Quando a ancestralidade e o nós por nós é a chave para continuar a caminhada dos estudos em meio à incerteza da pandemia
Por Camila da Silva
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Mesmo o perfil dos estudantes do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) sendo majoritariamente negro, somando 3 milhões (59,1%) dos estudantes que prestaram o exame no ano passado, as referências e o apagamento do conhecimento científico e ancestral entre a população preta ainda persiste, ao procurar no Google “vestibulandos para seguir no instagram”, os primeiros rostos a aparecerem são os brancos. Em um dos portais que listam 20 contas de estudantes e professores como referência, apenas 25% são negros, ou seja, 5 entre os 20 perfis.
Essa invisibilidade, chamada tecnicamente de Epistemicídio, fazem com que as referências dentre diversos temas como a Educação sejam majoritariamente brancas, do currículo das escolas às universidades, quase que de forma natural, a morte começa pelo apagamento histórico. Nesse momento, no qual, o ENEM foi adiado e as respostas governamentais para os cuidados com alunos e professores são quase nulas, pensar no futuro se torna ainda mais difícil. Pensando nisso a iniciativa Pretos no ENEM já fez a ponte entre 4 mil voluntários e 5 mil alunos que ainda não puderam pagar a taxa de inscrição (R$85) do exame.
Além disso, elencamos aqui sete perfis, entre os studygrams de vestibulandos, universitários e profissionais dos cursos de graduação mais procurados pelos estudantes em conjunto com referências das histórias pretas dessas profissões.
‘Pedagogia e Letras’
Daniella Kelly – @estudaeguria
Compartilhando resumos, dicas de estudo e as angústias de ser vestibulanda, a estudante natural de Olinda (PE) já soma 12 mil seguidores em seu instagram de estudos.
Millena Correia – @alem.deletras
De Campo Grande, zona oeste do Rio de Janeiro, Millena, agora estudante de Letras, compartilhou sua jornada como vestibulanda e continua como universitária, pautando em seu perfil alguns temas recorrentes do ENEM e dicas de gramática.
Os dados mais recentes do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) sobre o perfil dos professores das redes estaduais e municipais no Brasil mostram que cerca de 1 milhão dos profissionais atuantes são negros, sendo 44% do total e ainda, de forma mais evidente, as mulheres negras, sendo 83% desses profissionais. O mesmo nem sempre se revela quando olhamos para o Ensino Superior, no entanto, temos as referências que vêm de longe, Katemari Diogo da Rocha, professora doutora em Ciências pela Columbia University in the City of New York (EUA), produziu em 2015 a pesquisa “Contando nossa história: Negras e Negros nas Ciências, tecnologias e engenharias no Brasil”, com o intuito de criar um banco de histórias protagonizadas por cientistas negros brasileiros. E no documentário Flores de Baobá, da cineasta Gabriela Watson Aurazo, encontramos paralelos do cotidiano de educadoras negras no Brasil e nos Estados Unidos.
‘Medicina’
Já no curso mais concorrido e procurado pelos estudantes, temos Maria Odília Teixeira, baiana de São Félix do Paraguaçu se formando em 15 de dezembro de 1909, inovando na sua tese inaugural na pesquisa de tratamento da cirrose, enquanto as sete médicas anteriores debruçaram-se sobre tocoginecologia ou pediatria.
Bruna Azevedo dos Santos – @pretanamedicina
O protagonismo dessa estudante à rendeu, além de inspiração para outros estudantes, o reconhecimento como embaixadora do Descomplica, um dos maiores cursinhos pré-vestibular online e também do aplicativo de foco para estudos e outras atividades, o Flipd-The Digital. Além do ENEM, ela também compartilha dicas para as provas regionais de SP.
Jenyfer Lopes – @jenystudy
Jenyfer, também é embaixadora do Descomplica, além do ENEM, compartilha seus estudos para o vestibular da Universidade de Brasília (UnB). Ela está no segundo período de Biologia no Instituto Federal de Brasília e concilia seus afazeres do instituto e os pessoais com o estudo para o vestibular. No seu perfil também disponibilizou cupons de desconto para outros vestibulandos estudarem online e modelos de cronograma para organização.
Danrley de Freitas – @danrleydefreitas
Estudante de medicina de Viçosa (MG), Danrley compartilha as especificidades do curso no seu IG e também no seu canal do youtube, com oficinas de redação, dicas e macetes na área de exatas, além de apostilas em PDF para outros estudantes.
‘Direito’
Bianca Nogueira – @biajuridica
Nem todo mundo tem o privilégio de estudar e não trabalhar, certo?
É essa a rotina que a paulista Bianca Nogueira compartilha em seu instagram, como conseguir o tão esperado estágio mas mesmo assim não pegar DP na faculdade. Além dos estudos universitários ela disponibilizou em um drive (que está nos destaques do seu instagram), material de estudo de línguas que ela mesma usa para aprender de forma autônoma inglês e espanhol.
Mari – @direitostudies
Entre leituras, estágio e provas da faculdade, Mari mostra, agora já no final de sua graduação, a sua rotina na UFRJ, também em conjunto com outras estudantes debatem assuntos como em “Os caminhos das universidades públicas”, debatido com Luana Gomes da UFG, do @foco.nodireito.
No direito brasileiro Esperança Garcia, mulher negra escravizada é a primeira advogada piauiense, que foi reconhecida, em 2017, pela OAB/PI. Em 1770, ela escreveu uma petição ao governador da capitania em que denunciava as situações de violências pelas quais ela, seus filhos e suas companheiras passavam e pedia providências. Dia 06 de setembro, data de escrita da carta, foi instituído o Dia Estadual da Consciência Negra, no Piauí, em 1999. Em 2016, foi criada a Pós-Graduação em Direitos Humanos em sua homenagem, em Teresina/PI.
Sendo a primeira, abre portas para muitas em outras gerações, como a da advogada Lisiane Lemos (@lisianelemos), 30, de Pelotas, interior do Rio Grande do Sul, que foi reconhecida em 2018, premiadas na categoria empreendedorismo do Most Influential People of Africa Descent (MIPAD), da ONU (Organização das Nações Unidas) como um das jovens negras mais influentes do mundo. Hoje é conselheira da ONU e Gerente de Negócios da Google
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