Por Kelly Baptista, Diretora Executiva da Fundação 1Bi
Como esperado, o resultado do primeiro turno das eleições presidenciais ficou entre Jair Bolsonaro (PL) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O candidato petista recebeu a maioria dos votos vindos da região Nordeste, o que mais uma vez desencadeou para os 9 estados locais ataques e retaliações. Além de xenofobia, observamos também várias falas racistas.
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Ao contrário do que muitos disseram após a apuração do primeiro turno, o Nordeste não é um local de pessoas “com pouca informação e educação”. Pelo contrário, atualmente a região é farol da educação pública. Os exemplos de Pernambuco no ensino médio; do Ceará na alfabetização e ensino fundamental 1 e 2; as experiências de Teresina (PI) e Coruripe (AL) têm sido replicadas por todo o Brasil.
Eles têm focado em aprender como fazer a melhor gestão escolar, e o Ceará, especificamente, é referência internacional já estudada em outros países, assim como Pernambuco.
Uma pessoa que faz ataque à cultura e educaçao nordestinas tem total falta de conhecimento da realidade, isso só reforça o quanto nosso país é racista e xenofóbico.
Para não nos esquecermos que a referência da educação vem destes estados, deixo aqui duas experiências mais detalhadas:
1- Pernambuco, uma experiência bem sucedida de ensino médio integral:
Enquanto a maioria dos estados do Sul e Sudeste têm tentado implementar um ensino médio público de qualidade, há quase 20 anos o estado de Pernambuco criou um projeto que tinha como objetivo reduzir a evasão, melhorar o ensino e qualificar os estudantes.
O projeto deu tão certo que se tornou política pública em 2009. Hoje, 75% dos alunos do estado que cursam o 1º ano do ensino médio estão em escolas de tempo integral, maior percentual de matrículas nessa modalidade no país. O resultado é nítido já que Pernambuco teve o maior crescimento e, em 2021, teve o terceiro maior Ideb para o ensino médio público do país, atrás apenas de Paraná e Goiás.
2. Os maiores medalhistas estudantis:
Os estados nordestinos se destacam em Olimpíadas de conhecimento, em várias áreas de exatas, humanas e ciências. Um exemplo foi mostrado na 14ª Olimpíada Nacional de História do Brasil, realizada em agosto na Unicamp (Universidade Estadual de Campinas). Os nordestinos brilharam com o maior número de medalhas: 56 das 75 que estavam em disputa.
Mas, ainda assim, não podemos esquecer que, infelizmente, a educação brasileira tem muitas desigualdades: entre estudantes de diferentes níveis socioeconômicos, entre meninos e meninas, entre aqueles que estão matriculados em escolas urbanas e os que estão em escolas rurais, só para citar alguns exemplos. São verificadas desigualdades por cor/raça em relação ao acesso à escola, à aprendizagem e à conclusão de etapas de ensino, dentre outras.
De acordo com o PNAD (2019), das 50 milhões de pessoas, de 14 a 29 anos do país, 20,2% não completaram alguma das etapas da educação básica, seja por terem abandonado a escola ou por nunca a terem frequentado. Desse total, 71,7% eram pretos ou pardos.
Essa imensa maioria de pessoas negras que precisa abandonar o sistema escolar precocemente reflete a situação precária que muitas famílias enfrentam. A necessidade de trabalhar desde cedo para complementar a renda é apontada como o principal motivo para a evasão escolar. Além disso, a falta de políticas públicas que incentivem o jovem carente a permanecer na escola também contribui para aumentar ainda mais esse abismo social.
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