Ao longo dos últimos anos, os grandes estúdios em Hollywood passaram a dar mais espaço para protagonistas pretos em suas produções. Ainda que de forma lenta e em proporção menor quando comparado a atual presença de indivíduos brancos em papéis de destaque, a representatividade negra passou a incomodar um grupo considerável de pessoas ao redor do mundo. A última jornada de problemas e críticas descabidas em grande escala ocorreu após o anúncio dos elfos e anões negros na série ‘Senhor dos Anéis: Os Anéis de Poder’, da Prime Video. Diversos comentários com teores racistas e preconceituosos em diferentes níveis invadiram as redes e os pontos de acesso da plataforma. Quando esse tipo de debate vem à tona, os comentários são sempre os mesmos, ‘não existem elfos negros’ ou ainda ‘não existem sereias negras’, como ocorreu em 2019, quando a atriz Halle Bailey foi escalada para viver a princesa da Disney em ‘A Pequena Sereia’.
Já partimos do pressuposto lógico de que sereias e elfos não existem, mas eles cumprem enquanto apoio midiático, um local de entretenimento, de fantasia, como o próprio gênero define. A verdade é que durante muitas décadas, o protagonismo branco se fez presente em todos os espaços de Hollywood. Não era comum existir produções em grande escala como ‘Pantera Negra’, ‘Homem-Aranha’, ‘Moana’, ou ainda, o mais recente projeto da Disney, ‘Encanto’, que introduz uma família com personagens diversos e em certos momentos, muito próximos da realidade humana, seja por suas feições ou aparências. Aos olhos dos anos 2000, por exemplo, uma produção desse tipo jamais teria sido lançada com um budget tão alto.
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A verdade em torno de Hollywood e demais produções internacionais, é que o protagonismo negro se tornou forte entre os consumidores, se tornou um mercado rentável e com grandes cifras ao redor do mundo. Antes de ser lançado como filme, ‘Pantera Negra’ enfrentou sérias resistências dentro do mercado da Marvel e dos críticos. Muitos acreditavam que a obra não teria apego popular, mas a verdade é que a franquia se tornou um verdadeiro fenômeno, arrecadando mais de U$ 1,3 bilhão em bilheteria e firmando diversos recordes pelo mundo.
Essa representatividade em torno da nossa existência incomoda porque o sistema em que ela está inserida é racista, uma resposta simples, básica, mas verdadeira. Não existe outra constatação ou explicação. Tal representatividade se faz importante pelo simples e singelo fato de que nós existimos enquanto pessoas pretas e merecemos ver nossas histórias de grandeza, felicidade e fantasia sendo contadas nas telas.
Enquanto comunidade, precisamos sim, garantir que as vozes negras sejam devidamente valorizadas, fato que ainda é um ponto cego da indústria. Precisamos acreditar no poder da representatividade e no poder da transformação enquanto consumidores das artes e do entretenimento. Questionar a falta de personagens ou pessoas negras em determinados espaços é uma forma de observar – e em muitos casos se indignar – com o apagamento racial em torno das produções do cinema e da TV.
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