Difícil enumerar os aspectos que fizeram do filme Pantera Negra (Marvel, 2018) um divisor de águas na história do cinema.

Para quem assistiu o filme mais de uma vez, é notório o cuidado que o diretor Ryan Coogler teve para retratar as mulheres negras, seja em sua potência física e intelectual, mas também no aspecto estético. Okoye (Dani Guria) Shuri ( Letitia Wright) , Nakia ( Lupita Nyong’o) e a Rainha Ramonda (Angela Bassett) tiveram em suas vestimentas uma das maiores riquezas do longa que rendeu a Ruth E. Carter, o Oscar de Melhor Figurino (2019).

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Inspirada nessas e outras mulheres da nação mais negra da Marvel, a estilista Jal Vieira lançou nessa quinta (20/05) a coleção Realeza em parceria com a Marvel/Disney que inaugura o projeto O Poder é Nosso, nova campanha de branding da Marvel no Brasil. Composta com três looks completos, a estilista usou técnicas de estamparia silkada em plastisol vermelho e preto para dar destaque à Erva-coração, tão protegida pelo pessoal do axé do reino do T’Challa.  As peças estão sendo vendidas na FARFETCH. Vale destacar o cuidado na criação das roupas, onde só as texturas, levaram duas semanas para serem feitas.

Para quem não consegue desembolsar o valor de uma peça de alta costura, feita artesanalmente, a estilista também desenvolveu estampas exclusivas para uma coleção de camisetas da ONG Orientavida, projeto social que orienta e capacita mulheres por meio do artesanato, oferecendo oportunidade de renda e autonomia. As peças serão vendidas no site da ONG e na FARFETCH por R$240.

A baiana Jal Vieira (32), largou o sertão baiano para se jogar no design de moda, sua paixão e sua profissão há 11 anos. Ela é formada em Design de Moda pela Belas Artes e pós-graduanda em Modelagem Criativa pelo Senac.  Em 2019, ela passou a integrar o line up principal da Casa de Criadores.

O Mundo Negro conversou com a Jal para entender mais sobre a beleza ancestral e afrofuturista da sua coleção

Mundo Negro – Quando a gente fala de mulheres negras e moda, ainda está no nosso inconsciente aquela ideia mais artesanal de se produzir roupas.  Pantera Negra traz muitas aqui de tecnologia e afrofuturismo. você acha que você é essa nova geração está bebendo da tecnologia para produzir as suas criações?

 Jal Vieira – Eu acho que sim Sílvia, acho que é um movimento de busca dos novos designers. A gente se pauta muito a respeito dos futuros possíveis, em que a nossa comunidade seja respeitada, seja representada e que seja futuro preto de fato.  Eu, por exemplo, nas minhas técnicas, no que eu trabalho, eu tento unir sempre a questão ancestral no fazer manual, mas com nova roupagem à essas peças que tragam um shape novo, que fuja até inclusive do da estrutura corpórea é isso também a tecnologia. É pensar numa modelagem e que se destaque do corpo e quase crie vida então acho que sim é uma movimentação muito presente.  

A renda desse trabalho será revertida para projetos sociais. Para chegar no valor das peças foi pensada a questão de ser acessível para a comunidade negra?

O que foi criado foi sempre pensando quanto de tempo isso foi implantado, porque por exemplo, só as texturas, sem modelagem, sem nada, elas demoraram cerca de 2 semanas para ficarem prontas.  Então é um trabalho que exige muito tempo e empenho. As texturas não são compradas são desenvolvidas por nós e é um trabalho de formiguinha.  O valor a gente também calculou considerando o tempo que foi feito essa peça, então sim, acaba sendo um valor mais alto.  O que a gente conseguiu fazer para que as coisas sejam mais acessíveis foi uma parceria com a ONG  Orienta Vida para trazer a possibilidade de que essas peças, no caso estamparia especificamente,  fosse uma possibilidade para que cada um pudesse ter uma parte dessa coleção .

Fotografia, retouch e direção corporal: Rony Hernandes – Modelos: Mayara Ferre @_mayferre, Luara Costa @feitadelua e Gerlen Moura @gerlenmoura

Pantera negra é um filme riquíssimo visualmente. Qual o critério na hora de escolher as texturas e cores que você vai usar nas suas peças?

Além das referências do filme, eu também tinha que encontrar quais são as minhas referências pessoais que se cruzavam por tudo isso, então eu assisti o filme uma 20 vezes eu acho.  É um filme muito rico, inclusive em texturizações porque ele tem referências das tribos, das escarificações na pele e outras inúmeras referências.

No caso das texturizações o que eu pensei foi trabalhar as nervuras e de que forma ela simbolizaria as pessoas que vieram de mim, a minha ancestralidade.   A representação do que vem antes, dessas histórias, estão nessas camadas.  No que diz respeito a estamparia eu foquei na erva coração.  Pensei em como essa erva é cultivada principalmente por quem que ela é cultiva.  Ainda que a erva coração dê poder ao Pantera, personagem principal do filme, essa erva passa pelas mãos das mulheres.

Confira os detalhes das peças no vídeo dirigido por Dayane Lima com direção criativa de Jal Vieira.

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