Sing Correia, proprietário do The Docks Club, casa noturna de música preta em Lisboa, Portugal, onde a apresentadora Preta Rara e a ex-deputada estadual de São Paulo Erica Malunguinho foram vítimas de racismo, xenofobia e transfobia, se pronunciou sobre o ocorrido, em entrevista à Bantumen, nesta terça-feira (11).

“Tenho tomado medidas para diminuir a insatisfação das pessoas. Tenho consciência que os seguranças não são os mais afáveis e não são fáceis, até porque tenho vários reports de pessoas que realmente são maltratadas na porta da discoteca e tenho estado mais em cima dessa situação. Mas os maus tratos não são só no Docks. Os maus tratos são em ‘n’ discotecas em Portugal mas, infelizmente, quando se trata entre nós, africanos, a repercussão é maior. Morrem pessoas às portas de discotecas que ninguém aborda [o nome dessas discotecas] mas se acontecer uma morte à porta do Docks todos os noticiários vão falar”, disse Sing, um dos poucos proprietários pretos em Lisboa.

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Para o portal, ele também afirma que conversou com a Preta Rara para pedir desculpas pelo ocorrido e contou que o estabelecimento não compactua com o racismo, já que ele é africano e “os clientes que frequentam a casa são na sua maioria africanos“.

Em sua defesa, Sing disse que há interpretação errada sobre o que seria “barrar a entrada”. “O Docks não barra ninguém até porque em Portugal não existe a lei do direito de admissão. O que existe é um consumo mínimo que é a única maneira que as pessoas têm de dizer ‘não pode entrar’. Todas as pessoas a quem é vetada a entrada no Docks, essas pessoas são convidadas a pagar o consumo mínimo de 1500 euros e as pessoas revoltam-se com isso. (…) Inclusive, a situação que aconteceu no fim de semana, foi-lhes cobrado os 1500 euros. Claramente que o segurança pode ter tido uma atitude negativa e é aí que tive a humildade de pedir-lhes desculpa”. Quanto ao ‘consumo mínimo’ é de lei. A pessoa que estiver disposta a pagar, vai entrar”.

Em entrevista, o proprietário agradeceu Preta Rara e Erica Malunguinho por terem postado o ocorrido nas redes sociais. “De alguma maneira, alerta-nos para uma situação que pode ser muito mais grave do que parece. E se há algo que fica claro é que o Docks não é uma discoteca racista, se existe alguém com uma atitude racista, essa pessoa não deve fazer parte da equipe do Docks. É aí que tem de haver mudança. O segundo passo é pedir desculpas às pessoas que de alguma maneira se sentiram marginalizadas na porta do Docks”.

Entretanto, nas redes sociais da Bantumen, diversas pessoas negras rebateram a fala do Sing, reforçando que o estabelecimento não respeita os clientes negros. “Essa discoteca é exatamente como as moças descreveram. Brancos entram fácil, os blacks só se forem conhecidos deles. O negro fatiga o próprio negro…essa é grande conquista europeia”, escreveu um internauta. 

Já uma mulher, relatou como é o tratamento no Docks e em outros clubes de Lisboa. “Aos negros é exigido um over look (quase casamento style), os segurança são arrogantes, machistas, o colorismo é gritante na escolha de quem entra, e as pessoas brancas tem free pass. Um espaço que devia ser o nosso save space não é. Muitas vezes é um espaço que serve para humilhar e rebaixar pessoas negras”, desabafou.

Um empresário da African Lisbon Tour, guia de turismo negro de Lisboa, disse que nunca colocou o Docks na lista de recomendações para os clientes devido suas experiências. “Sendo o proprietário, não basta falar, é agir”.

Entenda o caso

No último sábado, 8 de julho, Preta e Erica foram impedidas de entrar no The Docks Club, e elas relataram tudo nas redes sociais, na segunda-feira. “O segurança foi totalmente violento falando que não estávamos vestidas [de forma] adequada e ele empurrou a Erica, falando que nós brasileiras somos fáceis e que só entraríamos se pagasse €1500”, escreveu Preta.

No mesmo dia em que ela foram barradas, mulheres brancas usando roupas curtas foram vistas dançando no local e um seguidor enviou o vídeo para a artista.

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