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Educando as crianças para compreenderem que elas fazem parte da diversidade
Como você chamava (ou chama) o suco congelado no saquinho? Onde eu nasci, o nome dessa deliciosa iguaria é gelinho. Eu gostava do sabor de maracujá e morango.
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Os que eram vendidos perto de casa, com certeza, eram feitos com aquele suco de pozinho. Quando eles eram feitos de frutas naturais, eram mais caros, então eu fazia as contas e optava por comprar 2 mais baratinhos do que apenas 1, do mais caro.
A encrenca foi quando eu fui passar as férias na casa da minha avó e meus amigos da capital paulista cismavam em chamar o gelinho de geladinho. Eles riam da minha cara quando eu, na opinião deles, trocava o nome.
Nessa época, eu nem fazia ideia do que eram diferenças linguísticas, regionalismo e sotaque, mas já sofria com o preconceito que eles geram. A pronúncia do meu r e do meu t eram característicos da cidade onde eu nasci, no interior de São Paulo, e essa pequena diferença na minha fala, de apenas duas letras, já gerava grande constrangimento para mim, a ponto de, aos 7 anos, me esforçar muito para aprender a falar o r e o t “da forma correta”.
Antes de aprender eu fui muito ridicularizada pelos colegas nas brincadeiras de rua. O que para eles era engraçado, para mim era dolorido. Houve um período que eu me fingia de muda, só para não sofrer com o preconceito.
Trago esse episódio da minha infância para falar sobre a campanha da Unicef chamada: as 10 maneiras para contribuir com uma infância sem racismo. A campanha faz um alerta sobre os impactos do racismo na vida de milhões de crianças e adolescentes brasileiros e convida cada um a fazer uma ação por uma infância e adolescência sem racismo.
O primeiro item da campanha diz: Eduque as crianças para o respeito à diferença. Ela está nos tipos de brinquedos, nas línguas faladas, nos vários costumes entre os amigos e pessoas de diferentes culturas, raças e etnias. As diferenças enriquecem nosso conhecimento.
Nossas crianças são as grandes afetadas quando o assunto é racismo, preconceito e discriminação. Nossa pele, desde muito cedo, é alvo daqueles que aprendem a ter prazer em reproduzir o racismo.
Conviver com a diversidade e ensinar que há beleza nisso são boas formas de ensinar as crianças a não serem preconceituosas com as outras. Mas este ensinamento também promove outras mudanças…
Eu fiquei feliz quando descobri, ainda na infância, que as pessoas têm sotaques e são milhares; que eu escolher falar gelinho, no lugar de geladinho ou sacolé, faz parte do regionalismo e que há outras palavras que também sofrem mudanças de acordo com o estado ou cidade.
Assim como minha família precisou conversar comigo sobre essas diferenças para eu poder voltar a falar e me expressar, é importante mantermos um diálogo cotidiano com as crianças sobre a diversidade que existe no mundo e que nós fazemos parte disso.
Conviver e falar sobre diversidade ajuda as crianças negras a compreenderem que todos são diferentes e que isso é normal. Essa conversa, com certeza, vai acalmar o coração da criança quando apontarem a singularidade dela.
Não espere a sua criança negra se anular, se calar ou se machucar para então iniciar o diálogo sobre racismo, preconceito e discriminação. Não podemos controlar a forma como vão tratar nossas crianças, mas podemos tentar diminuir o impacto que o racismo causa nelas.
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