto à própria atriz, como a Indira de “A Regra do Jogo” (2015).
No cinema ela esteve em filmes como “Besouro” (dirigido por João Daniel Tikhomiroff) e “Última Parada 174”, de Bruno Barreto, interpretando a mãe de Sandro, sequestrador do ônibus 174. Ambas obras retratam mitologias e realidade do cotidiano do povo preto, o que casa com posicionamentos que a atriz mostra em suas redes sociais, mostrando ter ciência da importância que tem enquanto figura pública e mulher preta.
Para Cris, debates sobre a representação do preto na TV tem avançado, ainda que lentamente. “Protagonizei filmes, mas não foram muitos os testes para protagonista de novela. E poucas novelas foram protagonizadas por mulheres negras e, menos ainda, protagonizadas por mulheres negras de pele mais escura. Nos últimos tempos, o debate sobre a representatividade na TV tem ganhado mais força, por isso, quero acreditar, depois de tanto tempo de luta, que as coisas estão mudando e, com isso, que outras oportunidades surgirão. Essa luta não vem de hoje e ainda vai continuar por muito tempo, mas sou otimista”, reflete.
Para a atriz ter se tornado referência como mulher negra é “deixar o coração cheio de esperança e gratidão”. A modelo diz também ficar emocionada com a situação. “Agradeço a todas as mulheres pretas que vieram antes de mim e que me iluminaram o caminho”, fala. E não é como se isso fosse pouca coisa em um país que carece de passos mais largos rumo a uma representatividade maior. “Lutar, lutar e lutar. Acho que a luta vem fazendo as coisas mudarem lentamente, mas o caminho é longo. Ainda faltam muitas oportunidades para nós, artistas negros”, conclui a musa.
Sobre os casos de preconceito acontecendo abertamente debaixo do véu de um governo de extrema-direita, Cris Vianna lembra que o racismo sempre existiu, mas que hoje em dia o povo preto tem mais voz. “Na contramão de tanto preconceito, temos movimentos fortes, importantes, de conscientização e de combate ao racismo, à homofobia, à misoginia e outras tantas formas de discriminação. Ainda tem muita luta, mas já demos passos enormes”, raciocina.
Como muitos brasileiros que seguem regras de distanciamento social, Vianna tem visto a família com menos frequência e se sente menos à vontade de sair para trabalhar. “Acho que, assim como todos, sinto falta de me sentir livre. Para manter a saúde mental tenho feito algumas aulas remotamente, além dos treinos. Também leio, vejo TV, filmes, séries e falo sempre com meus amigos via Zoom para matar a saudade, ver o rosto, sentir melhor como eles estão”, revela Cris, que também espera a vacina para colocar projetos com o teatro para funcionar.
Em seu perfil do Instagram, Cris Vianna costuma postar dicas literárias que passam por Rachel Maia e Carolina de Jesus e diz que atualmente está lendo “Um Defeito de Cor”, da Ana Maria Gonçalves. As escritoras indicadas ajudaram na formação profissional e pessoal da modelo e atriz, assim como a mãe, Darci Vianna.
Ao fim da entrevista, a mensagem para esses tempos sombrios é de esperança. “Os tempos sempre foram difíceis pra nós. Acredito que precisamos renovar nossas forças e fortalecer nossas esperanças como nossos ancestrais sempre fizeram. Não duvidem que tudo isso vai passar. Mantenham sempre a fé e a empatia. Deixo meu abraço e solidariedade para todos aqueles que perderam alguém nessa pandemia”, conclui.
Edição: Silvia Nascimento
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