Não há nada de ingênuo na imagem do Saci-Pererê que conhecemos. Por trás do jeito criança irresponsável do personagem negro, franzino, de uma perna só, há o propósito reforçar o estereótipo do negro malandro que não merece ser levado a sério.
Essa é uma das várias percepções que o colunista Ale Santos, autor do livro Rastros de Resistência (uma espécie de enciclopédia sobre cultura negra) tem sobre um dos mais populares personagens do folclore brasileiro.
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“Precisamos de novas interpretações, de autores negros que possam resgatar essas crenças populares e construir uma visão própria sobre ele. O Saci que conhecemos é fruto do imaginário popular do filtro das crenças racistas do auto feito por Monteiro Lobato”, explica Santos.
O auto a que ele se refere, foi uma pesquisa feita por Lobato por meio do jornal Estadinho, caderno do Estadão, que se tornou um livro do autor, o “O Saci-Pererê: Resultado de um Inquérito”, que foi publicado em 1918.
O conteúdo da obra são as respostas às perguntas que Monteiro formulou aos leitores da publicação sobre o personagem. Ele queria saber quais eram as referências e lembranças que eles tinham sobre o Saci-Pererê. Imagine o conteúdo das cartas escritas poucas décadas após a abolição.
“A cultura europeia tende a olhar para um negro inteligente como um malandro, um safado, enquanto as culturas africanas enxergam a figura de Anansi como um estrategista e criativo”, detalha Ale que acredita que a imagem de um personagem tão marcante na cultura brasileira, precisa ser revista:
“Quem sabe conseguimos resgatar uma ancestralidade ali, o Saci é um trickster, um arquétipo presente em várias mitologias. Em Gana ele é representado por Anansi e Yorubá por Exu”.
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