Racismo punitivo: a permissão que brancos sentem para ser racistas com pessoas negras que erram

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Racismo punitivo: a permissão que brancos sentem para ser racistas com pessoas negras que erram
Foto: Reprodução/Freepik

Já há algum tempo tenho me debruçado na análise de mais uma forma da discriminação racial que chamo de “racismo punitivo”. Considero este mais um fenômeno recorrente das relações raciais no Brasil. A exemplo do punitivismo penal, o racismo punitivo visa castigar pessoas negras que quebraram alguma norma, ou regra social. Quando uma pessoa negra é ‘cancelada’, seja por ter cometido algum crime, ou por ter uma atitude condenável, uma horda de pessoas brancas se sentem autorizadas a destilar racismos contra esta pessoa. É como se ao cometer tal infração, sua dignidade de pessoa humana fosse retirada, permitindo assim que todos se sintam à vontade para aplicar as sanções que consideram devidas. Neste caso, a pena acaba sendo submeter a pessoa a comentários racistas. 

O sociólogo Oracy Nogueira argumentou que na dinâmica das relações raciais brasileiras evitava-se o máximo falar sobre a cor, mas em qualquer contenda a cor seria a primeira coisa mencionada. Na nossa etiqueta racial, evita-se ser racista só até ser contrariado por um negro. Esta é uma forma de “racismo permitido” uma vez que ele se volta a uma pessoa que teria perdido respeitabilidade e o direito de ser reconhecido como gente decente. Isso causa, nos brancos, um alívio, pois  podem expressar seus sentimentos racistas sem culpa. 

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Somos levados a condenar pessoas sem lhes dar o direito de defesa. Além disso, nos sentimos bem ao tripudiar e hostilizar pessoas das quais não nutrimos respeito. Diariamente produzimos mortes sociais que podem se converter em morte física. Muitas vezes, estas pessoas penalizadas nem precisam ter cometido algum crime previsto no ordenamento jurídico. Poderia aqui fazer uma lista de pessoas negras canceladas em programas de TV, ou pelas redes sociais, que foram alvo de xingamentos racistas com consentimento de muitos negros que acreditavam que, ao errar, estas pessoas deram o direito aos brancos de serem racistas. 

Frequentemente, tenho recebido críticas de pessoas por defender negros cancelados de comentários racistas pelas redes. Não é sobre  gostar ou concordar com estas pessoas, mas sim sobre não achar que o racismo deva servir como mais uma forma de penalizar quem errou. No entendimento da pena, está incluído um anseio pela desumanização e por isso o racismo serve como meio de punir pessoas negras que erraram, pois ele demarca que aquelas pessoas não são humanas, mas bestas que precisam ser contidas. É se sentir livre para tecer comentários sobre uma pessoa que poucos teriam coragem de defender, afinal: “tá com dó, leva pra casa”. Esta forma de racismo nos leva a achar que reprimir as ofensivas racistas é ser conivente com os atos cometidos pelo acusado ou condenado. Mas não se combate um crime com outro crime, lembremos disso. 

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