Chadwick Boseman foi um astro com todas as comparações que o termo pode ter com alguns eventos astronômicos. O ator, nascido em 1976, na Carolina do Sul (EUA), brilhou rápido como um cometa passando no horizonte e sua luz perdura como as estrelas que ainda enxergamos no céu, ainda que tenham morrido há muito tempo.
No ensino médio já demonstrava talento para atuação e escrita, escrevendo e encenando sua primeira peça, “Crossroads”. Após ser elogiado por professores pela performance, não pôde mais parar.
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Pequenas participações em séries como ‘Lei & Ordem’ e ‘CSI: Nova Iorque’ foram um ensaio para o que viria futuramente. Em 2010, Boseman conseguiu um papel de destaque na série dramática “Persons Unknown”, mas foi em 2013 que mostrou muito do que era capaz em seu primeiro papel principal no cinema. Em “42”, o ator interpretou Jackie Robinson, um dos maiores jogadores de beisebol da história e o primeiro afro americano da Liga principal.
No ano seguinte, a cinebiografia de James Brown ganha vida com Chadwick encarnando o lendário músico em “Get on Up“. No longa, Chadwick atuou pela primeira vez ao lado de Viola Davis. Como todo artista, papéis mais ingratos apareceram, como no péssimo “Deuses do Egito” (2016), mas em 2018 o mundo conheceu um espetáculo glorioso de representatividade que trazia a realeza da fictícia Wakanda para o centro do Universo Cinematográfico da Marvel e Chadwick era o novo rei. “Pantera Negra” virou um fenômeno pop, aumentando as vendas de quadrinhos do herói e virando símbolo de uma geração inteira ávida por representatividade em todos os setores da indústria do entretenimento. Chadwick Boseman era a representação física de onde pessoas negras de todo mundo queriam chegar e como gostariam de ser retratadas. Ele era o rei, o guerreiro, o protetor de uma nação africana rica, pacífica e bem desenvolvida. Ele estava no topo e levou milhões juntos.
“Pantera Negra” faturou 1,344 bilhões de dólares nas bilheterias mundiais, superando por muito personagens mais conhecidos da Marvel como todos os filmes do Thor e os dois primeiros filmes do Homem de Ferro. Adorado pelo público, aclamado pela crítica. O filme se tornou o primeiro filme de super herói a ser indicado na categoria de Melhor Filme do Oscar.
Quais seriam os próximos passos? O que poderia ser maior? A vida, os ideais, o propósito.
Chadwick Boseman era um ativista da educação e desde cedo já usava sua potência para defendê-la, como no caso divulgado em seu perfil do Instagram em que virou matéria de jornal por ser contra as condições precárias da escola de artes em que estudava. Em 2018 ao receber uma medalha da Universidade de Howard (Washington), o intérprete de T´Challa fez um discurso poderoso e inspirador: “Você preferiria encontrar um propósito a um emprego ou uma carreira? Propósito atravessa disciplinas. Propósito é um elemento essencial de vocês. É a razão pela qual você está no planeta neste momento em particular da história (…) Independentemente do que você escolher como carreira, lembre que as batalhas ao longo do caminho são significativas para formar vocês para o seu propósito”, disse encorajando os alunos que se formavam. “Eu não sei como o futuro de vocês será, mas, se estão dispostos a tomar o caminho mais difícil, o mais complicado, o com mais falhas no início do que sucessos, o que têm ultimamente provado ter mais significado, mais vitórias, mais glória, então vocês não vão se arrepender” (…) Agora, como vocês começam seus caminhos, prossigam com orgulho e com propósito”.
O ator escondeu um câncer de cólon para continuar atuando e entregou atuações antológicas como em “Destacamento Blood” de Spike Lee e “A Voz Suprema do Blues”, filme da Netflix que valeu a indicação póstuma ao Oscar de Melhor Ator em 2021.
Chadwick Boseman entrou para a história do cinema com seu inegável talento e como símbolo de tempos que anseiam por mudança. Não só como rosto de um príncipe que vira rei, mas não sabe se está no caminho certo, mas como alguém que na vida real sempre se comprometeu com o melhor para os seus. As atuações que conseguiu entregar enquanto convivia silenciosamente com a dor mostram que seus passos continuavam firmes rumo a uma presença cada vez maior em Hollywood. Chadwick nunca pareceu mediano em seus personagens ou em suas entrevistas e sua precoce morte em 28 de agosto de 2020 foi como perder um membro da família que vemos orgulhosamente voar. A nota de seu falecimento é o tweet mais curtido da história com mais de seis milhões de curtidas.
E não é exagero dizer que Chadwick se colocou entre os grandes da história e com relação à busca por representatividade está ao lado de Jordan Peele, Viola Davis, Denzel Washington e Barry Jenkins como expoente da potência negra acontecendo no cinema quando oportunidades são oferecidas.
Chadwick Boseman foi um orador inspirador. Abaixo algumas lições do eterno rei.
“Quando você investe em uma semente, vendo-a crescer sem você, é uma pílula difícil de engolir”, disse ele. “Às vezes você precisa sentir a dor e o aguilhão da derrota para ativar a verdadeira paixão e propósito que Deus predestinou dentro de você.”
“Todos nós sabemos o que é ouvir que não há um lugar para você ser destaque. No entanto, você é jovem, talentoso e negro. Nós sabemos o que é ouvir que não há uma tela para você ser apresentado, um palco para você ser apresentado. Nós sabemos o que é ser a cauda e não a cabeça. Nós sabemos o que é estar por baixo e não por cima. É com isso que trabalhávamos todos os dias porque sabíamos … que tínhamos algo especial que queríamos dar ao mundo. Que pudéssemos ser seres humanos completos nos papéis que desempenhamos. Que pudéssemos criar um mundo que exemplificasse um mundo que queríamos ver”
“Você tem que valorizar as coisas de uma maneira diferente quando sabe que o tempo está passando, você está sob pressão “
“Receber um prêmio por interpretar um super-herói é incrível, mas é ainda maior reconhecer os heróis que temos na vida real,”
“Há uma infinidade de histórias em nossa cultura que não foram contadas porque Hollywood não acreditava que fossem viáveis”, disse ele. “Seria legal ver pedaços da história que você não viu com as figuras africanas. Como os africanos na Europa – os mouros na Espanha. Ou se for a Portugal, tem estátuas de negros por todo o lado. Portanto, não apenas estivemos aqui ”, mas afetamos diretamente tudo o que você pensa que é europeu ”.
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