Rio dos Macacos: Mulheres estupradas, crianças sob a mira de armas e famílias ameaçadas de despejo.
Por Silvia Nascimento
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Era uma vez um quilombo que foi unido, grande e sustentável, por quase 200 anos, até que um dia a Marinha brasileira construir um base naval em uma parte das suas terras e acusou os habitantes originais – negros remanescentes de escravos – de impostores. A luta das comunidades quilombolas contra a opressão militar parece um fato retirado dos livros de História, como se fosse algo distante cronologicamente. Hoje, mas especificamente ontem, 6 de janeiro, dois irmão, Rosineide Messias dos Santos e Edinei Messias dos Santos, residentes do Quilombo do Rio dos Macacos, localizado na base naval de Aratu, Bahia, foram espancados e presos militares.
Em nota, o Comando do Distrito Naval informou que os irmão foram contidos por conta da agressividade e que Rosineide, teria tentado pegar a arma de um dos militares.
Quem esteve no local, diz que não foi bem assim. Em entrevista ao jornal A Tarde, dona Maria Madalena, mãe dos irmão presos, relatou que ao pedir permissão aos militares, para que uma carreta pudesse entrar no quilombo, ambos foram arrastados e puxados pelos cabelos, além de receberam chutes e murros.
A presidente do Desenvolvimento da Comunidade Negra do Estado da Bahia, Vilma Reis, disse ter entrado em contato com o Ministério Público da Bahia e a Fundação Palmares, em Brasília, para denunciar o caso. Os irmãos já foram liberados,
Cotidiano de terror no Quilombo
A batalha entre o Quilombo do Rio dos Macacos e a Marinha contem itens muito similares aos do tempo da escravidão, como cárcere privado, estupros e até mortes.
Em um vídeo gravado pelo Portal Correio Nagô, Rosineide diz que até a sua alfabetização foi prejudicada por conta da presença militar no quilombo. “Eles usaram cercas que dificultavam nossa ida à escola. Eu tenho 34 anos e não sei ler e nem escrever”, explica. Ela diz que quem tentava passar pela cerca, ficava sob a mira de dois militares que ameaçavam atirar.
Casos de estupros na vila naval, também fazem parte deste cotidiano de terror das famílias residentes no Quilombo do Rio dos Macacos. “Ninguém quer falar sobre isso, mas adolescentes são estupradas por militares”, diz Rosineide. Crianças negras quilombolas crescem sob a mira e ameaça da Marinha, bem como quem tenta plantar para o sustento da família. É a intimidação e a força sendo usadas para que os quilombolas abandonem o seu lar.
Às famílias dos Quilombos dos Macacos que sobreviveram, resta uma vida de luta, resistência, opressão, ameaças e descaso das autoridades Parece um pedaço do Brasil que ficou congelado no tempo. Em pleno século XXI eles vivem a rotina sofrida, coagida e sem esperança, como os africanos escravizados que viveram na senzala.
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