As reflexões causadas pelo final de um ano muitas vezes desencadeiam o estabelecimento de metas e compromissos para o próximo ano: as conhecidas promessas de Ano Novo. No topo da lista, costumam estar: melhorar a alimentação, incluir mais atividade física na rotina e dar mais atenção a algumas áreas negligenciadas da vida. Mas fica aquela dúvida: fazer compromissos para o ano que ainda não chegou é uma prática positiva ou uma porta aberta para as frustrações?
Para entender melhor sobre o assunto, o MUNDO NEGRO conversou com a psicóloga Uila Gabriela Cardoso e o psícólogo Vinícius Dias, para entender as melhores formas de lidar com essas promessas e qual é o papel que as resoluções de Ano Novo desempenham no psicológico das pessoas.
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“Cada pessoa lida de formas muito diferentes com o que a gente idealiza, com o que promete para o outro e para si mesmo. De modo geral, eu acredito que isso pode ser uma faca de dois gumes, algo que pode ajudar algumas pessoas e trazer uma carga de expectativa que se não for bem gerenciada, pode prejudicar”, salienta Uila.
Para Vinícius, a tendência é que a prática se configure de uma forma positiva. “Para além da pessoa criar significados de melhoria pra sua vida, é um movimento coletivo, de sociedade, gerando uma coesão grupal de melhoria. Estamos todos envolvidos na crença que a virada do ano trará coisas novas, ressignificações, e isso psicologicamente é muito bom”, avalia.
Quando se fala em promessa de Ano Novo, um dos clichês são as promessas não cumpridas, que podem gerar frustração de várias maneiras. Será que existe alguma forma de evitar se frustrar? A unanimidade é de que é impossível evitar a frustração.
“Não é possível evitar, mas tem formas de se acolher melhor. Metas superdimensionadas, quanto mais afastadas da realidade particular podem ser mais passíveis de frustrações. É melhor ter metas menores, mais alinhadas à rotina da pessoa e, a partir delas, ir ampliando o foco, aprofundando sua significância. Se queres disputar um triathlon, é bom refletir sobre quando começará uma caminhada de maneira constante”, destaca Vinícius.
“Se a gente tivesse uma receita de como não se frustrar com alguma expectativa, isso seria imensamente procurado no mundo em que a gente vive. A forma como o mundo se estrturua é baseada na concretização do que a gente idealiza e deseja. Estamos muito acostumados a se frustrar com o que não corresponde às nossas expectativas”, sinaliza Uila. “À medida em que conseguimos entender e ser um pouco mais honestos com os nossos ideais, a gente consegue olhar pras nossas frustrações de uma forma mais realista. Questionar por que essa idealização existe e por que apostamos tanto em uma idealização talvez seja um caminho importante para entender como lidamos com frustrações, de modo geral”, avalia ela.
Tão importante quanto ter algum planejamento e estabelecer metas, é entender que nem tudo está no nosso controle, cotidiano. Mas como equilibrar esse planejamento e o sentimento de que nem tudo está sob controle?
Para Vinícius Dias, o entendimento de que vivemos em sociedade é a chave. “As outras pessoas com quem convivemos também têm seus desejos, seus sonhos, e eles geralmente tem mais chances de se concretizar em contato com os outros, alinhando as expectativas. A pandemia é um bom exemplo disso. Tínhamos sonhos de viajar, de curtir passeios e tudo foi ressignificado. Precisou ser ressignificado, inclusive, pra não morrermos. A esperança, o sonho não acabou, ele apenas sofreu modificações para o bem coletivo”, exemplifica.
“A sensação de que a gente controla as coisas e de que teremos garantias se nos planejarmos, é uma fantasia que a dinâmica colonial nos ensinou”, diz Uila. “Essa historinha que nos contaram nos ajuda a lidar com o desespero e o desamparo que dá quando a gente percebe que a não estamos no controle das situações”. A psicóloga diz que, no entanto, ter planejamento é importante, mas a imprevisibilidade da vida precisa ser contabilizada. “Lidar com esse desespero causa uma angústia, mas é a partir disso, que vamos escolhendo caminhos mais possíveis de ser vivenciados”, conclui.
Chegando ao final de mais um ano com a presença da pandemia de covid-19 como uma realidade, o cuidado com a saúde mental e o fortalecimento de laços com grupos e coletivos, pode dar uma boa resolução de Ano Novo.
“A dica que eu posso dar, é conversar com as pessoas ao redor, construir uma comunidade com a qual você consiga trocar sobre o que você está precisando. Pedir ajuda e ter uma rede de apoio, pode ser o que mais nos ajude a lidar com a vida, de modo geral”, sugere Uila.
Para Vinícius, o caminho do cuidado com a própria saúde mental é uma boa escolha para todos os anos. “Foi um ano muito complicado, que ao mesmo tempo elucidou a necessidade de manutenção da saúde mental. Digo isso enquanto psicólogo, mas sei que existem inúmeras maneiras de buscar saúde mental. Vale tudo. De diminuição do tempo nas redes sociais até se permitir dormir mais, está valendo. Cada pessoa irá perceber o que lhe faz bem, e caso tenha dificuldades de perceber isso, penso que valha a busca por ajuda profissional”, finaliza.
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