Antes que quem leia este texto ache que a proposta é fazer uma declaração de guerra contra os jornalistas brancos, sinto decepcioná-los, mas esta não é a intenção. Temos jornalistas de todas as cores, gêneros, orientações sexuais e crenças e essa pluralidade é que torna o conteúdo mais diversificado e cabível de cobrir pautas plurais de forma autêntica.
A ausência de jornalistas negros em espaços opinativos da imprensa brasileira não é novidade. Um estudo de 2016, parece ainda ter números próximos à realidade. Feito pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro, o documento revelou que apenas 10% dos colunistas dos principais jornais de Brasil, O Globo, Folha de S. Paulo e Estadão, eram negros. Você sentiu alguma mudança de dois anos para cá?
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Tão lastimável quanto a não contratação de jornalista negros é o péssimo hábito dos grandes jornais colocarem pessoas brancas para opinar sobre assuntos relacionados direta ou indiretamente às comunidade negra.
Nas últimas semanas tivemos três casos que valem a pena ser destacados.
Tony Goes consegue grande alcance e repercussão em seus textos que abordam, desde onde está a Beyoncé Brasileira (como se precisássemos de uma) , ausência dos negros no audiovisual, assuntos importantes, mas que poderiam se escritos por diversos jornalistas ou produtores culturais negros. Sua última pérola foi chamar de burros, militantes do movimento negro que protestaram (até por que têm esse direito) contra a escalação da cantora Fabiana Cozza para interpretar a sambista Ivone Lara, no espetáculo, Dona Ivone Lara – O Musical.
“Todos esses militantes não sabem o que é teatro. Acham que uma peça precisa reproduzir em detalhes a vida real, e que um ator só pode interpretar a si mesmo. São de uma ignorância espantosa. E também são burros, com o perdão da má palavra. Porque esse tipo de atitude, ao atacar quem já é aliado, prejudica a luta de todos. A causa é justa, mas o alvo é errado. O inimigo é outro, e está dando risada de nos ver tão divididos.”
Nós quem, Goes?
“Novo clipe da Beyoncé é bacanal narcisista”
Sheila Leirner, colunista de cultura do Estadão, é um expert em arte, mas não conseguiu entender a proposta básica do clipe Ape Shit da cantora Beyoncé. Ela achou ofensivo que os Carters ficassem de costas para as obras de artes para importantes da humanidade ( do ponto de vista eurocêntrico da questão) e essa era justamente a forma do casal mostrar desprezo pelo os que não o representa.
E não satisfeita, ela ainda diz que o que deve ser celebrado é o ótimo, mas violento, vídeo This is America.
“Sem qualquer dúvida, ‘This Is America’ clipe do americano Childish Gambino colocado no YouTube há pouco mais de um mês, é o melhor e mais extraordinário contraponto ao brega arrogante de Beyoncé e Jay-Z no Museu do Louvre. Clipe inteligente que, com a sua crueza, ao contrário de ‘Apeshit’, denuncia de fato a América atual: o lobby das armas, o racismo, o sistema penal, a violência policial, o hiperconsumo e a própria luxuosa, vulgar e pretensiosa sociedade do espetáculo na era das redes sociais, da qual ‘The Carters’ são os expoentes máximos. ‘This is America’, além da ótima música e atuação, ele sim, faz pensar.”
Faz quem pensar? O Ape Shit não faz ( na visão de Sheila) por que talvez não seja aceitável para um certo perfil de pessoas, negros fazendo arte dentro de espaços tradicionais.
“Os selfies deles, com vestimentas perfeitamente adaptadas a uma visita de museu, de costas para a Mona Lisa, não podem ser mais cafonas. Ego-retratos capazes de fazer Leonardo se revirar em seu túmulo…”. Má notícia Sheila, eles não poderiam se importar menos com a opinião do Leonardo.
Para defender Ivone Lara moça agride DJ branca
Negros e negras diariamente sofrem com situações onde são interrompidos, coagidos ou constrangidos por não serem brancos, mas quando um branco passa por isso, vira notinha na coluna do prestigiado jornalista Ancelmo Goes, que também fala muito sobre negritude.
“Que horror “”Quanto intolerância” foram termos usados por ele para relatar o incidente onde uma DJ Branca que ao tocar uma música de Ivone Lara, ouviu “ você não pode tocar isso por que você não é negra”.
Veja o flagrante de branquitude, onde a DJ ameça desistir da carreira por conta de uma única manifestação de uma mulher ( de cor não identificada) embrigada. Sim, isso virou notícia de jornal de grande circulação.
O jornalista também erra feio em classificar o ato de quem ofendeu a DJ branca, de racismo. Não existe racismo reverso. Pessoa brancas no máximo sofrem preconceito, visto que racismo está interligado a relações de poder, que no caso, a comunidade negra não tem. Um jornalista negro provavelmente não teria dado essa bola fora.
A verdade é que esses jornalista escrevem para pessoas brancas. Quando falam de negritude soam como se precisássemos de validação de vozes brancas para as nossas questões. Não precisamos ainda temos gente negra com muita mais competência para abordar sobre essa temática e outras tantas. Oportunidade é o que falta.
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