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Texto: Ricardo Corrêa
Olá, Branco
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Mesmo com um pouco de má vontade, escrevo esta carta. E caso não saiba, o que ocorre é que as pessoas negras estão cansadas de repetir o básico para os brancos; nesse sentido, eu não sou exceção. Nós chegamos à conclusão de que vocês não se esforçam para compreender a complexidade do racismo e nem mudam o comportamento em busca da democratização da sociedade.
Você tem culpado os movimentos negros pela ascensão da extrema-direita. Reclama que não tem espaço para o debate, que os negros são identitários, se comportando como fascistas e afastando os brancos aliados. Cara, eu dou muita risada com tanta asneira. Não faz sentido colocar-se como vítima. Os brancos são os únicos que têm, e sempre tiveram, liberdade neste país. Os negros não têm poder institucional para censurá-los.
Na realidade, vocês não se acostumaram com as vozes insurgentes do povo negro, situação incomum se compararmos ao passado. Hoje estamos em diversos espaços. Os hábitos e os olhares da sociedade acerca da realidade mudaram. Avançamos no campo político, na cultura e tecnologia, na medicina e educação, etc. O conhecimento, antes restrito aos brancos privilegiados, está mais acessível. A população negra, produtora de conhecimento nas comunidades e periferias, também está nos espaços acadêmicos. Debatendo de igual para igual. Se você prestasse atenção nas palavras do escritor Jean-Paul Sartre, não passaria vergonha nessa vitimização descabida: “O que esperáveis que acontecesse, quando tirastes a mordaça que tapava as bocas negras? Que vos entoariam louvores? Estas cabeças que nossos pais haviam dobrado pela força até o chão, pensáveis, quando se erguessem, que leríeis a adoração em seus olhos”. Porém, eu só trouxe o Sartre para a conversa porque é branco, quem sabe te convença. Pois, você é um típico antirracista não leitor de livros escritos por pessoas negras. Recomendar intelectuais negros é perda de tempo.
Particularmente, não sinto remorso algum quando vocês dizem se sentirem tolhidos pelos negros do direito de opinarem sobre o racismo. Se não vai somar com as nossas percepções, o silêncio é uma ótima contribuição. Não aceitamos ser tutelados. Passamos muito tempo ouvindo suas falácias que só tinham como objetivo a manutenção dos privilégios. Basta!
Por fim, esse é o meu recado de forma clara, apesar de saber que no seu círculo de brancos acadêmicos a verborragia é melhor aceita; deixo o título desta carta como sugestão. Releia.
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